terça-feira, 31 de outubro de 2017

Resultados das Autárquicas 2017

No passado dia 1 de outubro tivemos as eleições autárquicas. Vamos então analisar os resultados, considerando primeiro a eleição para a Câmara Municipal de Barcelos e depois para a Junta de Freguesia de Palme.

Relativamente à Câmara, os três principais candidatos averbaram uma significativa derrota. Senão vejamos. O presidente Costa Gomes, que foi reeleito para o seu último mandato, perdeu a maioria absoluta que detinha no executivo camarário e agora para governar vai ter que celebrar acordos com os partidos da oposição. Resta saber com quem? No cômputo geral e em comparação com a eleição de 2013, Costa Gomes, o candidato oficial do PS, teve menos 2626 votos. Foi uma perda volumosa, em parte justificada pelo arrastar de problemas por resolver, como o das águas, mas sobretudo devido à guerra interna aberta em maio de 2016, com a concelhia do PS e com o seu líder, Domingos Pereira. Como prémio de consolação, Costa Gomes conseguiu manter-se à frente da Câmara, mas sai bastante debilitado da eleição. O candidato supostamente independente do BTF (Barcelos Terra de Futuro) foi outro dos perdedores da noite eleitoral. A principal motivação da candidatura de Domingos Pereira não era, certamente, conquistar a edilidade barcelense. Até porque em mais de metade das freguesias do concelho, o antigo presidente da concelhia do PS não conseguiu formar lista. O seu objetivo principal era, sem dúvida, evitar que o candidato oficial do PS ganhasse, numa atitude revanchista para com a decisão da Comissão Política Nacional do partido. Mas apesar das bases do partido estarem com o candidato independente, a maioria dos eleitores não se reviu no divisionismo criado por Domingos Pereira. Como prémio de consolação, o candidato independente pode regozijar-se de ter contribuído para retirar a maioria absoluta a Costa Gomes e de ter conquistado algumas Juntas importantes, como a de Abade de Neiva. A questão que se coloca neste momento é a de saber o que vai Domingos Pereira fazer com os milhares de votos e com os dois vereadores que elegeu: esfumar-se como aconteceu com o MIB de Manuel Marinho há quatro anos? Ou reforçar este movimento para assaltar o poder daqui a quatro anos? Também é curioso seguir os próximos passos do PS Barcelos, que ainda está povoado por pessoas próximas de Domingos Pereira: irão reaproximar-se de Costa Gomes, ou continuar num clima de guerra aberta com o presidente? Um dos grandes derrotados da noite foi Mário Constantino, o candidato da coligação PSD/CDS. Perante uma fratura exposta no PS, que se auto-dinamitou ao longo de ano e meio, o candidato do PSD/CDS cometeu a proeza de não conseguir ganhar as eleições. Pior do que isso, ainda conseguiu baixar a votação face a 2013 num concelho que, diga-se, é maioritariamente conservador. Basta para tal ver o desfecho das eleições europeias de 2014, das legislativas de 2015 e das presidenciais de 2016. O PSD e o candidato tinham tudo para ganhar, a baliza estava aberta e sem guarda-redes, mas o remate saiu ao lado. O PSD Barcelos ainda não se recompôs da terrível noite eleitoral de 2009 e, desde então, continua em cacos. Só um partido totalmente desorientado e desgovernando é que se envolveria na tragicomédia que foi a escolha do candidato à presidência da Câmara, que acabou por ser uma terceira ou quarta opção. A concelhia do partido continua em cacos e prevê-se que mais cabeças vão rolar na guilhotina laranja de Barcelos.

Relativamente aos resultados para a Junta de Palme, no último post que publiquei precisamente no dia de reflexão, deixei em aberto a possibilidade de haver uma grande surpresa, com um dos candidatos a esmagar a concorrência. Apesar de não ser esse o cenário mais previsível, pois antevia-se um “mano-a-mano” entre os candidatos do BTF e do PS, a presidente em exercício alcançou uma vitória muito expressiva, tendo ficado mais de 22 pontos percentuais à frente do cabeça de lista do BTF. Nunca nenhuma lista do PS teve em Palme uma votação tão forte e também nunca o PS ganhou a votação em Palme para a Câmara e para a Assembleia Municipal. E nunca uma lista da coligação do PSD/CDS teve uma votação tão residual. Como se explica então este resultado? É simples. Os 407 votos alcançados pela lista do PS deveram-se a uma transferência massiva de votos do PSD para a lista da presidente da Junta. Por um lado, porque a maior parte das pessoas não levou a sério a lista do PSD/CDS, que só apareceu para dizer presente, para ir jogo, para evitar a primeira falta de comparência do partido a uma eleição para a freguesia desde que há autárquicas. Mas olhando para o resultado, fica a dúvida se a estratégia escolhida foi a mais acertada…E porque votaram os eleitores laranjas na lista do PS e não no BTF? Esta questão já não é tão simples de responder, tanto mais que o cabeça de lista do movimento independente é uma figura popular e bem-vista na terra. Em primeiro, é sabido que as pessoas não gostam de divisionismos, de separações e, com razão ou não, ficou a perceção de que quem forçou o divórcio e a fratura da lista de 2013 em duas foi o BTF. Em segundo lugar, a candidata da lista do PS soube tirar partido do suposto abandono em que foi deixada pelos seus pares nos últimos tempos. Para a opinião pública, a candidata apareceu como alguém que não abandonou o leme, mostrando tenacidade e resistência no posto, honrando o compromisso assumido até ao fim. E em terceiro lugar, o livro publicado em vésperas das eleições sobre a obra feita ao longo dos últimos quatro anos, com descrições muito detalhadas sobre como foi gasto o dinheiro pela Junta anterior, deverá ter convencido muitos indecisos. Com 241 votos, o BTF alcançou, apesar de tudo, um bom resultado. O registo ficou muito acima do alcançado pelo MIB (93 votos) e ficou próximo da votação do PSD/CDS (280 votos) de há quatro anos. Porventura, os seus promotores esperariam mais, almejariam a vitória, pois a campanha correra de feição e a caravana fora bem recebida. Mas ao contrário de outras freguesias onde o BTF surpreendeu com a vitória, o eleitorado de Palme é tradicionalmente avesso à mudança. As coisas só mudaram em 2013 porque o presidente da altura atingiu o limite de mandatos e se tinha chegado a uma situação limite: ou se resgatava a freguesia do marasmo em que estava mergulhada ou se deixava repousá-la definitivamente no fundo do poço em que estava. E também em 2013 aqueles que tinham abandonado e reapareceram foram penalizados pelos eleitores. Portanto, a história não é nova…


A campanha e as eleições já lá vão, a nova Junta entretanto já tomou posse, mas as feridas causadas pela contenda vão demorar tempo a sarar, se é que alguma vez vão cicatrizar, não sendo de excluir novo duelo eleitoral daqui por quatro anos. Entretanto, é tempo de trabalhar: os vencedores no cumprimento do exigente e extenso compromisso eleitoral; os vencidos fazendo uma oposição séria, construtiva e responsável. É assim a democracia. E como disse W. Churchill, o homem ainda não foi capaz de inventar um melhor sistema de governação que este.



Resultados das autárquicas 2017 para a Assembleia de Freguesia de Palme


Resultados das autárquicas 2017 para as Assembleias de Freguesia do concelho de Barcelos