terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O sítio da Junta de Freguesia de Palme, uma pobreza franciscana

Uma “pobreza franciscana”! Foi esta a ideia que me assaltou quando visitei pela primeira vez o sítio da Junta de Freguesia de Palme (JFP). No princípio do século XIII, o filho de um rico comerciante italiano, que viria a ficar conhecido por S. Francisco de Assis, fundou uma ordem religiosa que pugnava pela humildade, pelo desprendimento dos bens materiais e pela pobreza à imagem do exemplo da vida de Cristo. Estes ideais contrastavam com a opulência e com a prepotência com que o papado dirigia a Igreja, razão pela qual muitos dos seguidores desta ordem e de outras afins foram perseguidos e declarados heréticos. A utilização da expressão “pobreza franciscana” para caracterizar o sítio da JFP parece-me adequada, tendo em conta a escassez de informação e de funcionalidades e até pela grande componente de conteúdos religiosos que surgem. Mas vamos por partes.

O sítio da JFP (http://www.jf-palme.pt/) surge com muitos anos de atraso em relação às freguesias vizinhas (Aldreu e Feitos por exemplo) e procura “promover uma maior aproximação e envolvimento entre a população e a autarquia” como é referido na mensagem telegráfica do presidente. A disponibilização do sítio é uma medida positiva desde que permita a prestação de informações à generalidade das pessoas que o consultem e que possibilite a realização de determinadas tarefas burocráticas e administrativas, nomeadamente aos que residem na freguesia. Ora, na sua forma actual, o sítio não só não apresenta qualquer funcionalidade, como presta poucas informações e destas, algumas delas são incorrectas ou contém imprecisões. E mais grave do que isso, apresenta erros ortográficos, sinal de que o sítio foi construído “em cima do joelho”. O erro mais grosseiro aparece bem destacado e em letras gordas no menu relativo à heráldica (está “hiráldica”), dando pois uma triste imagem da freguesia aos internautas que devem pensar e, com razão, que “estes gajos nem escrever sabem”!... Depois, as informações disponibilizadas sobre a freguesia são muito escassas e centradas em aspectos específicos: património religioso, festas, artesanato. Nada é dito sobre actividades económicas, população, património natural, geografia, etc. Os breves apontamentos históricos são indignos desse nome e da ancestral presença humana nesta terra que remonta, pelo menos, ao Megalítico. Alguns factos históricos fundamentais são omitidos no relato. Por exemplo, que a actual freguesia de Palme resulta da fusão das freguesias de Stº André e de S. Salvador de Palme. E outras informações induzem o leitor em erro. Por exemplo, quando se diz que a freguesia de Palme esteve anexada à de Feitos quando, na verdade, o que sucedeu foi o contrário. Para repor alguma justiça na questão da história da freguesia proponho-me a trazer uma análise mais aprofundada e documentada num futuro tópico do blog.

Por tudo isto se pode concluir que o sítio da JFP reflecte a pobreza de ideias dos respectivos dirigentes e permite desconfiar que a sua criação não seja a de facilitar o acesso online a serviços e a informações, mas sim a de dar resposta às propostas que outros propuseram e por ser uma moda tecnológica, através da qual se cria um espaço ao qual vem depois a faltar funcionalidades, conteúdos, actualizações e manutenção. Oxalá eu me engane...







terça-feira, 9 de novembro de 2010

Vê-se pela aragem quem vai na carruagem

Os ditados são uma das formas através da qual a sabedoria popular mais se transmite de geração em geração. Muitos deles resistem à passagem do tempo e mantêm-se surpreendentemente actuais. Traduzem-se através de frases curtas e assertivas, normalmente em rima, para serem mais facilmente memoriáveis. Pode até dizer-se que os ditados populares são um elemento de identidade cultural de um povo e da sua memória colectiva, pois há ditados que estão associados a culturas e a países específicos. Há ditados para todos os gostos e com aplicações aos mais diversos contextos. Longe de dominar a sabedoria popular como o Sancho Pança, que com frequência inquietava D. Quixote por tanto recorrer aos ditados, apresento meia dúzia de exemplos onde se pode ver a forma hábil e jocosa como abordam assuntos do quotidiano:

- A cavalo dado não se olham os dentes.
- A fruta proibida é a mais apetecida.
- A galinha da vizinha é sempre melhor que a minha.
- Em caso de necessidade, casa a freira com o frade.
- Em terra de cego, quem tem um olho é rei.
- Quem canta seus males espanta.
- Quem não tem cão caça com o gato.
- Sinal no peito, mulher de respeito.
- Vão-se os gatos, folgam os ratos.
- Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades.
- Etc., etc.

Não vem este tema a propósito de algum ditado popular que seja típico da freguesia de Palme, mas sim de um ditado que me ocorre sempre que passo fora da sede da Junta e que me assaltou pela primeira vez num dos actos eleitorais que teve lugar em 2009. Refiro-me em concreto à sujidade entranhada, ao aspecto deveras encardido, quase lodoso que as escadas (bem como os respectivos muros laterais) de acesso ao edifício da sede da Junta apresentam. As desgraçadas têm aspecto de não serem esfregadas com uma vassoura ou, como está mais na moda, de não serem escaroladas por um jacto de pressão há muito tempo. Ora o caso não seria de grande monta se fosse um edifício particular. Mas o que está em causa é um edifício público, que representa o poder local. Está certo que o edifício não é uma obra-prima da arquitectura e nem tem um uso por aí além. Mas quer pela localização em face da estrada, quer por força do que representa, merecia outro tipo de tratamento e de apresentação. E mais ainda quando as pessoas vão exercer o seu direito de voto, que é uma acto solene da vida democrática de qualquer comunidade. E recordo-me que há uns tempos o cenário era ainda mais tenebroso, pois os canteiros dos dois lados da escada estavam totalmente abandalhados. Mas, mercê da dedicação de alguns voluntários (segundo consta), os canteiros estão agora mais aprumados. As escadas, porém, continuam a acumular o lixo e o pó que o vento arrasta e que as solas dos sapatos transportam, sem que as autoridades se preocupem em removê-lo. Para não destoar, uma das janelas do piso superior ostenta com orgulho um vidro partido que, há vários anos, chama a atenção de quem passa na estrada nacional. Não sei se o vidro ainda não foi substituído por representar uma despesa incomportável para o orçamento da Junta, ou se será para obter algum efeito de arejamento natural no edifício. Agora que é uma vergonha lá isso é!
Na verdade, estes dois exemplos são reveladores do enorme desleixo e desinteresse dos responsáveis da freguesia, que são incapazes de zelar pelo próprio edifício que dá guarida às funções para as quais foram eleitos e das quais se parecem ter demitido. O povo na sua grande sabedoria é que tem razão quando diz: “vê-se pela aragem quem vai na carruagem”.














quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Água não!

Um dos temas que alcançou mais fama no panorama da música popular Portuguesa (vulgo “música pimba”) foi interpretado por Toy e intitula-se “água não”. Confesso que não sou particular apreciador do artista, nem tão pouco do género da música em causa, pelo que não conheço a letra da canção com detalhe. Mas, por força de tanto ouvir o famoso refrão da cantiga, recordo-me que o artista, como bom português que se preze, enaltece as virtudes do vinho e repudia a água enquanto bebida oficial das refeições e das festas.
Ora vem isto a propósito de uma situação mais séria que se passa na nossa freguesia e que parece não preocupar ninguém, a começar na Junta de Freguesia de Palme e a acabar nos consumidores. Refiro-me ao elevado número de pessoas que continua a consumir água dos fontanários públicos que estão dispersos pela freguesia, sobretudo nos meses de Verão, quando o calor aperta e seca as gargantas. Nalguns destes fontanários chega a formar-se fila para encher os garrafões, os de mais longe trazem atrelados ou atestam as malas dos carros de garrafões e a fama das águas de Palme estende-se mesmo a outras freguesias, não sendo raro ver-se pessoas das vizinhanças a abastecerem-se nestes fontanários. Ora isto não seria problema nenhum se a potabilidade da água estivesse confirmada, seria até o testemunho da qualidade ambiental da nossa terra. Mas a questão fia mais fino. É que estas águas não têm sido analisadas (segundo consta, a última vez que foram analisadas foi ainda no tempo do presidente Justino, há 10 ou 15 anos!). O que está aqui em causa é, então, um problema de saúde pública. Pessoalmente não acredito que a água dos fontanários de Palme tenha as características químicas e, sobretudo, bacteriológicas para que possa ser considerada apta para o consumo humano. E passo a apresentar algumas razões. A nascente de muitos destes fontanários não tem sido objecto de qualquer acção de limpeza e, não raras vezes, nem se sabe bem onde é a nascente da água e em que condições esta é recolhida. Os esgotos humanos (e das explorações animais) não são tratados e são drenados para os terrenos ou para fossas sépticas, infiltrando-se e contaminando as águas subterrâneas. A utilização indiscriminada de produtos químicos, nomeadamente na agricultura, é também uma fonte de poluição das águas. Conheço muitas pessoas que já analisaram a água dos furos que têm no quintal e, em nenhum dos casos, a água era aconselhada para beber. E já repararam que se a água ficar armazenada algumas semanas num garrafão ganha lodo (sinal da presença de micróbios e bactérias).
Ora tudo isto é um assunto demasiado sério, porque estamos a falar da saúde das pessoas. Julgo que as autoridades e, em particular a Junta de Freguesia, têm revelado uma total falta de responsabilidade em deixar arrastar esta situação. Mas também não é de estranhar porque os seus elementos andam sempre muito desatentos (não sei com o que se preocupam) e o que vão fazendo é por imitação do que se faz nas freguesias vizinhas. Analisar as águas dos fontanários de Palme e sinalizar as que não forem potáveis são acções imperiosas e urgentes. É este trabalho que tem vindo a ser realizado nas freguesias vizinhas. Por isso, julgo que não é preciso colocar legendas nas figuras em baixo, qualquer um consegue descobrir qual destes dois fontanários está localizado em Palme. Entretanto, eu vou continuar a seguir o conselho do Toy: (desta) água não!!




segunda-feira, 19 de julho de 2010

Lombas e lombeiradas

No passado dia 1 de Junho, um acontecimento rocambolesco projectou a nossa freguesia para as capas dos jornais: um autocarro despistou-se numa lomba e derrubou a fachada principal de uma casa. Ora esta notícia só pode ser insólita para quem ainda não teve o prazer de passar por cima da lomba e de sentir os consequentes solavanco e lombeirada. Aquilo não é uma lomba, é uma parede que foi erguida no meio da estrada. Mas vamos primeiro à história das lombas.
A recta em causa (parece que agora se chama Avenida de Palme, ignorando o próprio conceito de avenida, mas isso fica para outra altura) funcionava, é verdade, como uma pista de alta velocidade, onde os automobilistas e principalmente os motociclistas se desafiavam para ver quem conseguia chegar à morte em primeiro lugar. Curiosamente, não me consta que nenhum destes aceleras tenha atingido o seu objectivo. Agora acidentes, chapa amolgada e sangue houve e não foi pouco. Alguns perderam mesmo a vida, mas nos atravessamentos da EN103. A circulação de pessoas, tractores, bicicletas e animais aliada às características da via (estreita e sinuosa) e ao estacionamento em plena faixa de rodagem, recomendam moderação e cautela na condução. Mas, como ninguém respeita regras nem sinalização, a circulação na EN305 era uma espécie de teste à perícia e à concentração dos condutores e dos peões. Para sanar este problema, a solução encontrada foi a de construir lombas em três locais problemáticos: junto aos entroncamentos da “escola velha”, da ponte da Aldeia e do Adães. Esta obra foi, porventura, um dos grandes emblemas da anterior (actual) Junta. O que não se compreende é como é que foi possível construir a lomba do Adães: dá ideia que pegaram numa parede e encaixaram-na ali no meio da estrada. É demasiado alta, tem as faces muito levantadas e é muita larga. Obriga os carros quase a parar e os mais rebaixados roçam mesmo na lomba. O resultado é fácil de imaginar. Nos primeiros tempos, houve dezenas de carros danificados, despistes, acidentes e feridos. Basta ver que depois da lomba a estrada está toda esburacada do embate dos veículos, manchada de óleo e frequentemente pontilhada por pedaços de ópticas, parafusos, fragmentos de carcaças e de engrenagens. Mais tarde, talvez para emendar o erro, foram colocadas luzes de sinalização no pavimento e sinais vertical. As pessoas que passam quotidianamente na estrada, habituaram-se a afrouxar sob pena de darem uma cabeçada no tejadilho e de desfazerem o veículo que não tem asas para voar. Só quem não conhece é que pode cair na ratoeira que esta lomba representa. Foi o que sucedeu com o autocarro que se despistou e embateu na casa. Parece evidente que o objectivo que levou à criação das lombas, está a gerar um efeito contrário, contribuindo para o aumento da sinistralidade. Só ainda não houve mortos, mas não faltou muito como se vê por este triste episódio.
Confesso que percebo pouco de tráfego e menos ainda de lombas. Mas despertou-me a curiosidade saber se há especificações legais para as lombas, porque acredito que a lomba do Adães seja completamente ilegal. Numa pesquisa rápida, encontrei dois documentos: um parecer do Procurador da República Adjunto João Alves (www.verbojuridico.net/doutrina/outros/lombas.html) e uma nota técnica da Associação Nacional Segurança Rodoviária (http://www.ansr.pt/Default.aspx?tabid=100).
No primeiro caso, o autor conclui que as lombas são ilegais, referindo que não encontra nenhuma lei ou mesmo norma que permita que as autoridades (Câmaras ou Juntas) instalem estas estruturas nas vias. O autor faz uma pesquisa exaustiva e inclui vários exemplos internacionais para afirmar que as lombas causam mais transtornos e incómodos que vantagens e que não contribuem decididamente para reduzir a sinistralidade, bem pelo contrário. A questão do vazio legal foi entretanto colmatada com uma nota técnica relativa à instalação e sinalização de lombas redutoras de velocidade, promovida pela ANSR. Numa leitura rápida pode-se concluir que há vários aspectos que as lombas de Palme não respeitam. Por exemplo, no ponto 4.1.4 é referido que as lombas não podem ser instaladas a uma distância inferior a 25m de pontes e de viadutos. Ora acontece que as lombas do Adães e da Aldeia estão precisamente instaladas sobre pontes, agravando a perigosidade que representam. Na alínea f) do ponto 4.1.4 é igualmente referido que as lombas não podem ser instaladas em vias sem passeios (tal sucede na lomba do Adães). E mais grave do que isso, a lomba do Adães fica em cima de uma paragem de autocarros, o que aumenta consideravelmente o risco de os utentes dos transportes públicos serem ceifados na sequência de um despiste de um condutor incauto. Em relação às dimensões, penso que as lombas, em especial a do Adães, não respeita as normas legais pois, pelo impacto que produzem, não acredito que a face vertical da lomba seja inferior a 6mm e que a sua altura máxima seja inferior a 7,5cm.
Face a tudo isto, parece evidente que as lombas instaladas na nossa freguesia são ilegais ou, pelo menos, apresentam graves ilegalidades e riscos acrescidos para a segurança dos condutores e dos peões. Os inúmeros incidentes e acidentes provocados pelas lombas são a prova desta má solução, não sendo de excluir que venham a provocar uma tragédia, como já esteve a acontecer com este caso. Pelo menos, para quem passa por lá todos os dias, as lombeiradas estão garantidas…e, na minha opinião, quem as construiu precisava também de uma boa lombeirada!!

Fachada destruída por despiste de autocarro provocado por lomba

terça-feira, 8 de junho de 2010

Contra-informação na questão da localização do aterro

Ao longo do último mês têm surgido na comunicação social diversas notícias relacionadas com a localização do aterro sanitário. Algumas das informações parecem ser contraditórias, sendo reveladoras das movimentações políticas e dos interesses das várias partes que estão por detrás de todo o processo. Contudo, na nossa terra, que continua a ser apontada por alguns como a melhor localização, pouco se tem falado e as entidades com responsabilidades parecem continuar a assobiar para o ar como se nada fosse connosco…
Com base nas notícias saídas na comunicação social, faz-se de seguida um ponto da situação, com o objectivo de clarificar a posição dos vários intervenientes.

Como é do conhecimento de todos, o novo executivo camarário tem vindo a equacionar a hipótese de instalar o aterro sanitário em Fragoso, opção que tem merecido o apoio de várias entidades, incluindo da Junta de Fragoso. Até aqui nada de novo. A polémica mais recente surgiu na última Assembleia Municipal de Viana do Castelo, quando os autarcas de Vila de Punhe e de Alvarães interrogaram o Presidente de Câmara sobre a forma como está a defender os interesses do concelho do vale do Lima, pelo facto do aterro poder ficar localizado nas proximidades destas freguesias. A grande revelação foi feita pelo Presidente de Câmara de Viana ao assegurar que o autarca de Barcelos lhe garantiu que o aterro não irá para Fragoso.
Em resposta a estas declarações, Costa Gomes veio contrariar as declarações proferidas pelo presidente da Câmara de Viana, reafirmando que a hipótese de Fragoso se mantém de pé, faltando apenas chegar a acordo com os proprietários (a empresa Mota Mineral) para a aquisição dos terrenos. Ou seja, estamos perante duas versões contraditórias, algum dos presidentes de Câmara não está a revelar todas as informações ou estará mesmo a mentir. Na verdade, o que está a suceder é que estão a decorrer dois processos de estudo de localização em simultâneo. A Câmara de Barcelos pediu um adiamento até Fevereiro (do estudo de impacto ambiental da localização em Palme) para analisar a hipótese Fragoso. Como o prazo não foi cumprido, a Resulima tomou a decisão de enviar para a Agência Portuguesa de Ambiente o estudo de impacto ambiental para ir para discussão pública das duas opções anteriores (Palme e S.Gonçalo).
A opção de localizar o aterro em Palme é um atentado ambiental e tem a oposição das populações e dos autarcas de Palme e de várias freguesias vizinhas. A opção de localizar o aterro em Fragoso é bastante mais pacífica e consensual, sendo defendida pela Junta de Fragoso e pela maior parte da população desta freguesia, pela Câmara, por deputados eleitos pelo círculo de Braga (Agostinho Lopes do PCP e Nuno Reis do PSD), e não tem oposição por parte do Ministério do Ambiente, da CCDR-N e da Direcção-Geral de Energia e Geologia. Contra a localização em Fragoso tem-se manifestado a empresa responsável pelo aterro (a Resulima), o proprietário dos terrenos (Mota Mineral), sendo ainda dúbia a posição final do Ministério da Economia, no que respeita ao encerramento definitivo da exploração mineral. A Câmara Vianense e as freguesias deste município reprovam também a localização em Fragoso, tendo inclusive já sido constituídas associações locais para lutar contra esta hipótese.
O factor determinante no desenlace final deste processo parece estar uma vez mais relacionado com questões de natureza económica. A empresa Mota Mineral tem a concessão dos terrenos por um período de mais 70 anos e alega que não está interessada em abandonar aquele local. A empresa argumenta que o que está em causa é a boa qualidade do mineral (caulino) e não o dinheiro (!). Mas esta explicação parece ser mais um choradinho para aumentar a parada pelos terrenos. Com várias crateras e lagoas a céu aberto, a extracção de caulino tem tido graves impactos ambientais e paisagísticos, onde inclusive já morreram animais e crianças. Só quando as atenções se centraram nesta hipótese é que a empresa apressadamente foi colocar vedações no local. A instalação do aterro, para além de ser a solução mais económica, resolveria este grave problema ambiental. Resta saber até onde a Câmara pretende ir na oferta pelo valor dos terrenos. E a posição do Ministério da Economia quanto ao interesse em fechar a exploração do minério. Os próximos tempos trarão consigo mais novidades. Esperemos que os interesses económicos e políticos não se sobreponham às questões ambientais e, sobretudo, que façam tábua rasa dos interesses da maior parte das populações e das instituições envolvidas no caso.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Obrigado Palme FC

No passado dia 23 de Maio, o Palme FC sagrou-se vencedor da Taça Cidade de Barcelos, ao bater na final a equipa de Carapeços por 4-2. Em pleno estádio que serve de casa ao Gil Vicente, o Palme FC mostrou a fibra e a raça de que são feitas as gentes da nossa terra. Nem mesmo o calor intenso e o esforço sofrido ao longo da época foram suficientes para diminuir o valor da nossa equipa.

O jogo foi equilibrado, tal como o resultado ao final dos 90' demonstrava (0-0), tendo havido oportunidades de golo para ambos os lados. O Paulinho, guarda-redes do Palme esteve intransponível na baliza, tendo feito defesas de alto nível. O equilíbrio manteve-se durante o prolongamento, com ambas as equipas a revelarem fadiga, mas sem nunca perderam totalmente o discernimento do jogo. Com o nulo a manter-se ao fim dos 120', a decisão da entrega da taça fez-se com recurso às marcas de grande penalidade, onde o Palme foi mais feliz, acabando por vencer por 4-2. Foi uma vitória com todo o mérito que veio coroar o trabalho desenvolvido pela equipa ao longo do ano. Depois da entrega da taça, a festa fez-se em caravana até casa, onde os heróis foram recebidos em apoteose. A festa terminou com música, muita alegria e animação...e muitos copos de cerveja. Um bem haja aos "lobos de Palme". Obrigado Palme FC!!!!



Equipa inicial: Paulinho, Pimenta, Jota, Nuno, Joel, Xavi, Filipe, Bruno, Paulo, Zé Luís, Rui.

Treinador: Zé Manel

Suplentes: Joel Quinta, Cristiano, Araújo, Quintas, Rui, Souto e Gil.Treinnador: Manuel Queirós.


quarta-feira, 7 de abril de 2010

O aterro cada vez mais longe de ficar em Palme

A Câmara Municipal de Barcelos está empenhada em resolver o problema da localização do aterro, indo ao encontro das opiniões expressas por várias entidades de que a a ocupação das crateras resultantes da exploração de caulino existentes em Fragoso é a melhor opção. Fica assim cada vez mais distante a ameaça do aterro se localizar na nossa terra, hipótese que não parecia incomodar o anterior executivo camarário. Transcreve-se de seguida o teor da notícia publicada no Barcelos Popular.

A Câmara já tem luz verde do Governo para instalar aterro sanitário em Fragoso.
A Direcção-Geral de Geologia e Energia (DGGE) já deu o seu acordo à Câmara de Barcelos para que o aterro sanitário do Vale do Minho e Baixo Cávado, localizado em Vila Fria (Viana do Castelo), e gerido pela empresa intermunicipal Resulima, se transfira em 2011 para Fragoso (Barcelos).
As juntas de freguesia daquela zona dos concelhos de Barcelos e Esposende e a Câmara de Barcelos entendiam que o local inicial apontado pela Resulima, Palme, não era o mais adequado devido aos impactes ambientais que provocava num conjunto de freguesias com elevados níveis populacionais para quem os impactes de uma estrutura como um aterro era uma questão muito complicada de gerir. Miguel Costa Gomes, o actual presidente do município, propôs ao Governo que se aproveitasse as crateras que uma empresa de extracção de caulinos que opera em Fragoso e Alvarães servissem de local para o aterro que Barcelos se comprometeu a receber nessa data. O autarca reuniu com a DGGE e obteve a concordância técnica e política.
Os autarcas asseguram que o trabalho de escavações está naturalmente feito e que a instalação do aterro resolve os problemas de recuperação paisagística das referidas crateras, que se tornam um perigo para quem por ali tem que passar e absorvem uma enorme quantidade de água necessária à agricultura da região. Por outro lado, a localizar-se aí o futuro aterro, a lixeira ficará longe dos núcleos habitacionais, o que não sucedia com a localização de Palme.
"Estou na última fase da solução do aterro. Estou na fase de negociar com a concessionária, que é a proprietária das crateras em Fragoso. É uma negociação mais difícil, porque há interesses do ponto de vista económico, particulares, com os quais tenho que lidar. Já tenho o sim da Direcção Geral de Geologia", garantiu Costa Gomes no sábado, durante a sua visita aos trabalhos do projecto Limpar Portugal
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Fonte: Barcelos Popular, 25 de Março de 2010

quarta-feira, 31 de março de 2010

As eleições de 2009

No dia 11 de Outubro de 2009 a sede da Junta abriu as portas para o terceiro acto eleitoral que decorreu no ano passado. Estava agora em causa a eleição dos órgãos do poder local: Assembleia Municipal, Câmara Municipal e Assembleia de Freguesia. Das eleições para o município já teci algumas considerações noutros tópicos. Resta agora analisar com mais detalhe aquela que foi a campanha de 2009 para a nossa Assembleia de Freguesia.
Ao contrário das eleições de 2005, onde a lista do poder não teve qualquer oposição, o acto eleitoral de 2009 contou também com uma lista do PS, que veio trazer mais sal à campanha. A verdadeira democracia não se compadece com listas únicas e é sempre positivo haver pessoas e ideias alternativas, a existência de mais do que uma opção de escolha para os eleitores, por muito que isso custe aos partidos e às pessoas que estão acomodadas ao poder.

As listas começaram a movimentar-se uns 15 dias antes das eleições. Primeiro surgiram algumas faixas da lista do PS ao longo da estrada nacional (“Palme merece mais”) e a colocação de outdoors com os respectivos elementos da lista. Mais tarde a lista do PSD colocou também faixas pela estrada, com o lema “Participe no desenvolvimento de Palme” e ainda “Na defesa e progresso de Palme”. Com o aproximar do dia D a campanha intensificou-se. No fim-de-semana antes das eleições, ambas as listas percorrem as ruas da freguesia, distribuindo material de campanha (folhetos, t-shirts, bonés, guarda-chuvas, etc.) e apelando ao voto, na tentativa de convencer os indecisos. Os carros armados de altifalantes surgem na campanha e, os condutores, alucinados e de vozes roucas, apelam ao voto, defendem a sua dama, fazem promessas e enxovalham os adversários. E no último dia de campanha, as listas fazem os derradeiros apelos, por entre sons de buzinas e caravanas de carros que procuram demonstrar, pela força dos decibéis, a própria força da lista: “é preciso mudar”, “não queremos ficar mais para trás”; “vota em quem trabalha”, “não te deixes enganar”, etc. E chegou o sábado e o dia de reflexão e a campanha findou (ou não, como atestam algumas pessoas, alegando a existência de manobras de último recurso por parte de elementos próximos da lista do poder com o objectivo de granjear mais umas cruzinhas). E resumidamente foi este o filme da campanha com o desfecho conhecido.

Não obstante ter perdido, a lista do PS fez um bom trabalho e a comprová-lo está o excelente resultado que obteve (apenas menos 65 votos que a lista do poder). Era uma lista constituída por pessoas da terra, jovens e qualificadas, com visão e com ambição. O lema que apresentaram é muito coerente e qualquer pessoa com um mínimo de honestidade intelectual não pode deixar de considerar que “Palme merece mais”. A mensagem do candidato era clara e as propostas apresentadas no folheto eram exequíveis e necessárias, não sendo megalómanas nem utópicas. A fotografia de grupo, tendo a floresta por fundo, é um pormenor interessante que procura reforçar a ideia de que a equipa zelaria pelo património natural da freguesia. A carta aberta dirigida aos palmenses em resposta às acusações da lista adversária de que com “a lista do PS o aterro é certo” foi uma bofetada de luva branca. De uma forma geral, parece-me que fizeram um bom trabalho, que pode ser o trampolim para voos mais altos no futuro.

A campanha feita pela lista do PSD pareceu-me bastante mais frágil e a vitória só poderá dever-se à falange de apoio e até a um certo fundamentalismo que existe em redor do partido laranja e das pessoas que o representam na freguesia. Aliás, vêm aqueles que concorrem por outras listas de esguelha, consideram-nos uns oportunistas que não têm competências nem dignidade para estar à frente os destinos da freguesia. Parece que estamos no tempo da “outra senhora”, quando as pessoas que tinham ideais diferentes do regime eram perseguidas ou ainda no período do absolutismo, quando os reis assumiam que eram directamente inspirados por Deus…
A lista do PSD apresentou mais do que um slogan e valha a verdade, o lema “Participe no desenvolvimento de Palme, vota PSD” é, no mínimo infeliz, porque votar é um direito e um dever cívico, que não significa participar, mas sim escolher. Mas subentende-se o que a lista queria dizer: quem não votar PSD não estará a contribuir para o desenvolvimento da freguesia…Mas o que é verdadeiramente inacreditável é que nos folhetos distribuídos não constem nem os nomes nem as fotografias dos elementos que compunham a lista!! Penso que isto seja inédito até mesmo à escala nacional e acredito que um grande número de pessoas votou sem saber e sem conhecer os elementos da lista (com excepção do cabeça de lista). Isto é o que verdadeiramente se chama “assinar de cruz” ou “votar no escuro”. Que motivos terão estado por detrás desta opção? Será que as pessoas da lista não são fotogénicas? Será que foi por o folheto ter sido feito “em cima do joelho”? Ou será que foi por simples desinteresse do género de que qualquer coisa serve? Ou será que nem repararam nisso?! Na verdade, a única foto que surge é do Dr. Reis, que nada tem a ver com a eleição em causa e que aliás, como várias notícias o comprovaram, estaria empenhado em colocar o aterro na nossa terra. Com amigos destes quem precisa de inimigos? Depois, o folheto está escrito num português macarrónico (“vimos novamente ao Vosso encontro, para vocês estarem ao nosso lado…”) e as informações são expressas aos repelões (obra feita, ataques à lista adversária, propostas, apelos, etc.). Pareceu-me completamente desavergonhada e despropositada a referência de que “com a lista PS o aterro é certo, com o PSD tudo tem de iniciar de novo”. Para além de ser um ataque baixo quando referem que a lista PS era contrária aos interesses da freguesia (pois aceitaria o aterro), esta afirmação é um tiro no próprio pé, porque é preciso não esquecer que foi a Câmara PSD que tentou colocar o aterro na nossa terra! Quanto às obras feitas e às propostas futuras, a estratégia como já vem sendo hábito, é a de fazer render o peixe. Algumas propostas são promessas adiadas, algumas com mais de 15 anos! (por exemplo, o arranjo do caminho Aldeia/Bustelo)...e quanto à obra feita a estratégia é a mesma, pois há diversas referências feitas em 2005 que reaparecem em 2009 (Avª Igreja, Capela Sr. Aflitos, etc.), talvez por não haver nada de novo para acrescentar. Mas há aqui uma novidade e que poderá marcar os próximos tempos que é a antecipação de obras futuras para os exercícios passados. Por exemplo, é referido que no mandato de 2005/09 foi elaborado o projecto de toponímia e de números de polícia (em Palme?!), quando só agora esse projecto está a dar os primeiros passos (quando nas freguesias vizinhas já é uma realidade há muito tempo). Mas o folheto contém mais algumas curiosidades tragicómicas. Não é o caso da frase “mantemos todo o apoio ao Dr. Fernando Reis”, que é reveladora de uma fidelidade canina a alguém que não sente o menor apreço pela nossa terra. Refiro-me antes à frase “é com os olhos colocados na obra realizada e com o pensamento voltado para o Futuro, que nos mostramos convictos de que há ainda muito para fazer”. Sim, leu bem! Se duvida, consulte a respectiva imagem. Esta frase é um mea culpa, é a confissão por parte da própria lista do pouco que tem sido feito, o que justifica que haja ainda muito para fazer no futuro!... Por tudo isto é legítimo questionar-se se o lema apresentado pela própria lista (“Servimos Palme, não nos servimos de Palme”) será mesmo assim ou se, pelo contrário, não estará invertido?

O sinal óbvio de que há descontentamento mesmo entre as hostes laranja surgiria já no período pós-eleitoral. Quando as coisas pareciam estar a acalmar, eis que estoiraram informações de manobras nos bastidores, que foram perpetradas a coberto da noite, em plena véspera de eleições. Ao que se consta, algumas residências rechearam o frigorífico com produtos de origem animal em troca da promessa de voto na lista de costume. Eu não tenho provas de acto tão reprovável quanto ilegal, caso contrário divulgá-las-ia. Mas é uma informação que correu a freguesia, que foi motivo de conversas e até de comentários na Net e, como diz o ditado, não há fumo sem fogo. E tanto assim é que o próprio adro da igreja foi palco de uma autêntica peixeirada entre indefectíveis da lista do poder, onde só faltaram cenas de pancadaria, para grande estupefacção e admiração de todos que ali estavam. Até quando mais é que teremos de suportar tudo isto?!












terça-feira, 9 de março de 2010

Revisitando as campanhas passadas para a Assembleia de Freguesia

Como o leitor mais atento já deve ter reparado no caso de ter lido os tópicos anteriores, houve uma alteração da estrutura prevista, pois a esta altura já deveriam ter sido analisadas as incidências do último acto eleitoral na nossa freguesia. Houve, portanto, uma mudança de planos. O futuro, como é sabido, é um caminho tortuoso, com várias ramificações e alternativas que são sempre difíceis de antever à distância. Foi o que sucedeu neste caso. Por uma questão de coerência cronológica, ocorreu-me a ideia de abordar as campanhas eleitorais mais antigas, antes de analisar a mais recente. Na verdade, isto de ser autor do blog dá direito a estas liberdades de alterar o rumo dos acontecimentos sem aviso prévio. Porém, não julguem que foi tarefa fácil encontrar alguns resquícios das campanhas eleitorais passadas. Reparem que as campanhas para a Assembleia de Freguesia da nossa terra não passam nas rádios, nem nas televisões (ainda bem dirão porventura alguns, já nos bastam as outras!). Também não existem sons ou imagens dos debates (públicos ou privados) entre os cabeças de listas porque, infelizmente, nunca ocorreram. Também não tenho conhecimento da existência de registos sonoros, fotográficos ou de vídeo das campanhas passadas, nomeadamente das caravanas ensurdecedoras ou dos apelos feitos a partir de altifalantes com ruído a sertã a fritar batatas. Os únicos elementos que sobreviveram à passagem do tempo foram os imprescindíveis panfletos, que apelam à colocação do X no quadrado da lista Y (para não repetir o X). E para trazer à luz do dia esse material de campanha perdido no tempo e na memória foi preciso formar uma autêntica equipa de investigação. Foram esvaziadas gavetas, vasculhados os fundos dos baús, desencaixotados dossiers bolorentos, passados a pente fino sótãos inteiros e escarafunchadas pastas avulsas de documentos. Mas todo este trabalho não foi em vão, pois conseguiram-se autênticas relíquias que, contudo, não são tão antigas quanto desejaríamos (o nosso ano zero é 1993). Não descortinámos material de campanha anterior àquele ano, não tendo sido possível concluir se por incapacidade do trabalho dos nossos detectives, se devido à própria ausência dos panfletos nas eleições mais antigas. Na verdade, o nevoeiro do tempo turva-me a memória e não consigo esclarecer esta última dúvida, talvez o leitor me possa ajudar a dissipar esta questão.

Convido então o leitor a consultar os panfletos que deram a conhecer aos eleitores as propostas das várias listas à Assembleia de Freguesia. Num primeiro relance, salta à vista o caso de alguns candidatos que integraram listas apoiadas por partidos diferentes. Não vou referir os nomes, o caro leitor, caso não se recorde, ao passar os olhos pelos panfletos rapidamente retirará as suas ilações. O povo, com a sua habitual sabedoria, apelida estes elementos de “troca camisolas”, “troca-tintas”, “vira casacas”, “cata-ventos” ou ainda “salta-pocinhas”, expressões que poderíamos traduzir por oportunistas, na medida em que procuram tirar partido de uma oportunidade que surge. Este é um fenómeno que percorre verticalmente todos os partidos, acontecendo até que membros destacados e inclusive anteriores líderes de outros partidos, acabem por vestir as cores e por defender os interesses de outros partidos. Ao nível local, como é sabido, esta movimentação tem a desculpa de as eleições serem mais personalizadas e menos partidarizadas, dando alguma margem de manobra para estas “trocas de camisolas”. Também não me consta que nenhum destes candidatos esteja filiado nalgum dos partidos. Mas, mesmo considerando estas atenuantes e sendo legítimo, o assalto ao poder a partir de diferentes bases acaba por beliscar a imagem dos candidatos. Um outro exercício interessante é analisar os slogans dos panfletos ao longo do tempo:

1993: Para o desenvolvimento da freguesia de Palme, vote CDS
1997: Ganhar o futuro (PSD)
2001: Pela nossa terra, uma Junta dinâmica e amiga de todos (PS)
2001: Palme primeiro (PSD)
2005: Palme com futuro (PSD)
2009: Palme merece mais (PS)
2009: Na defesa e progresso de Palme (PSD)

De uma forma geral, as letras gordas dos panfletos, para além de repetitivas revelam alguma falta de imaginação. As propostas têm girado sempre em torno do princípio do “desenvolvimento futuro” da freguesia, mesmo por parte do “partido do poder”, o que dá que pensar. Quando uma lista que está no poder tem por lema a aposta no desenvolvimento futuro, dá azo a questionar o porquê de não ter contribuído para o desenvolvimento que reclama (será que foi por falta de trabalho?). Da mesma forma, quando apela à votação no futuro, não estará antes a pedir a votação no passado, na manutenção das mesmas pessoas e do mesmo estado de coisas? Neste deserto de ideias, o lema da lista do PS 2009 é um oásis pela clarividência que apresenta. Eu também concordo que Palme merece mais e só quem não tiver carinho pela nossa terra ou sofrer de um estado avançado de partidite poderá discordar desta afirmação.

Para terminarmos esta viagem ao passado convido o leitor a passar os olhos pelas propostas apresentadas. O denominador comum tem sido, sem dúvida nenhuma, a preocupação de infra-estruturar a freguesia, a construção de arruamentos e de instalações e os arranjos urbanísticos. Esta é a face mais visível da política que tem sido seguida, o predomínio do material sobre o social pois, como todos sabemos, este é o tipo de obra que atrai os votos. Algumas das propostas estão naturalmente ultrapassadas pelo tempo, sendo até desconcertantes à luz da actualidade, como a colocação de coberturas nos tanques de lavar, que são hoje autênticas peças de museu ou elementos arqueológicos votados ao abandono. Outras propostas são eternas promessas adiadas que figuram como uma bandeira nas sucessivas campanhas. E infelizmente há vários casos. A pavimentação do caminho que liga Aldeia a Bustelo ganha o título da promessa mais adiada: desde 1993 (pelo menos) que é uma intenção nebulosa que não sai do papel e que rapidamente se esfuma. Volvidos quatro anos e na falta de outras propostas, lá volta à baila a famigerada proposta da requalificação do caminho. Mas então, se não há condições para concretizar este projecto não seria melhor esquecê-lo definitivamente? É assim um projecto tão estruturante para o desenvolvimento da freguesia? Não será preferível mantê-lo apenas como um acesso florestal transitável? A construção de um ringue (por vezes são utilizados termos aparentados, como polidesportivo, para a repetição não ser tão descarada) tem-se arrastado também pelas sucessivas campanhas. A via-sacra desta promessa começou, pelo menos, em 1993 quando se afiançava que já havia um terreno para o efeito. A proposta reapareceu quatro anos depois, mas algo de misterioso sucedeu ao terreno, pois a prioridade passou a ser a de pressionar a Câmara para disponibilizar o terreno para o ringue; em 2001, o partido do poder volta à carga com a mesma intenção e como o projecto não atava nem desatava, a lista do PS ergueu também esta bandeira; nas campanhas mais recentes e, não tendo passado de uma promessa vã, o foco da política desportiva transitou para as acções previstas para o “parque desportivo”. A construção de uma sede para as associações culturais da freguesia é igualmente uma proposta “pré-histórica” (a primeira referência surge na campanha de 1993), a sua concretização foi sucessivamente adiada e, de vez em quando, surge sub-repticiamente nos programas eleitorais. A criação de um centro social para os idosos é uma promessa ainda de tenra idade quando comparada com as anteriores: só há 10 anos é que o projecto anda na baila. A sua construção começou por ser assumida nos programas eleitorais de 2001 e, desde então, não mais largou a agenda das prioridades para a freguesia. O desenlace parece estar para breve como o indica a placa informativa que foi estrategicamente colocada no local pouco tempo antes das eleições e a escassos metros das urnas de voto, numa clara acção de campanha eleitoral. Diversos outros exemplos poderiam ser referidos (arruamentos a todas as habitações, habitação social, etc.), basta para tal ler e comparar as propostas que foram feitas ao longo do tempo. Confesso que até para mim foi uma desagradável surpresa deparar-me com este cenário, que recorda aquelas charadas de “descubra as diferenças” entre os vários panfletos. Tinha a ideia de que algumas promessas transitavam de umas eleições para as outras, mas ignorava que eram tantas e que algumas se arrastavam há tantos anos. E reparem que entre cada período eleitoral não decorre um ano, mas sim quatro anos bem medidos. A vantagem de ter encontrado os panfletos é que não deixam mentir: está lá tudo preto no branco. Assim como o sucessivo incumprimento daquilo que se promete também não deixa mentir. Infelizmente para todos nós e tragicamente para a nossa terra.




CDS:1993


PSD:1997


PS: 2001


PSD: 2001


PSD: 2005

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Chegou 2010!...

Ao soar as primeiras badaladas das 0.00 horas do dia 1 de Janeiro, os foguetes subiram e anunciaram com o estrondo conhecido a chegada do ano novo. Manda a tradição que os anos que se vão sucedendo sejam expulsos e recebidos à lei da bomba e de tiros. Por isso mesmo, nas últimas horas de vida, o agonizante 2009 foi definitivamente morto por vários tiros certeiros (a autópsia porém ainda não foi divulgada para se saber qual dos seus órgãos vitais foi atingido mortalmente). Antigamente, porém, os anos moribundos eram escorraçados com buzinas, cornetas, chifres ocos e outros instrumentos de sopro que produziam toda a sorte de ruídos que afugentavam o pobre do ano velho para outros mundos. Agora, mercê da sofisticação tecnológica, os desgraçados dos anos velhos são crivados de chumbos, de zagalotes, de balas e, como se não bastasse, rebentam-lhes as entranhas com mísseis teleguiados em canas de bambu de tal modo que o pobre coitado, quando se aproxima a meia-noite, está morto e bem morto. E a este ano de 2009, que teve 365 dias bem medidos de misérias e de desgraças, praticamente ninguém deixou de lhe mandar uma bujarda, mesmo aqueles que o receberam com vivas e com champanhe borbulhante há 12 meses atrás. Que não vai deixar saudades é a opinião geral.
Chega agora 2010 e a esperança renasce de um ano mais feliz, com mais saúde, dinheiro, emprego, paz, blá, blá, blá. Os foguetes com as esperanças retesadas nos cartuchos de papel, anunciaram através de tiros de dinamite e de estrelas cadentes de mil cores, a chegada do novo ano (ou será que é a confirmar o óbito definitivo do ano anterior?). Lançam-se gritos efusivos de FELIZ ANO NOVO, cada um tece desejos secretos para o ano que acaba de dar à luz (coitado tão pequeno e logo com tantas responsabilidades), aviam-se as 12 passas, entornam-se (mais) taças de champanhe, alguns saltam mesmo de uma cadeira para o chão, arriscando uma fractura ou um entorse, que é sempre amortecida pelo efeito anestésico do álcool. Segue-se uma noite de folia e de excessos, é preciso esquecer o ano velho e celebrar o novo, que não raras vezes acaba mal, com as pessoas retorcidas no meio de ferros porque a árvore não se desviou do carro ou simplesmente com lancinantes dores de cabeça e ressacas mal humoradas, porque os vinhos já não são o que eram, agora é tudo uma zurrapa feita a martelo que nem o fígado consegue destilar, claro está. Mas todos os sacrifícios valem a pena, pois não é todos os dias que se festeja o dia 1 de Janeiro de 2010. Contudo, prepara-te 2010, palpita-me que lá para o final do ano vão fazer-te a folha. Tal como um novo bebé na família, foste recebido com ternura e esperança. Mas mesmo que tragas boas notícias e que sejas profícuo, quando entrares na terceira idade, as pessoas que lá chegarem vão repelir-te como um animal peçonhento, vão fuzilar-te na última noite do ano e cairás rapidamente no esquecimento. Depois não digas que não avisei…
Para aqueles que sabem decifrar a linguagem das explosões e dos morteiros, deixo aqui o vídeo do que foi anunciado logo a seguir às primeiras badaladas de 2010 na nossa terra. Eu assumo desde já a minha ignorância para decifrar estes dizeres de relâmpagos, tiros e fagulhas incandescentes. Talvez quem conheça estes alfabetos, os fogueteiros por exemplo, possam vir aqui dizer o que nos reserva 2010. Para bem de todos nós, espero que nos traga boas notícias. E espero que todos, em conjunto, contribuamos para um bom 2010. São estes os meus votos sinceros.