sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

As sagradas vizinhas: parte 2 (A vingança)

Não havia um dia que a Vera não prometesse vingança. De manhã, ao passar os cremes e a base no rosto ali estavam as marcas na testa e a cicatriz no nariz da mocada que a Maria de Fátima lhe dera com a caixa da sagrada família. E dizia para com ela:


- Ganda puta, que hás de mas pagar!!


Só que que esse momento ainda não se proporcionara. Com confinamentos, distanciamentos e recatos sociais, principalmente da Maria de Fátima que já não ia para nova, as vizinhas raramente se cruzavam na rua. E quando isso acontecia, mais por receio de contagiar a alma do que do canastro da moçoila, a Maria de Fátima afastava-se da vizinha. Sempre que a via, apertava o cruxifico do terço que trazia no bolso do avental ou da bata e mudava de rumo ou de passeio. A Vera olhava-a de soslaio, rosnava-lhe pragas e cuspia no chão com repugnância, como se lhe escarrasse bem no meio daquela cara chupada de beata.


Mas as coisas não estão para brincadeiras. E há menor distração, zás, a vida prega-nos uma partida. Começou por sentir-se esquisita, uns arrepios, dores de garganta, tosse, dores pelo corpo todo. Depois de feito o teste, o resultado foi claro: positivo! A Vera estava contagiada. Quando recebeu a mensagem ainda estremeceu um bocado. Mais pelos dias que tinha de passar em casa do que pelo medo da doença. Afinal quantas gripes não tivera já? Várias por ano! Bastava-lhe sair mais descascada à noite que era quase certo. Mas onde raio apanhara o vírus? É certo que em Palme está meia freguesia coronada…teria sido no café? Na florista? Na esteticista? A filha na escola? Na Junta quando foi carimbar o papel para a Segurança Social? Talvez. Ou teria sido as três noites que passou enroscada com o Berto. Pois se calhar até foi ele que lhe trouxe a bicheza da Espanha e apegou-lha. Mas deixá-lo, ele pagava bem e enchia-a de presentes. E enquanto pensava nisso olhava embevecida para a pedra do anel de ouro que o Berto lhe deixara na mesinha de cabeceira. Mas agora tinha que gramar com a espiga de passar uma semana em casa a secar. E foi num desses dias de retiro forçado que a vingança se lhe tornou mais clara: infetar o raio da velha!


A Vera sabia que a Maria de Fátima não faltava à missa. E que da igreja, vinha direta como uma flecha para casa. Esse intervalo de tempo era o momento perfeito para lhe fazer a cama. No sábado pôs o relógio a despertar para poder estar acordada no domingo àquela hora da madrugada a que a missa decorria. E assim foi, pelas 10H saiu pé ante pé de casa enrolada no seu robe amarelo e dirigiu-se à porta da vizinha. Tudo permanecia numa quietude celestial. Então, com grandes roncos, fungadelas e assoadelas, despejou os fluídos das fossas nasais e das vias respiratórias no lenço e besuntou parcimoniosamente a maçaneta do portão da vizinha de ranhos e mucos pestilentos. Pouco depois, ao abrir o portão de casa, a Maria de Fátima ainda achou o manípulo pegajoso e húmido e murmurou:


- O senhor me perdoe, mas este tempo de inverno até já mete nojo! Sempre tudo a escorrer…


A Vera, que a espiava da janela do quarto, é que ficou radiante. A velha não se ia safar. E estava certa. Daí a três dias, a Maria de Fátima, carregada de tosse e febre e com muita falta ar, caía de cama. Ao respirar fazia uma chiadeira que até se ouvia por toda a rua Hilário Cachada.

A Vera essa estava totalmente recuperada e pronta para outra. E feliz com a sua vingança, propôs-se a ir até ao café para festejar. E foi aí que a Isabel, a vizinha do seu lado, a interpelou inesperadamente:


- Ai mulher, o que tu foste fazer à Fatinha e ao desgraçado do ti Januário?!


(Continua)


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

A desfolhada

No calendário rural, setembro e outubro são meses de colheitas. A este respeito, li há pouco num site de um canal de TV regional que as desfolhadas são “um ritual tão antigo quanto a civilização mediterrânica”. O pseudo-jornalista que escreveu esta enormidade precisava de levar com uma espiga de milho na carola, pois parece ignorar que o milho foi trazido da América na época dos descobrimentos estando, portanto, longe de ser uma cultura tão antiga quanto a civilização mediterrânica.

A própria tradição das desfolhadas está em acentuado declínio. Mesmo nos meios rurais, como em Palme, já se fazem recriações das desfolhadas, para mostrar aos mais novos e lembrar aos mais velhos o que eram as desfolhadas: a ceifa manual do milho à foicinha, o transporte em carro de tração animal, a desfolhada à noite e, por fim, a colocação da palha nas medas, que iria alimentar o gado durante o inverno. Tudo isto começam a ser brumas do passado e contam-se pelos dedos de uma mão as pessoas que ainda cultivam o milho de acordo com este processo ancestral. O trabalho afetuoso e laborioso que era feito de forma manual, mecanizou-se e brutalizou-se. As máquinas irrompem pelos terrenos dentro e destroçam tudo numa barulheira infernal, reduzindo as canas, as folhas e as espigas a um farelo indistinto. Agora todo o trabalho se faz de uma forma fria, distante, apressada, sem que haja qualquer condescendência pelas pobres plantas, que levaram meses a transformar a terra em cereal. 

Já não há mãos calosas e ásperas a deceparem as canas, a carregá-las em braçadas para os carros e a acariciarem as espigas depois de lhes remover os folhos e as barbas. E também já não há a ânsia de encontrar as espigas vermelhas (milho-rei!) para distribuir beijos e uns beliscões pelas moçoilas. E menos ainda de ver os máscaras que apareciam de surpresa (quem será?) para assustar e depois alegrar as noites das desfolhadas. A magia e o encanto do trabalho foi-se perdendo ao longo do tempo. 

E entende-se porquê. A foicinha faz calos e derreia os rins. Caminhar sobre o milho cortado causa lanhos nos pés. Acarretar o milho à braçada corta a pele, faz irritações e borbulhaços. Desfolhar o milho esfola os dedos, suja e escana as unhas. A palha não tem utilidade nenhuma: os animais aburguesados não a querem, colocada numa pilha não arde. E o próprio milho para que serve? E o pessoal para fazer a desfolhada, onde está? A vida mudou muito (para melhor aparentemente), uma criança de hoje não faz ideia do que era a vida no campo há 30 anos. Como já dizia Camões, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades…




domingo, 20 de setembro de 2020

As sagradas vizinhas: parte 1 (O confronto)

Palme é terra de gente católica apostólica romana, que segue à risca as regras da Santa Madre Igreja. E que não se deixa intimidar por nenhum viruszito, que dá umas dores de garganta, umas tossidelas secas e pouco mais. Há até quem afirme que tudo isto não passa de uma cabala para afastar as pessoas da Igreja e da lei de Deus. Ora se os cafés estão apinhados de gente, se já se fazem feiras, touradas, concertos, se até os comunistas puderam fazer a festa do Avante, porque carga de água não pode um cristão celebrar a sua fé em paz e sossego? 

Depois do temerário episódio das celebrações transmitidas por altifalante em Maio ao arrepio das diretrizes da DGS e da própria Conferência Episcopal, que trouxe a GNR ao adro da Igreja, Palme volta a mostrar a fibra de que é feita e repôs a circulação da Sagrada Família, que, diariamente, passa de mão em mão pelos vários lugares da freguesia. E o verniz estalou de novo. Uns não veem qualquer problema: a amarra de transporte da caixinha sagrada é limpa e desinfetada, que risco é que isso traz? Outros não compreendem a reposição desta tradição no início de uma segunda vaga da pandemia, pois a medida promove o contacto social e há pessoas descuidadas que se vão esquecer de desinfetar o objeto sagrado. Uns dizem que sim, outros dizem que não, uns criticam o padre, outros a fabriqueira; uns tomam conta da Sagrada Família, outros recusam-se terminantemente a recebê-la. Como é bom de ver, estavam criadas as condições para a confusão. 

O sarrabulho aconteceu esta semana e envolveu duas vizinhas: a Maria de Fátima, um portento de bons exemplos, que conta no currículo com seis dos sete Sacramentos da Santa Madre Igreja (Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Unção e Matrimónio), vinte anos a catequizar as crianças da terra e dez anos de formação de cursos matrimoniais; e a Vera, uma alma de pouca virtude, de comportamentos algo desviantes da boa moral católica e que só é vista na igreja de longe a longe. Por isso, as vizinhas não se davam por aí além. O diálogo e as cenas ocorridas descrevem-se de seguida textualmente tal como sucederam. Então, foi assim:

Ao final da tarde, a Maria de Fátima depois de tocar insistentemente à campainha e como ninguém lhe aparecesse, começou a dar grandes punhadas à porta e a gritar pela vizinha, o que desde logo enfureceu a Vera, que estava a fritar uns jaquinzinhos que lhe estavam a ficar colados à sertã.

- O que é que você quer? Tem a casa a arder ou quê?!

- Estou aqui à meia-hora a chamar e ninguém aparece, pareceis todos moucos. Olha trago-te aqui a Sagrada Família, é a tua vez de ficares com ela…

- O quê? Mas isso não tinha já acabado? Eu não tomo conta…vocês andam mas é a espalhar a doença a passar isso de casa em casa. Tenha juízo, até parece impossível numa altura destas…!

- Ó mulher, olha que eu lavei as mãos e desinfetei tudo antes de sair de casa. Não há perigo. Quem anda ao serviço de Deus não apanha doença, pelo contrário, o Menino até nos protege da bactéria!

- Já lhe disse que não e não! Não arrecebo! O que eles querem é que o pessoal meta a moedinha na ranhura, mas comigo não têm sorte. Nas outras freguesias não há nada disto, só mesmo em Palme…!

- Tu falas assim porque não tens temor nenhum de Deus, e nem queres saber da igreja para nada. Olha que exemplo dás à canalha, nem vais à missa, nem ao confesso, já praí há vinte anos que não comungas, vives como um autêntico animal. Emenda-te mulher!

- Ouça lá, que é que você tem a ver com a minha vida, com o que eu faço ou deixo de fazer? Meta-se na sua vida sua cabaneira! Você é toda santinha, sempre a bater no peito, mas roubou quanto mais pôde os seus irmãos e depois nas partilhas ainda os meteu a todos em tribunal! Que rico exemplo, não haja dúvida!

A Maria de Fátima, com a inesperada acusação, enrugou a testa, franziu o nariz e avespinhou-se:

- Olha, mas ao menos não passo a vida na cainça como tu, que és puta como uma rata. O teu home tinha uns cornos tamanhos, que nem o caixão fechava quando morreu. E agora arrecebes em casa solteiros, casados e viúvos, em tendo dinheiro, tens sempre as pernas abertas. Grande cadela que estás a dar cabo de tantos lares na freguesia e a dar tão maus exemplos a essas raparigas!

- Você fala assim por falta de peso, o ti Januário já não pode, não é?! Também coitado, depois de passar a vida a aturá-la, como é que ele havia de estar são da mioleira?!

Ao ouvir tais palavras, a Maria de Fátima sentiu uma adaga a espetar-se-lhe nas entranhas e a vista a fugir-lhe. Cega de raiva, agarrou na sagrada caixa com as duas mãos, levantou-a o mais que pôde e espetou-lha pela cabeça abaixo. A Vera, combalida da mocada, com o sobrolho e o nariz a esguichar sangue, caiu na calçada. Ao lado estava a caixa estatelada, com o vidro partido, as figuras espalhadas pelo chão e o pobre do São José sem cabeça. A Maria de Fátima sentiu um relâmpago a trespassar-lhe a alma e pressentiu que pecara mortalmente. Recolheu as figuras espalhadas na calçada e, enquanto procurava a cabeça do São José, via a sua alma a afundar-se nas chamas do fogo eterno do Inferno. A Vera de bruços no meio da calçada tentava levantar-se, quando de repente lhe entrou um cheiro forte a queimado pelas narinas ensanguentadas. E só pôde murmurar:

- Ai que lá se foram os meus jaquinzinhos!...


sábado, 4 de julho de 2020

Covid-19 Barcelos

Os dados oficiais da Covid-19 referentes ao concelho de Barcelos, em termos do número de pessoas infetadas, estão representados na figura em baixo. A curva de infetados teve um crescimento rápido até meados de maio e a partir daí parece ter estabilizado, o crescimento do número de infetados passou a ser menor. A partir de meados de junho, as novas infeções estabilizaram. Até ao dia 30 de junho houve um total de 309 pessoas a testarem positivo à Covid-19 no concelho. Os dados divulgados pela DGS revelam que não se registou qualquer nova infeção no município desde o dia 16 de junho, o que se afigura como um indicador positivo e prometedor. No entanto, ainda hoje foi noticiado que na região norte alguns hospitais, como o Hospital de São João, continuam a receber novos doentes de municípios em que a DGS não comunica novos casos. Os motivos desta descoordenação não foram explicados, mas tal facto poderá criar uma falsa sensação de que a doença está controlada, levando as pessoas a aliviarem a prevenção e, assim, a criar condições para novos contágios. 

A situação continua séria e grave. Em Portugal, como se vê com os casos das regiões de Lisboa e até do Alentejo. E por esse mundo fora continuam a bater-se diariamente recordes de novas contaminações e óbitos. No caso de Portugal, é óbvio que ao contrário do que disse o Marcelo, não houve nenhum “milagre”. A este respeito diga-se que o presidente tem tido vários lapsos infelizes ao longo da pandemia. Para além da afirmação precipitada de que Portugal fora poupado à doença por intercessão divina, não esqueçamos aquela quarentena voluntária a que ele se voluntariou no início da crise sanitária, tendo desaparecido totalmente durante 15 dias. Foi grave porque o país, atordoado com a crise repentina em que mergulhara, precisava de quem dirigisse o barco. Bem, oo menos deve ter sido bom para os seus seguranças que, finalmente, puderam descansar um pouco! E também não se confirmou o que alguns projetavam: que o vírus iria desaparecer com a chegada do verão e do calor. Pelo contrário, o vírus continua ativo e a propagar-se. Julgo que os próximos tempos irão continuar como estão. Surtos a aparecerem aqui e ali, os grupos mais vulneráveis (idosos em lares) a serem os principais alvos, comportamentos de risco e pessoas a furarem as regras, nomeadamente com festas e ajuntamentos. Mas talvez o pior esteja para vir mais lá para o final do ano, com uma possível segunda vaga da pandemia. Ninguém sabe. 

A história, por exemplo, mostra-nos que na pandemia de 1918-20, houve várias vagas, tendo sido a segunda a mais letal em Portugal. É evidente que o vírus não é o mesmo, a medicina está mais evoluída e, sobretudo, as pessoas estão mais informadas. No entanto, é um cenário provável. Resta-nos, pois, ficar atentos, vigilantes e evitar comportamentos de risco. Mas sem fazer disso uma obsessão, que nos prive de fazer o que mais gostamos!


Fonte: DGS.
Evolução do número de casos Covid-19 em Barcelos


quinta-feira, 21 de maio de 2020

A lei é para não se cumprir

Como toda a gente sabe, as missas e demais cerimónias religiosas foram suspensas por força da entrada em vigor do Estado de Emergência no passado mês de março. O decreto presidencial restringiu fortemente várias liberdades individuais, incluindo a celebração de missas. Em conformidade, no dia 13 de março, a Conferência Episcopal Portuguesa determinou a suspensão de todas as missas em Portugal, a prática de outros sacramentos e atos de culto, bem como a suspensão de catequeses e reuniões. Depois de três renovações para evitar a disseminação da pandemia, o estado de emergência terminou no início de maio. Depois de semanas de contenção e isolamento social e para evitar um desconfinamento descontrolado, a partir do início de maio foi decretado o estado de calamidade, que continua em vigor. Não vamos entrar na discussão se a medida tem fundamento legal e constitucional para restringir as liberdades individuais. Os constitucionalistas que aquilatem a questão. 

Ao abrigo do estado de calamidade, que impede ajuntamentos superiores a dez pessoas, as autoridades de saúde e o Governo gizaram um plano de desconfinamento e de abertura progressiva das atividades encerradas. Numa primeira fase, o pequeno comércio, cabeleireiros, livrarias, etc.; numa segunda fase, cafés, restaurantes, creches, escolas secundárias, etc.; e para o início de junho, a reabertura de lojas de maiores dimensões, centros comerciais, ginásios, etc. Neste plano de regresso à normalidade possível, a reposição das missas e das cerimónias religiosas está prevista para o último fim de semana de maio. As condições de reposição das missas e atos religiosos foram discutidas entre as autoridades de saúde e a Conferência Episcopal Portuguesa. Como se pode ler no site desta última, o restabelecimento das missas obedece a um conjunto alargado de condições que terão de ser verificadas. Dessa longa lista de condições inclui-se: higienização das mãos à entrada da igreja, uso obrigatório de máscara no interior da igreja, cada fiel dispor no mínimo de 4m2, o gesto da paz é suspenso, o distanciamento social é para manter na fila para a comunhão, a comunhão ministrada na boca pelo sacerdote é suspensa, etc. Excesso de zelo, dirão muitos! Talvez não. É sabido que as missas e outras cerimónias religiosas (católicas e não católicas) foram locais de contágio por Covid-19. Aqui ao lado em Espanha, um dos principais focos de transmissão de doença foi num funeral em Vitória, País Basco. Por isso e como diz o povo, cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém…

Como toda a gente sabe também, as leis foram feitas para não serem cumpridas. E por mais graves que sejam as consequências (repreensão, coima, detenção, contágio e morte até como poderá acontecer no caso de contaminação), há sempre quem queira furar e contornar as leis. Isso aplica-se em domínios tão diversos como na violação das regras de trânsito, na realização de queimas fora de época ou na própria violação da celebração de atos religiosos. É certo que a suspensão de missas é algo insólito e, provavelmente, nunca visto (não sei se tal medida foi adotada na crise da pneumónica de 1918). Mas nem todos os fins justificam todos os meios. Quanto mais não seja, pelos exemplos que se dão aos outros. O que se tem passado em Palme com a celebração de atos religiosos ao longo deste mês de maio é uma violação ao estabelecido pelas autoridades de saúde e pela própria Conferência Episcopal Portuguesa. E como se isso não bastasse, num gesto de claro desafio, as cerimónias são retransmitidas via altifalante, alto e bom som, para que todos oiçam. Esta história fez-me lembrar um maluco aqui de Palme que, a troco de um copo de Martini com cerveja, passou de mota sem capacete à frente de uma brigada da GNR! Escapou à bófia metendo-se por carreiros de cabra, de meliante passou a herói e de um trago bebeu o copázio! O desafio à autoridade e às leis sempre foi uma tentação, uma vertigem. Esta ideia de repor as cerimónias religiosas em Palme ainda por cima antecedidas por música e transmitidas por altifalante é, pois, um claro desafio às normas vigentes. Como diria o diácono Remédios, não havia necessidade! Pelo desrespeito e desafio às leis e, sobretudo, pelo exemplo dado a todos. E a consequência está à vista. Certamente por denúncia, no passado domingo, a GNR apareceu na igreja de Palme para tomar conta da ocorrência e ver o que se passava. Havia necessidade?

domingo, 10 de maio de 2020

Pitanga (Eugenia uniflora)

Foi no Mercado dos Lavradores no Funchal que me deparei com este fruto pela primeira vez. Apesar do êxtase gerado pelas bancas repletas de frutos de todas as cores e odores, aquele vistoso fruto saltou-me à vista.
- É pitanga. Não quer experimentar? Disse a vendeira a atirar o barro à parede.
- Não conheço, nunca comi…É bom?
- Uma maravilha, vai ver. Ora prove esta que está madurinha.
Com alguma desconfiança, meti o fruto vermelho-coral à boca e não havia dúvida, era mesmo bom. Ela percebeu isso pela minha expressão e procurou logo aviar o negócio.
-Eu não lhe disse?! Que porção vai querer?
Comprei uns 300 g desses frutos exóticos. E bem me arrependi, porque depois vim a descobrir que a pitanga é bastante perecível. Ficaram mais uns dias no quarto do hotel, vieram às cambalhotas dentro da mala no porão e quando chegaram a Palme estavam transformadas numa pasta avermelhada, em processo de fermentação. O que vale é que parte delas tinha-as comido logo no hotel. Da massa liquefeita de pitanga que trouxe para casa, aproveitei unicamente as sementes. Uma pena!...

A germinação das sementes foi relativamente rápida (menos de dois meses) e as plantas desenvolveram-se bem. Creio que as primeiras flores surgiram logo ao fim de dois anos. Das flores perfumadas que surgem no final do inverno, seguem-se os frutos, inicialmente verdes, depois alaranjados e, por fim, vermelhos. Se os deixarmos estar na planta ficam praticamente pretos. Os frutos lobulosos são moles, sumarentos, perfumados e com um sabor algo exótico. A mim fazem-me lembrar o sabor da tangerina. E a partir do mês de maio começam a ficar maduros (a foto a seguir foi tirada hoje). Diz a bibliografia sobre o tema que a pitanga é um fruto muito saudável, rico em antioxidantes e em vitaminas A e C. O fruto pode ser preparado de várias formas (doces, geleias, sumos), mas eu prefiro assim mesmo ao natural. Como em Palme não temos as mesmas condições naturais da Madeira, mantenho as plantas em vasos, que são devidamente acondicionados em estufa durante o Inverno. Mesmo assim, é notório que as plantas sofrem com o frio (ficam com a folhagem avermelhada e algumas folhas caem), mas logo rebentam em todo o seu esplendor na primavera. 

Uma agradável surpresa que recomendo a quem puder cultivar. Quem nunca provou, tem que experimentar!




domingo, 5 de abril de 2020

Covid-19 estatísticas por concelho (Abril 2020)

No mapa e tabela seguintes (em atualização ao longo do mês de abril) apresentam-se os valores por concelho do número de casos confirmados com Covid-19. Os dados revelam que a epidemia continua a alastrar e a crescer por todo o território nacional, embora a um ritmo não muito elevado. Mas como a base de infetados continua a aumentar, uma taxa de crescimento diária à volta de 10% significa que teremos cada vez mais casos. Ao analisar estes dados publicados no site da Direção-Geral de Saúde é preciso ter em conta dois aspetos. Em primeiro lugar, os valores divulgados referem-se apenas a casos de pessoas que deram positivo num teste realizado. Isto significa que muito provavelmente o número de infetados é muito superior ao divulgado. Em segundo lugar, os dados publicados revelam várias inconsistências, com variações diárias inexplicáveis em vários concelhos. Veja-se o caso do município do Porto, onde de 30 para 31 de março o número de casos passou de 941 para 462 (ver tabela publicada no post de março). A falta de robustez dos valores publicados, talvez devido ao facto dos dados serem fornecidos à DGS por diversas fontes, limita a capacidade de se conhecer com mais rigor a evolução da epidemia em Portugal à escala local.

Em termos globais, a 5 de abril havia um total de 11159 casos confirmados em Portugal continental e 295 óbitos. Portalegre e Castelo Branco eram as únicas capitais de distrito sem casos confirmados. A 5 de abril havia ainda 131 municípios com menos de três casos confirmados de Covid-19. A maioria destes concelhos localizava-se no interior e Alentejo. Mas alguns deles tinham já muitos casos confirmados, como Resende (45). A região Norte era de longe a mais assolada pela doença. O número de casos confirmados no Porto, Gaia, Gondomar, Maia, Matosinhos e Valongo correspondia a 32% do total nacional. Destaque ainda para o crescimento da doença em Braga, que era já o sétimo concelho com mais casos confirmados (349).


Covid-19 por concelhos a 5 de abril de 2020
Fonte: Direcção-Geral de Saúde.

De 5 para 20 de abril e, apesar das medidas de confinamento impostas, o número de casos continuou a crescer e o vírus a espalhar-se pelo país. Assim, de 681 casos em Lisboa passou-se para 1068 no Porto, que passou a ser o concelho com mais casos positivos de Covid-19. À data de 20 de abril, Vila Nova de Gaia passou a ter tantos casos como Lisboa (1060). Depois de Matosinhos, Braga passou a ser o quinto município com mais casos confirmados (856). Dos 278 concelhos localizados em Portugal continental, 201 têm pelo menos três casos positivos de doença (em 5 de abril eram 147). No cômputo geral de todos os municípios com mais de 3 casos, passou-se de um total de 8686 doentes em 5 de abril para 17172 a 20 abril. Ou seja, o número de infetados mais que duplicou em 15 dias e só nos últimos dias se nota, de facto, uma desaceleração no número de contágios um pouco por todo o país. São estes números positivos? Será que esta evolução nos permite encarar o futuro com otimismo? Será este o "milagre português" de que falava o Marcelo? Veremos.


                                                 Covid-19 por concelhos a 20 de abril de 2020
Fonte: Direcção-Geral de Saúde.




Em Barcelos, o número de casos tem vindo a aumentar também. Conforme se mostra no gráfico em baixo, apesar das medidas de contingência e do estado de emergência, o número de casos confirmados em Barcelos passou de 90 (5 de abril) para 174 (20 de abril). Ou seja, o número de doentes com Covid-19 em Barcelos quase duplicou nestas últimas duas semanas. Na freguesia de Palme não se consta ainda de nenhum caso confirmado. Embora se note alguma precaução e contenção por parte das pessoas, continua a ver-se muita gente a circular e grupos de pessoas em amena cavaqueira pelas ruas da freguesia. Tratam-se evidentemente de comportamentos de risco que podem trazer consequências para todos. Se todos cumprirmos a nossa parte será mais fácil ultrapassar o problema.

De 20 de abril para 5 de maio o número de casos confirmados no concelho de Barcelos continuou a aumentar. Depois de estabilizar nos 200 casos no final do mês de abril, o número de casos confirmados continuou a subir no início do mês de maio. No dia 5 de maio já tinham testado positivo 225 barcelences. Para continuar a acompanhar.


Evolução do número de casos de Covid-19 em Barcelos (26 de março a 5 de maio)



                                                     Fonte: Direcção-Geral de Saúde.