quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Cogumelos Amanita

Depois de semanas de chuva contínua e inclemente, o sol dos últimos dias tem sido um bálsamo. Aproveitei a oportunidade e meti pés ao caminho. Câmara às costas, manual no bolso, botas impermeáveis nos pés. O destino foram algumas áreas de pinhal e de carvalhos de Palme ainda não totalmente ocupadas pelos eucaliptos. O objetivo desta missão foi o de encontrar e fotografar cogumelos, nomeadamente do género “Amanita”, que compreende muitas espécies, algumas comestíveis, outras altamente tóxicas e até letais. A tarefa revelou-se mais simples que o inicialmente previsto e, em pouco mais de uma hora de passeio, dei de caras com quatro respeitosos amanitas.

Dei de caras com vários exemplares de Amanita muscaria. É popularmente conhecido por “mata-moscas” (muscaria vem de mosca) e é um dos cogumelos mais vistosos e bonitos, sendo repetidas vezes utilizado para ilustrar livros de contos infantis e capas de livros dedicados a cogumelos. Apresenta um chapéu vermelho (às vezes alaranjado), coberto por restos do véu branco, que se dispõem de forma mais ou menos regular pelo chapéu. As lâminas do chapéu são brancas e o pé, de cor branca também, é maciço, bulboso e está recoberto de escamas procedentes da volva. No pé encontra-se um anel bem visível, descendente. Apesar da sua beleza, este cogumelo não é comestível, pelo contrário é tóxico. Entre outras substâncias, o Amanita muscaria contém alcaloides que são responsáveis por causar efeitos alucinogénios tais como sensação de euforia, excitação, delírio, alterações da visão, para além de outros transtornos neurológicos. Ou seja, o seu consumo causa efeitos idênticos aos da embriaguez. Por isso, muitas pessoas usam este cogumelo em chás para apanharem grandes mocas, correndo o risco de sofrerem intoxicações. Devido a estas propriedades alucinogénias, este cogumelo está associado a certos ritos religiosos e pagãos desde tempos imemoriais. Por exemplo, conta-se que os pastores da Sibéria não só bebiam a água de cozer este cogumelo, como bebiam depois a própria urina, porque as propriedades excitantes do cogumelo não eram destruídas pela sua passagem pelo corpo. O motivo era o de combaterem o frio…


Colónia de Amanita muscaria


Amanita muscaria ainda em forma de ovo

Encontrei ainda alguns exemplares de Amanita rubescens, também conhecido por amanita vinoso. Esta designação deve-se ao facto deste cogumelo, principalmente o pé, adquirir uma cor avermelhada (cor de vinho) quando é cortado. Apresenta um chapéu de cor acastanhada, contendo restos do véu sob a forma de diversas placas dispersas. As lâminas do chapéu são brancas, podendo ter tons rosados que sobressaem com a idade. O pé é robusto, com anel descendente, e termina num bolbo grosso em forma de nabo. Este cogumelo é comestível e até apreciado pelo seu sabor, mas a sua preparação obriga a alguns cuidados. Deve ser cozido durante a 15 minutos a mais de 70ºC, rejeitar-se a água da cozedura e depois confecioná-lo normalmente. O calor destrói algumas toxinas deste cogumelo que, consumido em cru ou mal confecionado, pode originar anemias.


Chapéu de Amanita rubescens

Lâminas e pé de Amanita rubescens

Durante o passeio deparei-me ainda com um exemplar de um respeitável Amanita phanterina (cogumelo pantera). É idêntico ao Amanita rubescens, mas muito mais tóxico, podendo até, em certas doses, provocar a morte. Apresenta igualmente chapéu castanho, mas mais aplanado e com a superfície algo viscosa, com placas do véu de cor branca. O pé é igualmente branco, com anel descendente, terminando numa volva branca. A principal diferença face ao Amanita rubescens reside no facto da sua carne permanecer branca depois do corte. A confusão entre estes dois amanitas pode sair cara pelo que, na dúvida, mais vale ficar pela observação e fotografia que não faz mal nenhum!...

Amanita pantherina

O quarto exemplar que encontrei foi o Amanita gemmata, que deve o seu nome à bonita cor do seu chapéu (amarelo cor de gema de ovo). O cogumelo tinha um chapéu pequeno (cerca de 8 cm), com escamas brancas do véu espalhadas na sua superfície. As lâminas eram brancas, o pé também branco, com anel descendente e volva na base. O Amanita gemmata também não é comestível dada a sua toxicidade.


Chapéu de Amanita gemmata

Lâminas e pé de Amanita gemmata

Apesar do Amanita rubescens  ser comestível mediante alguns cuidados na sua preparação, não recolhi nenhum deles. Nunca é demais relembrar que quando não se conhece ou não se tem a certeza da comestibilidade de um cogumelo, mais vale não arriscar e deixá-lo ficar no campo. Vale também a pena lembrar que algumas espécies de amanitas são mortais, como o Amanita phalloides, o Amanita verna ou o Amanita virosa. Mas estas temerosas espécies não as encontrei durante o passeio. Talvez o solo de Palme esteja abençoado e não permita o crescimento de espécies ruins que ponham em perigo os seus pacíficos habitantes...