terça-feira, 31 de maio de 2016

O arco na Festa das Cruzes

Ao fim de muitos, muitos anos (tantos que a memória já nem enxerga qual foi a última vez), a freguesia de Palme apareceu representada nos arcos de romaria da Festa das Cruzes. Estes arcos que se encontram dispostos em redor do campo da feira, na cidade de Barcelos, têm por objetivo representar a identidade e as tradições de cada uma das freguesias que compõem o município. A diversidade dos arcos é grande, considerando os materiais, o tamanho e os elementos representados. Mas normalmente aparecem engalanados com elementos patrimoniais das freguesias, por peças de artesanato e pelos santos padroeiros. A Câmara de Barcelos dá, inclusivamente, apoios às freguesias para a construção e transporte dos arcos até à cidade. Alinhados em redor do campo da feira como uma muralha, os arcos despertam a curiosidade de muitos, principalmente dos forasteiros e não é raro verem-se pessoas a fotografar ou a tirar selfies juntos aos arcos. Mas nem todas das antigas 89 freguesias estão representadas. Algumas delas sempre tiveram o seu arco na Festa das Cruzes, enquanto outras andam arredadas destas lides há muito tempo, como era o caso de Palme.

Para Palme, o jejum terminou este ano e o arco da freguesia foi colocado defronte à Avenida dos Combatentes onde se ergue, pomposo, entre os arcos de Oliveira e de Aldreu. Está construído em madeira de pinheiro aparelhada, tem 4 pilares centrais e um fuste central suspenso, que se ergue da estrutura, sendo encimado pela cruz de Cristo. A estrutura está apoiada em diversas travessas horizontais que ligam os 5 pilares. No topo, entre os fustes central e os laterais surgem dois losangos decorados com fitas com as cores da freguesia (amarelo e azul). Nos retângulos centrais formados pela estrutura foram colocadas duas películas alusivas à freguesia: a da esquerda é a imagem de Santo André, a da direita corresponde ao brasão da freguesia. Sob estas imagens surge a placa identificadora da freguesia, com as letras esculpidas a fogo na madeira. Entre os pilares centrais surgem diversas estruturas em X, que são alusivas ao símbolo do brasão da freguesia que, por sua vez, representa a cruz em X em que Santo André foi martirizado. No entanto, o elemento que mais ressalta à vista são as gamelas de madeira, que foram dispostas em U à volta das figuras e que rematam os pilares centrais. Como todos sabem, as gamelas são a peça de artesanato mais representativa da freguesia, havendo ainda pessoas na terra que trabalham nesta arte. Talvez muitos não saibam mas Palme não é a única freguesia com tradições neste artesanato na região do vale do Neiva, mas a discussão deste assunto vai ficar para depois. Segue-se que o arco está decorado com 19 gamelas, que condizem muito bem com a estrutura, pois são feitas a partir do mesmo material (pinho). Por cima das figuras centrais, estão também alguns utensílios utilizados na produção das gamelas: um machado, um serrão de corda para cortar ao comprido os rolos de pinho, e as enxós para escavacar as peças de madeira. Por último, surge ainda a referência ao rancho das Gamelinhas de Palme, que esteve na base da execução do projeto. De uma forma geral, o arco é elegante, sóbrio, gracioso e dignifica bem a freguesia. Talvez só faltasse algum elemento alusivo à origem do nome da nossa terra, que vem de “palmeira”. Mas isto trata-se apenas de um pormenor, de questões de feitio e não de defeito. E como, ainda por cima, anda por aí uma praga estuporada de escaravelhos a dar cabo das palmeiras, até se percebe que a pobre da árvore esteja em declínio acentuado e que já ninguém se lembra dela...

Por isso há que louvar a Junta e o Rancho pela iniciativa de, ao fim de tantos anos de esquecimento e abandono, a freguesia, as suas tradições e património estarem novamente representadas na cidade e nas festas das Cruzes através do respetivo arco de romaria. Espera-se, pois, que esta iniciativa seja para continuar nos próximos anos.


Arco de romaria de Palme na Festa das Cruzes - 2016