quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Autárquicas 2017: o amor está no ar

É público e oficial. Nas autárquicas do próximo dia 1 de outubro haverá três listas à Assembleia de Freguesia de Palme. A atual presidente da Junta recandidata-se ao cargo pelo PS; a coligação “Mais Barcelos” que agrega o PSD/CDS conseguiu in extremis formar uma lista; e a principal novidade consiste no surgimento de uma lista independente associada ao movimento “Barcelos Terra de Futuro”, liderada pelo dissidente do PS Barcelos, Dr. Domingos Pereira. A história repete-se, pois as semelhanças com o que ocorreu nas eleições de 2013 em Palme são muitas. Também nessa altura, a lista que estava na Junta dividiu-se, dando origem a uma candidatura oficial pela coligação PSD/CDS “Somos Barcelos” e a uma candidatura supostamente independente pelo MIB, apoiada pelo antigo presidente e encabeçada pela ex-secretária da Junta. O desfecho é conhecido: a divisão provocou uma repartição dos eleitores, o MIB roubou umas dezenas de votos à coligação, abrindo caminho à vitória minoritária (e inesperada) do PS em Palme. A única diferença é que nas eleições deste ano, a presidente não está em final de mandato e recandidata-se pela mesma força partidária. Mas o risco da história se repetir é grande, pois é sabido que o eleitorado de Palme é alaranjado e, apesar de neste tipo de eleições contarem mais as pessoas que os partidos, há sempre muitos que votam de cruz. O que acalenta as esperanças da lista “Mais Barcelos” regressar ao poder. Mas olhemos com mais detalhe para as listas candidatas.

A lista do PS oficial está desfalcada de alguns dos elementos principais de há quatro anos. Alguns decidiram integrar a lista independente “Palme Terra de Futuro” enquanto outros se afastaram por não concordarem com a divisão. Apesar de isso enfraquecer a lista, houve um esforço de renovação dos apoiantes, que aparecem em maior número e provenientes de quadrantes mais diversos, incluindo da área do PSD. Foi uma estratégia inteligente da cabeça de lista que assim procura remediar um problema com a apresentação de uma extensa lista de membros, alguns dos quais improváveis, que poderão ir buscar votos à direita. Tem ainda a seu favor a obra feita, o facto de ser a presidente em exercício (só em 1993 um presidente recandidato não ganhou em Palme), de concorrer pelo mesmo partido que a elegeu há quatro anos e ainda por ter sido “abandonada” pelos seus colegas da Junta, sobretudo nesta reta final do mandato. A falta de companhia dos seus pares na procissão da Senhora dos Remédios, por exemplo, foi muito notada e criticada. A desfavor e para além da concorrência direta do movimento independente que lhe vai roubar votos à esquerda (e à direita), há a salientar a juventude, a inexperiência e a falta de peso de alguns dos elementos da lista.

A lista da coligação “Mais Barcelos” (entenda-se do PSD) em condições normais e, considerando a divisão à esquerda, teria tudo para ganhar. Mas a vitória talvez não seja assim tão fácil e evidente. Inesperadamente, os pesos pesados e prováveis cabeças de lista pela coligação, por razões várias, não quiseram avançar. Nem os elementos da atual Assembleia quiseram concorrer, nem outros possíveis candidatos de renome, que tornariam a eleição num mero plebiscito, decidiram concorrer. Foi preciso o presidente da concelhia do PSD arregaçar as mangas e andar a bater pelas portas para conseguir ter uma lista pela coligação em Palme. O principal ponto a favor desta candidatura é o eleitorado ser predominantemente conservador o que lhe garante à partida um número considerável de votos. E que lhe dá algumas hipóteses de vitória. No entanto, a candidatura apresenta diversas fragilidades também. A cabeça de lista, que não é uma figura consensual, liderou a lista do MIB de há quatro anos. Para além da “troca de camisola” que não é muito bem vista, muitos PSD’s não lhe perdoam os votos que ela roubou ao partido e que impediu a vitória da coligação “Somos Barcelos” nas últimas eleições. E por retaliação é provável que votem nas listas concorrentes ou simplesmente em branco. A própria candidata tem contra si o facto de não ter assumido o cargo de membro da Assembleia de Freguesia pelo MIB, dando a entender que está disponível para umas funções (presidência da Junta), mas não para outras. E por fim tem também o problema de encabeçar uma lista órfã das principais figuras do partido de Palme, onde pontifica muita juventude e falta de pessoas com peso político.

A lista independente “Palme Terra de Futuro” é a lista dissidente da equipa que levou ao poder a atual Junta. Há por aí quem lhe chame a lista “PS 2”, pois tal como a lista do MIB de há quatro anos não tinha nada de independente, também esta não o é. E as pessoas sabem isso. Os motivos oficiais da fratura prendem-se com a amizade e com a necessidade de apoiar a candidatura do Dr. Domingos Pereira à Câmara Municipal de Barcelos. Oficiosamente fala-se de um relacionamento difícil e por vezes conflituoso, de diferentes pontos de vista entre elementos desta lista e da Junta (alguns dos quais estão em ambas). E de algum revanchismo. Daí a rutura e a divisão. Esta lista independente tem a seu favor o facto de ter sido a primeira a organizar-se e a surgir publicamente com os cartazes, com os flyers e nas redes sociais. Mas o seu principal argumento será porventura a boa imagem e a popularidade do cabeça de lista, que é visto como um benemérito que ajudou a financiar diversas obras na freguesia, que tem apoiado diversas famílias, associações e o clube da terra. Mas será isso suficiente para ganhar as eleições? A desfavor surge o facto de ter sido um dos impulsionadores da fratura da lista da atual Junta, o que leva algumas pessoas a falar de um “golpe” para derrubar a presidente. Depois há a “troca de camisola”, pois não só o cabeça de lista como diversos outros elementos estão a candidatar-se por uma força diferente da de há quatro anos; e a grande juventude da lista, monopolizada em algumas famílias, o que não permitirá ir buscar votos a setores diversos. O que esta lista será capaz de fazer é uma das grandes incógnitas desta eleição.

Um dos factos mais curiosos desta pré-campanha que já está no terreno são as mensagens e os slogans das candidaturas. Esperava-se um clima de crispação, de bate-boca aguerrido, de confrontação entre as várias forças. Nada disso. As mensagens estão a usar e a abusar do “amor”, da “paixão” e da “felicidade”. É o momento Flower Power de Palme. Que bonito! O slogan da candidatura do PS “Juntos por Palme de Alma e Coração” apela a isso mesmo, a um misto de amor platónico e carnal que todos aqueles que estão na lista nutrem pela freguesia. A mensagem do candidato independente está pejada de sentimentalismo por Palme e pelos nossos conterrâneos e usa expressões como: “nossa querida terra”, “só serei feliz se viver rodeado de pessoas felizes”, “rumo à felicidade e ao amor por todos”, “sentimento de afeto que tenho recebido por parte de muitas pessoas”, etc. Espera-se que estas mensagens de amor, ternura e carinho possam imbuir a candidatura da coligação “Mais Barcelos” que, neste espírito, poderia adotar slogans como “Mais Amor para Palme” ou “Amamos Mais Palme”…Que tal, hem? Ficam as sugestões. Se a campanha seguir nesta linha de Peace and Love, a discussão num eventual debate a três poderá ser qualquer coisa assim:
- Ó senhor candidato, todos nós sabemos que você ama Palme, mas eu estou completamente apaixonada, eu dava a minha vida por esta terra. O meu coração bate aceleradamente por Palme e ao longo destes quatro anos tudo o que fiz foi por amor a Palme!
-Ó senhora doutora, antes de você nascer já eu amava esta terra e esta gente. E não há maior prova de amor do que ter vindo para cá morar, foi coup de foudre! Se não amasse tanto esta terra não teria enterrado aqui tanto dinheiro do meu bolso…
- Desculpem senhores candidatos, mas eu sou a que mais amor tenho por esta terra. Estes últimos quatro anos de separação encheram-me de saudade e de sofrimento. Por isso regresso por uma coligação diferente em nome do meu eterno amor por Palme!