terça-feira, 5 de agosto de 2014

A vespa asiática em Palme

Em Palme, a apicultura não é uma atividade muito importante, mas há por aí quem tenha algumas colmeias e também quem perceba do ofício. Aqueles apicultores que não se lembram das suas abelhas apenas na altura da cresta sabem que têm que ter alguns cuidados e de vigiar as colmeias. As doenças mais comuns são conhecidas há muito: a varroa, um ácaro que rói as asas das abelhas, impedindo-as de voar; o piolho da abelha, que se aloja no seu dorso e lhes rouba descaradamente a alimentação; a traça da cera, um parasita que ataca as colmeias mais frágeis, esfarelando as placas de cera onde as abelhas fazem criação e depositam o mel; a micose, um fungo que ataca a criação, causando a sua calcificação; e a mais temível de todas, a loque europeia e, sobretudo, a loque americana, uma bactéria altamente contagiosa, que impede o nascimento da criação, causando a sua podridão, sendo o fogo o único remédio eficaz no seu combate.

Pois bem se este rol de doenças já era mais que suficiente para afligir o apicultor, agora anda por aí mais uma praga estuporada a destruir as colmeias: a vespa asiática (Vespa velutina nigrithorax). Julga-se que esta vespa foi transportada acidentalmente em navios de madeira vindos da China para França. O invasor alado espalhou-se então pelo sul de França, daí passou para o norte de Espanha e depois para o Alto Minho, onde as primeiras ocorrências foram registadas em 2011. Desde então, a vespa tem-se expandido pelo Norte de Portugal e este ano chegou em força a Palme, havendo registos da sua presença em diversos outros pontos do concelho de Barcelos. 

Esta vespa distingue-se pelo seu tamanho, sendo duas a três vezes maior que as vespas comuns. Tem umas asas e pinças enormes, são mais escuras que as parentes europeias, e têm um largo anel amarelo ou alaranjado quase na extremidade do abdómen. Desgraçadamente, a vespa asiática revela um apetite insaciável pelo mel, atacando sem nó nem piedade as colmeias. A resistência oferecida pelas abelhas de pouco ou nada vale, é uma espécie de luta entre Davide e Golias. As vespas, muito mais corpulentas e com poderosas mandíbulas, decepam as abelhas umas atrás das outras e, depois, saqueiam as colmeias a seu belo prazer. É uma luta desigual e um inimigo novo, com o qual as abelhas não sabem como lidar. Nem os apicultores. A única solução tem sido a colocação de armadilhas para vespas, uns recipientes com orifícios, onde se coloca xarope de groselha preta. Também há quem lhes ofereça vinho branco misturado com cerveja e açúcar, mas se a moda pega, em vez de vespas, vamos começar a ver alguns seca-adegas a rondar as colmeias...As vespas, gulosas, são atraídas pelo cheiro, entram e acabam por morrer afogadas nas armadilhas. Esta solução não é muito eficaz, pois para além de caçar poucas vespas, acaba por atrair outros insetos que caem na armadilha. A melhor solução tem sido a de localizar os favos das vespas e destruí-los com recurso a fogo. Normalmente é a Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e os bombeiros que se ocupam desta tarefa, mas a morosidade dos serviços a responder tem levado alguns destemidos da freguesia a fazer o arriscado serviço de queimar os ninhos. Aqui há tempos, um apicultor da freguesia da Várzea, desapontado com a ineficácia das armadilhas, contou-me que resolveu atar uma linha ao corpo das vespas, para assim tentar localizar o ninho onde a peste estava alojada. Foi trabalho em vão, pois as vespas, matreiras e ressabiadas, recusam-se a voar com objetos estranhos amarrados ao corpo, preferindo morrer a ter que denunciar a localização da colónia.

Em Palme, as vespas asiáticas também andam por aí aos milhares. Há umas semanas foi notícia um madeireiro da freguesia que, depois de ser atacado por vespas asiáticas, foi socorrido pelos bombeiros da Cruz Vermelha de Aldreu, tendo ido parar ao hospital inchado como um cepo. Em Goldrez já foi queimado um favo (foi motivo de notícia num jornal); na mesma zona, à face da estrada, um outro continua à espera de ser destruído; na zona da Agrela, num sótão de uma casa, também foi queimado um ninho; e, em Paranhos, foi igualmente destruído um ninho que estava numa nespereira e outro num sobreiro. Mas devem haver muitos mais ninhos espalhados pela freguesia, tal é o número de vespas que se vêem. Elas revelam um apetite insaciável e andam sempre numa grande azáfama a sorver os néctares das flores e da fruta, afastando todos os outros insetos. Caçar vespas asiáticas é já o passatempo preferido de algumas pessoas da freguesia. Com raquetes, redes ou simplesmente à paulada, matar vespas asiáticas transformou-se num hobby de muitos palmenses que depois se juntam para ver quem caçou mais vespas durante o dia. Conheço também casos de pessoas que apontam o número de vespas que matam por dia, fazendo uma espécie de registo diário da atividade...

Alguns estudiosos têm demonstrado com preocupação que a população de abelhas à escala mundial tem diminuído substancialmente nas últimas décadas. As principais causas são as atividades humanas, nomeadamente a deflorestação, a destruição dos sistemas naturais, a excessiva utilização de produtos químicos na agricultura (sobretudo de pesticidas), a poluição e as alterações climáticas. Para além de todas estas ameaças e das próprias doenças a que estão sujeitas, as abelhas têm que enfrentar mais esta praga da vespa asiática. No Minho, a situação parece estar já fora de controlo, as vespas continuam a propagar-se como um vírus, estando a dizimar as abelhas e a provocar avultados prejuízos aos apicultores. Desta forma é com alguma apreensão que nos devemos interrogar sobre o futuro da apicultura e sobre o próprio futuro das abelhas. Estarão neste momento em risco, nomeadamente na região do Minho?

Vespa asiática (1)

Vespa asiática (2)

Vespa asiática (3)

Vespa asiática (4)

Vespa asiática (5)

Vespa asiática (6)

Fragmento de ninho de vespa asiática com criação

Fragmento de ninho de vespa asiática