sexta-feira, 29 de maio de 2015

O misterioso desaparecimento da máquina multibanco

Ao longo dos últimos anos, aconteceram diversas histórias em Palme que nunca foram totalmente esclarecidas tendo, por isso, passado para o domínio dos mistérios nunca desvendados. Vejamos alguns exemplos. Ao certo, nunca se soube quem decepou as videiras do antigo presidente da Junta numa propriedade sua, no lugar do Talho. O sumiço do dinheiro do cortejo, que era para recuperar a residência paroquial, foi também algo muito nebuloso. Misterioso foi também o autor do pasquim lançado na altura, onde se falava do suposto destino do dinheiro. A identidade do poeta que fez uns versos em vésperas das últimas eleições autárquicas, a respeito dos baldios que eram da freguesia e que foram apropriados por particulares, com o consentimento das várias Juntas, também nunca foi conhecida. Desconhecido é também o agricultor notívago que, nos últimos dias, tem andado pela calada da noite, no Outeiro, a tirar as batatas à do Couto. Como podem ver, não faltam histórias por esclarecer na freguesia. A estas pode acrescentar-se o recente desaparecimento da máquina multibanco, a respeito do qual correm várias teorias, que catapultaram o tema para o domínio do fantasioso e do mistério insondável. Ou pelo menos, assim o fazem crer alguns.

Um dos primeiros rumores a circular foi o de que a máquina tinha sido roubada. O roubo teria sido, naturalmente, praticado por alguém muito calejado no ofício, pois não há quaisquer sinais de rebentamento do caixote de betão, nem de estroncamento da fechadura. A não ser que a máquina tivesse sido escaqueirada à martelada e retirada às peças pelo postigo. Mas não terá sido esse o caso, porque há testemunhas oculares que viram a máquina a ser retirada à luz do dia por técnicos, supostamente por conta de uma empresa. E, então, entra aqui a segunda teoria ao melhor estilo de Hollywood, que supõe que quem recolheu a máquina não foi nenhuma empresa, mas sim um grupo de larápios profissionais. Tal tese é sustentada no argumento de que não existem afinadores de máquinas multibanco e de nunca se ter visto em lado nenhum uma máquina que tivesse sido retirada para reparação (alguém já viu?!). Os defensores desta hipótese acreditam que foi tudo uma manobra de diversão dos meliantes que, dessa forma, puderam levar a máquina para casa, para poderem sacar o dinheiro nas calmas. Uma terceira teoria em que alguns (poucos) acreditam foi a de que o desaparecimento da máquina se deveu a fenómenos de origem sobrenatural. Só alguém de uma civilização mais avançada ou dotado de poderes especiais era capaz de retirar a máquina, deixando intacto aquele caixote maciço de betão armado…

Face a estas teorias mais ou menos mirabolantes, a Junta teve necessidade de acalmar os ânimos da população, dando justificações sobre o sucedido. Foi então tornado público que a máquina avariou, porque apesar de estar carregada, não dava o pilim a ninguém. Estava, portanto, com claros sintomas de sovinice. Como não foi possível resolver o problema no local, a máquina teve que ser removida para reparação em local apropriado. Esta é a justificação oficial do desaparecimento do multibanco. O problema é que a reparação está a demorar tanto tempo que as pessoas começam a desesperar pela falta do multibanco, como se o equipamento estivesse instalado na freguesia há muitos anos. Não é o caso pois, como deverão estar recordados, a máquina foi colocada no final do verão do ano passado. Porém, este descontentamento só vem demonstrar a importância e a falta que este equipamento está a fazer.

A demorada reposição do equipamento tem levado a que muitos já não acreditem no regresso da máquina multibanco. Por isso, já se vão ouvindo propostas de usos alternativos para o caixote de cimento que ali está e que até mete dó, com aquele postigo escancarado e escuro, virado para quem passa na estrada. Alguns admitem que o casebre tem todas as condições para funcionar como cortelho para galinhas ou coelhos, faltando apenas colocar uma rede na janela, para evitar que os animais cativos saltem para a via pública. Outros acreditam que podia funcionar como uma luxuosa casota para um pastor alemão, de coleira eriçada com picos, que assim ficava a montar guarda ao edifício da Junta. Há também quem proponha que a construção seja reconvertida numa guarita, com presença permanente de um guarda de honra, munido de espada, para rondar a entrada da sede da Junta, numa marcha cadenciada para trás e para a frente. Numa perspetiva mais comercial, já ouvi pessoas que estarão interessadas em alugar o caixote à Junta para ali instalar pequenos negócios, como um quiosque de venda de jornais ou uma lojinha de gelados. Nestes dois últimos casos até acho as ideias interessantes e com pernas para andar...


Apesar de tudo quero acreditar que estes cenários são do domínio da ficção e que a casota não estará devoluta durante muito mais tempo, retomando a função para a qual foi construída. No entanto, custa a compreender a demora de tal reparação. Quero também acreditar que o problema residirá na (in)capacidade do banco em resolver o problema. Quando alguma máquina não tem conserto ou o arranjo fica muito caro, substitui-se por outra. Será que o Crédito Agrícola está tão mal que não consegue reparar ou substituir a máquina? Há algum contrato que permita acionar uma cláusula de incumprimento por um serviço não prestado? E se o impasse continuar, não será melhor pensar num plano B? Esperemos que estas dúvidas infundadas que por aí correm se dissipem para que, de facto, a questão da máquina multibanco não vá engrossar o já vasto domínio dos mistérios inexplicáveis que tem acontecido na freguesia.


PS a 10-06-2015: Uma semana depois de ter escrito este post, eis que a máquina multibanco regressou! Como é bom de ver, a publicação deste texto foi fundamental para que a máquina regressasse tão depressa. Espera-se é que agora venha para ficar definitivamente....