terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Autárquicas Barcelos 2017: um combate na lama

As eleições autárquicas deste ano ainda não têm data definida, mas a pré-campanha eleitoral já anda por aí. Os políticos e os politiqueiros andam já muito encrespados, de resposta pronta na ponta da língua, as intrigas sucedem-se, agora ataco eu, amanhã atacas tu, nas câmaras e nas freguesias urdem-se alianças improváveis, anda um frenesim de obras por todo o lado. Já cheira a eleições. 

Em Barcelos, o termómetro político está ao rubro e o desfecho da contenda política em curso é totalmente imprevisível. No PS que lidera o executivo camarário desde 2009, a unidade desfez-se em maio do ano passado, quando o vice-presidente e três vereadores se demitiram, por estarem em rota de colisão com o presidente que dois anos antes apoiaram. O Barcelos Popular, metaforicamente, chamou a este episódio a “Guerra dos Tronos”. Desde então a Câmara, liderada apenas pelo presidente e por uma vereadora, ficou fragilizada e diminuída na sua atuação, com claros prejuízos para a cidade e para o município. A estratégia do antigo vice-presidente, Dr. Domingos Pereira, foi a de retirar a confiança política ao presidente da câmara, com o objetivo de passar a ser ele o cabeça de lista do PS à Câmara. Os apoiantes de Costa Gomes qualificaram de tentativa de assassinato político a estratégia seguida pelo Dr. Domingos Pereira que, por seu lado, contava com o apoio dos restantes antigos vereadores e de boa parte da comissão política municipal. Porém, a Comissão Política nacional do partido deu orientações para que os atuais presidentes fossem os candidatos, confirmando Costa Gomes como o candidato natural do partido às próximas eleições. Esta decisão caiu como uma bomba nas aspirações do Dr. Domingos Pereira, que se demitiu das funções de presidente da Comissão Política de Barcelos e de deputado à Assembleia da República pelo PS, passando a assumir o lugar como independente. Entretanto e à revelia das orientações do partido, anunciou que será candidato à Câmara por uma lista independente. E, espante-se, os vereadores que se demitiram e vilipendiaram Costa Gomes regressaram à câmara, como nada se tivesse passado!...

Esta luta fratricida entre dois homens que estiveram juntos nas últimas eleições é um teste à sanidade mental dos barcelenses e dos seus eleitores. Com toda estas manobras e contorcionismos políticos, muitos eleitores do PS sentem que o seu voto foi traído e defraudado; outros acusam Domingos Pereira de “golpada” à semelhança do que Costa fez a Seguro, ao não querer aguardar pelo fim de novo hipotético mandato de Costa Gomes, sendo depois ele o seu sucessor natural; outros ainda responsabilizam o até há ainda pouco “independente” presidente da câmara de deslealdades para com a concelhia, de falta de transparência nalgumas decisões e de não ter as mãos limpas em alguns processos. Este sismo com epicentro no PS Barcelos e que fraturou o partido terá as suas réplicas nas freguesias. Porque o Dr. Domingos Pereira, que sempre andou pelo terreno e é amigo de muitos presidentes de junta, vai aparecer com listas próprias em muitas freguesias. E perante este cenário, quem vão os presidentes de junta do PS apoiar: Costa Gomes ou Domingos Pereira? E esta guerrilha interna não irá também provocar cisões nas Juntas?

Perante estas desavenças e fraturas internas, muitos consideram que o PS mais não está que a estender uma passadeira vermelha para o regresso do PSD ao executivo municipal e a muitas juntas de freguesia perdidas, nomeadamente nas últimas eleições. Basta ver que, nas últimas legislativas, o PSD, ou melhor, a PAF entretanto desfeita por divórcio de Passos e Portas, foi a força mais votada. Porém, o PSD municipal também está atolado numa crise profunda e não tem aproveitado para cavalgar sobre um PS diminuído e manietado pelos próprios dirigentes. Também no PSD se tem assistido a autênticas lutas de esgrima entre os putativos candidatos à câmara. Depois de afastado Domingos Araújo, o presidente da concelhia pretende que seja Sérgio Azevedo o candidato do partido (novamente em coligação com o PP) à câmara. Mas esta escolha que foi longa e penosa não é ainda consensual e fala-se mesmo em rebelião no partido, com vários notáveis, presidentes de Junta e a própria JSD local a discordar desta escolha. A proposta deste nome, que é pouco conhecido na praça, corre o risco de não ser aprovada em plenário, pelo que, nesse caso, é improvável que seja aprovado na comissão política distrital. E, em tal cenário, voltaria tudo à estaca zero, a decisão de José Novais ficaria em causa, e as lutas e os interesses das várias fações internas do PSD voltariam a digladiar-se para definir novo candidato…

A cerca de seis meses das eleições, o combate político segue, portanto, animado, com os candidatos entrincheirados e totalmente concentrados no fogo amigo, que mata mais que o dos blocos políticos tradicionalmente adversários. Eu chamo a isto um combate na lama, onde se disputam vaidades, interesses mesquinhos, narcisismos, protagonismos, rumores, deslealdades, traições, vinganças e retaliações. É uma política de terra queimada. Nestes combates vale tudo, não há valores, solidariedade, bom senso, quanto mais um projeto político para o futuro e a defesa da causa pública, que deveria ser a estrela polar de qualquer político. Quem se lembra dela nestes tempos que correm? Interessante será também analisar o impacto de todas estas movimentações em Palme. Vamos aguardar.