terça-feira, 13 de outubro de 2009

A queda do reinado

No final do tópico de apresentação referi que ia seguir de perto o desfecho das autárquicas com interesse, pois pressagiava que alguma mudança pudesse vir a acontecer. Premonição certeira. Com efeito, no concelho de Barcelos aconteceu uma das maiores surpresas da noite eleitoral (menos para quem vive no concelho e anda atento): a queda do já longo (e penoso) consulado do Dr. Reis. O fim desta monarquia (ou melhor dito reinado) foi recebido com surpresa e foi celebrado com enorme festa e satisfação por muitos opositores que reclamaram a chegada do 25 de Abril a Barcelos. Contudo havia vários indícios de tal desfecho. Apesar de ser uma eleição diferente, o resultado obtido nas legislativas 15 dias antes revelou um quase empate entre o PSD e o PS, o que não deixou de ser surpreendente tendo em conta o desgaste com que o actual Governo se apresentou ao eleitorado, acrescido pela natureza historicamente conservadora do concelho. Em segundo lugar, havia que contar com o histórico das eleições autárquicas, onde o PSD perdeu sistematicamente nas freguesias urbanas, onde se concentra um importante número de eleitores, devido a um evidente descontentamento com as políticas seguidas na cidade. O sustento político do Dr. Reis advinha-lhe das freguesias mais rurais e periféricas do concelho, tradicionalmente mais conservadoras e menos exigentes, onde não era preciso trabalhar muito para fidelizar os votos. A própria campanha eleitoral foi ruidosa como sempre, mas pobre de ideias e de conteúdos. Muitas das mensagens roçaram a contradição (mais segurança social, mais emprego, melhor ambiente, etc.). Então quem esteve na autarquia até agora? E porque não tomaram antes essas medidas? Por falta de tempo não foi certamente. Em terceiro lugar, as políticas seguidas ao longo destas décadas, com o avolumar de equívocos e de más decisões ao longo dos últimos anos. A escandalosa concessão das águas e do saneamento a uma empresa privada (que todos iremos pagar ao longo dos próximos anos) foi o corolário do desgoverno deste executivo, onde se incluem outros erros como a má gestão urbanística, a falta de uma política de transportes, de uma política de defesa e valorização ambiental, etc. E, por último, a postura sobranceira e arrogante com que o executivo e o partido sempre tratou os opositores, menosprezando o seu contributo. A erosão política foi lenta, mas este reinado um dia teria que acabar. Porém deixa-nos um legado pesado, onde teremos de pagar no futuro muitas decisões erradas que foram tomadas ao longo do tempo. O Dr. Reis teria feito um bom serviço se tivesse deixado a autarquia há mais tempo. Por uma ocasião ainda se aventurou para fora, mas não se deu bem com os ares de Estrasburgo e regressou como o filho pródigo. E agora ao fim de tantos anos sai pela porta pequena, vergado por uma derrota eleitoral, que deve ter tido um travo muito amargo, inclusivamente para aqueles que andaram a festejar as vitórias para as Assembleias de Freguesia pouco antes de se conhecer esta boa nova. Terá agora humildade suficiente para assumir o cargo de vereador? O tempo o dirá.

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