sexta-feira, 30 de junho de 2017

Pré-campanha autárquicas 2017 Barcelos

A pré-campanha para as autárquicas de 2017 já está aí! Faltam três meses para as eleições e as rotundas, praças e recantos das estradas nacionais foram tomadas de assalto com cartazes e outdoors a anunciar, em letras garrafais, os candidatos à Câmara Municipal de Barcelos. 

Os primeiros cartazes a aparecer foram os do candidato Domingos Pereira. Depois de uma longa e fratricida luta com Costa Gomes e de o partido lhe ter retirado o tapete, o antigo vice-presidente decidiu avançar como candidato independente. O curioso é que em 2009 e em 2013, Costa Gomes avançou como candidato independente, embora com o apoio do PS e só mais recentemente se filiou no partido. Domingos Pereira, que era presidente da Comissão Política Concelhia e integrou a lista de deputados do PS à Assembleia da República, foi agora preterido pelo partido e teve que avançar como independente. Apesar de muito curiosas, estas gincanas políticas são pouco dignificantes. Mas isso é outro assunto. Esclarecido o apoio do partido ao atual presidente, Domingos Pereira pôs a máquina no terreno, foi o primeiro a anunciar a sua candidatura à Câmara, a apresentar a lista de membros da lista e a espalhar os cartazes gigantes pelo concelho. E a disponibilizar o Website da candidatura. Lá diz o povo, candeia que vai à frente alumia duas vezes! Sobre um fundo azul-acinzentado, para talvez não se confundir com o azul do CDS, Domingos Pereira aparece informalmente descontraído e sem gravata (para agradar ao eleitorado de esquerda?), a esboçar (forçar?) um sorriso para os eleitores. O slogan escolhido pelo candidato, “Barcelos, Terra de Futuro”, remete para o progresso, para o desenvolvimento, para a concretização futura dos sonhos dos Barcelenses, presumindo-se com Domingos Pereira ao leme do município. De forma espiralada, estilizada e desmesurada, as iniciais do candidato (dp)  surgem à esquerda do cartaz, pintadas a vermelho e branco (terá motivações futebolísticas?). Sob o fundo azulado, a espiral das iniciais é reproduzida em formato XL como que a definir o caminho para a terra de futuro. Fazem lembrar os braços em espiral que rodeiam os buracos negros, que se suspeitam conduzir a novos, mas desconhecidos universos...

O segundo candidato a entrar em campo foi o da coligação PSD/CDS-PP. Depois de há quatro anos esta mesma coligação ter adotado o epíteto “Somos Barcelos”, à qual estiveram para ser interpostos processos judiciais, por se assumir como única força representativa dos Barcelences, este ano a coligação escolheu o slogan “Mais Barcelos”. É sem dúvida um título feliz e mais sonante, que apela a que seja feito “Mais” pela terra e pelas suas gentes. À semelhança do cartaz de Domingos Pereira, o candidato surge à direita do cartaz, a olhar diretamente para os transeuntes. O candidato aparece vestido de fato e gravata azul como convém a um candidato conservador, mas parece excessivamente maquilhado de Photoshop. Não obstante e apesar de ser bi-licenciado (em educação física e direito), a expressão e os óculos de massa dão ao candidato um indesmentível ar de contabilista ou de solicitador, sem desprimor para a classe nem para o próprio obviamente. Apesar de tentar esboçar um sorriso, o candidato apresenta um ar algo fatigado, cansado, como o de quem está a fazer um frete. Propositadamente ou não, o cor laranja do PSD foi completamente banida do cartaz. O mesmo já não se pode dizer das cores centristas, pois a cor do lettering é azul, a condizer com o fato e com a gravata. Estará o candidato refém do CDS ou a piscar o olho aos setores mais à direita do eleitorado? O fundo do cartaz é totalmente branco como que a evocar pureza, virgindade de alguém que ainda não esteve na presidência, embora o candidato já tenha desempenhado as funções de vice-presidente no consolado de Fernando Reis. No cartaz não há qualquer slogan e todo o destaque vai para “Constantino”, que aparece em letras garrafais e preenchido a cheio. Aqui talvez haja a tentativa de uma dupla utilização de “Mais Barcelos” como nome da coligação e slogan. Por último, o coração do galo de Barcelos aparece por cima do nome da coligação, mas não tem qualquer ligação com o cartaz, parece um apêndice ou algo que caiu ali completamente de paraquedas...

O presidente ainda em funções, talvez por ser a figura mais conhecida, foi o último a entrar em cena. O que tem alguns custos, pois alguns dos locais com melhor visibilidade já estavam ocupados pelos outros dois candidatos. Em parte isso explica a polémica que surgiu por causa dos cartazes, pois Costa Gomes veio acusar a candidatura de Mário Constantino de ter indevidamente colocado os seus cartazes em estruturas metálicas da Câmara Municipal, ameaçando removê-los. Nos cartazes e no material de campanha da recandidatura de Costa Gomes, uma das principais reviravoltas é o slogan. Há quatro anos, o já então presidente optou pela versão “Defender Barcelos”, que foi replicada e readaptada nas diversas freguesias. Nessa altura, a candidatura continuava a apostar numa postura defensiva, pretendendo dizer que as políticas do passado não defenderam os interesses de Barcelos, numa clara alusão ao malogrado contrato das águas. Agora a candidatura arrepiou caminho e adotou o caloroso “Paixão por Barcelos”. É um slogan que apela aos sentidos, que mostra que a equipa está ligada de corpo e alma e de forma intensa a Barcelos. Porém e apesar de arrebatadoras, as paixões são por vezes passageiras, um pouco à semelhança do que sucede numa erupção vulcânica que explode com toda a sua violência durante alguns dias ou semanas para logo depois se remeter a um prolongado adormecimento. Obviamente não sabemos que tipo de paixão está aqui em causa, mas para Costa Gomes, caso vença, esta não será muito duradoura, pois é a sua terceira e última recandidatura. No cartaz, as cores dominantes são o branco, o vermelho e o azul. Apesar de ser candidato pelo PS (e o punho cerrado está lá bem visível), o cor-de-rosa está ausente do cartaz (será por ser uma tonalidade pouco viril para um candidato que se preze?). O candidato surge à esquerda do cartaz, a olhar de frente, de postura séria, como compete a um presidente recandidato e experiente. O vermelho, cor quente e intensa, utilizado no cartaz, no lettering e na gravata do candidato reforça a mensagem de paixão que se procura passar. O coração que alimenta essa paixão está inteligentemente integrado no slogan, correspondendo à pinta do "I" da paixão. Mas talvez seja demasiado pequeno para alimentar uma paixão assim tão desmedida pelo concelho.

Um destes três candidatos será inevitavelmente o próximo presidente da Câmara Municipal de Barcelos e os outros dois, por mais ou menos tempo, serão vereadores sem pelouro. Resta saber quem será o vencedor? O atual presidente, que se viu envolvido em algumas polémicas, que ainda não cumpriu algumas das suas promessas mais marcantes, que foi quase totalmente abandonado pelo seu anterior elenco executivo, tendo governado a câmara apenas com uma vereadora ao longo dos últimos dois anos? Domingos Pereira, que se envolveu numa luta fratricida com Costa Gomes, ao qual retirou a confiança política, com o objetivo de ser ele o candidato do PS, mas que se viu obrigado a surgir como independente por falta de apoio da Comissão Política Nacional e que goza do apoio das bases do partido? Ou Mário Constantino, a terceira ou quarta escolha do PSD, que surgiu de uma dura e tortuosa discussão concelhia e distrital, que aparentemente está a correr por fora, mas poderá beneficiar da fratura de Gomes e Pereira? As eleições do dia 1 o dirão, mas a pré-campanha e todo o seu folclore já estão aí, para dar a conhecer os candidatos, as suas ideias... ou a falta delas.

Cartaz do candidato Domingos Pereira

Cartaz do candidato Mário Constantino


Cartaz do candidato Costa Gomes