sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A falência moral de Portugal

Ao longo dos últimos tempos tenho evitado trazer para aqui assuntos de natureza política devido à bolorenta situação em que o país se encontra. Mas a sucessão de acontecimentos dos últimos tempos, sem paralelo nos últimos 40 anos de regime democrático, não pode deixar ninguém indiferente. A sensação que o cidadão comum tem é mais ou menos esta: o país está a saque e, com pouquíssimas exceções, não há ninguém que nos acuda e que inspire confiança. Portugal transformou-se num regime siciliano, onde quem manda são as máfias instituídas em redes obscuras, que controlam lugares de decisão no Estado e no setor privado. Não há pessoas honestas e competentes que cheguem aos lugares de decisão, seja na política, seja na economia ou na finança. O que importa é colocar gente sem escrúpulos que utilizam estes cargos em proveito próprio e para benefício dos grupos que gravitam na sua sombra. 

Na economia assistimos à derrocada de empresas e de grupos empresariais considerados estratégicos para o país. Como recompensa pelos bons serviços prestados, alguns destes gestores ainda são agraciados pelo chefe de Estado com o título de comendador. Vejam a pouca vergonha do que se tem passado na PT. Como foi isto possível? Na finança onde se impunha gente séria e responsável para tratar do dinheiro dos outros, encontramos dos maiores crápulas e gatunos de que há memória. Depois da implosão do BPP e do BPN, no passado mês de agosto esborralhou-se o BES às mãos de Ricardo Salgado, suspeito de desfalques de milhares de milhões. Como foi isto possível? No setor da saúde assistimos a fraudes de várias centenas de milhões de Euros através de esquemas manhosos com receitas falsas. 

Na política temos dos piores exemplos possíveis. Ex-autarcas presos, outros suspeitos de enriquecimento ilícito e de outros crimes de colarinho branco, antigos deputados presos, alguns inclusive indiciados de homicídio no estrangeiro, ex-ministros condenados em processos de corrupção, deputados que estão de manhã no parlamento a aprovar leis e à tarde em escritórios de advogados a defender interesses privados, financiamentos partidários obscuros em troca de contrapartidas também elas pouco claras, governantes que se tornam gestores de empresas que eles próprios privatizaram ou favoreceram, etc., etc. Mesmo as mais altas figuras do Estado não escapam a esta nuvem negra de suspeições. O chefe de Estado com o proveitoso negócio das ações do BPN (de que a filha também largamente beneficiou) ou com a famigerada história da Casa da Coelha no Algarve. O primeiro-ministro no caso da Tecnoforma, que manchou a sua imagem impoluta, em que se soube que: i) ou recebeu subsídios da Assembleia da República a que não tinha direito; ii) ou não declarou rendimentos de que usufruiu aquando da sua benemérita passagem pela ONG (Centro Português para a Cooperação) para a qual trabalhou (?) e que o impedia de obter o tal subsídio. Em causa estarão uns bons milhares de Euros. Nas últimas semanas rebentou o escândalo dos vistos gold, que envolve altos quadros da administração pública, tendo levado à detenção de figuras como o chefe do SEF e o presidente do IRN, cabecilhas de uma teia de corrupção, de branqueamento de dinheiro e de fraude fiscal, que motivou a demissão do ministro da administração interna, pelas ligações perigosas aos alegados meliantes. Ainda os portugueses, atónitos, não tinham digerido totalmente este caso, quando são confrontados com a maior de todas as perplexidades: a detenção e a prisão preventiva do antigo primeiro-ministro José Sócrates por corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada. Nunca um anterior chefe de governo tinha sido preso em Portugal. Não vale a pena estar aqui a dissecar os pormenores sórdidos que, ao que se diz, justificaram a sua detenção: malas de dinheiro entregues em mão, transferências avultadas a partir de contas de familiares, offshores na Suíça geridos por um testa de ferro… Histórias absolutamente rocambolescas, próprias de um gangster, não de alguém que exerceu altas funções políticas e governativas e que deveria ter um grande sentido de Estado. Estes casos todos formam uma nuvem negra de suspeições e de desconfiança sobre as instituições e os seus dirigentes, mas também de revolta. Porque muitos daqueles que nos têm andado a impor dificuldades e sacrifícios, afinal são os primeiros a prevaricar, a colocar os seus interesses à frente dos do Estado. E com exemplos destes vindos de cima, como não há-de o cidadão comum procurar furtar-se às suas obrigações fiscais, alimentar esquemas de economia paralela, obter subsídios fraudulentos, etc. Se pensarmos um pouco nisto (não se esforcem muito que dá vómitos) facilmente percebemos que o país está atolado num pântano de interesses obscuros de onde dificilmente poderá ser resgatado. Muito pior e mais perigosa que a falência financeira é a falência moral de um país, o descrédito e a desconfiança nas instituições, a ausência de esperança, o esfumar-se do sonho de um país mais justo e solidário que se conquistou com Abril.

Quem nos poderá resgatar deste atoleiro? Na iminência da falência financeira fomos socorridos pela mão generosa dos nossos parceiros europeus e do FMI, que apenas quiseram em troca os nossos salários, os nossos precários empregos, as reformas dos nossos pensionistas. Será que a Europa também nos pode dar a mão para impedir a falência moral? Na verdade, na Europa também temos péssimos exemplos: em Itália, Berlusconi condenado por fraude fiscal; em França, Sarcozy detido por tráfico de influências e violação do segredo de justiça; em Espanha Rajoy envolvido num esquema de financiamento ilegal do seu partido, que ainda há pouco provocou a queda de uma ministra. O próprio atual presidente da Comissão Europeia é acusado de ter cozinhado uma lei que permite a grandes multinacionais negociar secretamente o imposto a pagar com o governo luxemburguês, levando a que muitos milhões de Euros não fossem pagos nos países de origem dessas empresas. Embora complacente com as empresas, o Sr. Junker foi implacável com os povos do sul da Europa. Estes poucos casos mostram-nos que as poucas-vergonhas não são exclusivas de Portugal e que a Europa também não é um exemplo a seguir por ninguém.

Resta-nos então a justiça para nos resgatar do pântano. A sucessão dos últimos casos parece mostrar que a justiça está atenta e ativa. No entanto, a prática diz-nos que nos casos excessivamente complexos e mediáticos, a justiça tem dificuldade em seguir o seu caminho. Principalmente quando estão envolvidas personalidades tão influentes e quando existe tanto ruído em torno dos casos e, frequentemente, fugas seletivas de informação. Resta-nos esperar o desfecho destes casos para então ver se a justiça está realmente a mudar ou se estas investigações são apenas fogo-de-vistas.


Muitos falam que a detenção de Sócrates marcará o fim do regime, que daqui em diante não restará pedra sobre pedra. Não creio. Vai certamente agravar-se a desconfiança e o alheamento dos cidadãos em relação aos políticos e, em particular, aos partidos do chamado arco da governação. O povo vai empertigar-se um pouco mais, mas vai continuar a pagar os desvarios e as trapaças dos seus dirigentes. Talvez os pequenos partidos populistas, como o do Coelho (o da Madeira) ou o do Marinho Pinto tenham maior votação nas próximas eleições. O PS, apesar da forma inteligente como Costa tem lidado com o caso, irá provavelmente sofrer um rombo, pois o antigo secretário-geral e primeiro-ministro é suspeito de crimes financeiros. Com isso abre-se uma réstia de esperança de reeleição para um governo que anda moribundo há vários meses (anos?). É também expectável que os esquemas engendrados pelos prevaricadores passem a ser mais sofisticados e subtis para escaparem à lupa da justiça De resto vai continuar tudo na mesma, isto são tudo bons rapazes! Às vezes dou comigo a pensar que o Otelo até terá razão, isto só vai lá com nova revolução!

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

As ruas de Palme

Hoje proponho um post sobre as ruas da nossa terra, tal como já tinha prometido há um bom par de meses atrás. O projeto de toponímia, ou seja, de atribuição de nomes às ruas de Palme, foi uma das poucas obras realizadas pela anterior Junta e a isso não terá sido alheia a imposição do município para que todas as freguesias implementassem esta medida. Apesar de concretizado, o projeto de toponímia das ruas de Palme podia ter sido conduzido de outra forma. Em primeiro lugar, não houve um envolvimento ativo da população na escolha dos nomes das ruas. As pessoas não foram tidas nem achadas no processo e, por isso, muitas delas continuam a torcer o nariz ao nome dado às ruas onde moram. O segundo problema foi a manifesta falta de imaginação na toponímia das ruas. Na esmagadora maioria dos casos foram dados os nomes dos antigos lugares às ruas, travessas e calçadas (como acontece com Cessal, Cerquido, Roça, etc.). Esta foi a solução encontrada para resolver o problema, mas podia-se ter ido mais além, tal como foi feito em Aldreu ou em Forjães só para citar dois exemplos próximos. E opções não faltavam. Palme é uma terra cheia de histórica, teria sido importante - até para perpetuar essa memória - não esquecer o convento de Palme, a freguesia de S. Salvador de Palme, o barão de Palme, os menires encontrados em Bustelo, etc. Apesar disso, a toponímia das ruas ignorou por completo este passado. Depois não se compreende como o padroeiro da terra dá o nome a uma ruela tão pequena: não mereceria uma rua mais condizente com a sua importância? Ainda na vertente religiosa, ninguém ficaria chocado se houvesse uma rua de Santo António (em honra do qual se fazia grande festividade) e uma rua do Sr. dos Aflitos, que até tem capela asseada na freguesia. Depois não se percebe como há tão poucas ruas batizadas com nomes de filhos da terra: não houve mais beneméritos, alguém que se tenha destacado pelo seu percurso profissional, que se tenha batido pela defesa da pátria (como os soldados de Palme que tombaram durante a I Guerra Mundial)? Os próprios artesãos da terra (o senhor Larú, por exemplo) ou as associações existentes não poderiam ser utilizados para batizar algumas ruas? Isto são apenas algumas reflexões que demonstram que havia muita matéria-prima para trabalhar, mas o problema provavelmente foi mesmo esse, era preciso trabalhar, matutar um pouco...

Agora que o projeto está feito não vale a pena chorar sobre o leito derramado. E, em abono da verdade, é preferível a situação atual à das ruas continuarem incógnitas. Talvez no futuro se possam reparar alguns destes erros, à medida que forem surgindo novas ruas. Mas olhemos agora para a toponímia existente. Em Palme há um total de 79 arruamentos registados: 40 na tipologia de rua, 22 de travessa, 12 de calçada, 4 de estrada e 1 de largo. No seu conjunto, as ruas de Palme somam 25 km de extensão sem contabilizar a EN 103. As ruas mais extensas são a rua de Palme (3100 m), a estrada da Agra e a estrada florestal (com 1600 m cada uma) e a rua da Nossa Srª dos Remédios (1560 m).

Quanto aos materiais utilizados nas ruas, predomina o betuminoso nas vias distribuidoras (EN 103, rua de Palme, Nossa Srª dos Remédios), enquanto o cubo está presente na maior parte das ruas de acesso local. Há ainda diversos casos em que os acessos às habitações se fazem por terra batida e há o caso da estrada Florestal, que permanece em terra apesar das inúmeras promessas de o pavimentar (ver um dos primeiros posts em que se fala deste assunto). Em termos globais, há 9200 m de vias em pavimento betuminoso (não incluindo a EN 103), 8900 m em cubo azul, 1034 m em calçada portuguesa, 1500 m de acessos em piso misto (cubo/terra batida por exemplo) e 4300 m em terra batida. As ruas que permanecem em terra devem ser consideradas por quem de direito (Junta e/ou Câmara), pois é da mais elementar justiça que o acesso às residências se faça de forma condigna, em condições de conforto e de segurança.

É evidente que o problema dos acessos a muitas residências se deve à elevada dispersão da habitação. Ao longo dos últimos anos, tem-se assistido à construção de muitos edifícios em áreas periféricas, que anteriormente eram terrenos agrícolas ou florestais. Não faltam casos nos lugares de Cessal, Granja, Paranhos, Cerquido, Sobreiros, Cessal, etc. A construção nestas áreas começa logo por gerar conflitos com os usos nos terrenos adjacentes, obrigando os proprietários a manterem os terrenos limpos, a derrubarem árvores (que já lá estavam antes das construções), etc. E depois acarreta custos, porque leva à pavimentação de novos caminhos e à instalação de infraestruturas (água, eletricidade, telecomunicações, etc.). O resultado é o que se vê, com ruas estreitas e tortuosas, que decalcam antigos caminhos rurais, que se assemelham a raízes de árvores, muitas vezes sem saída. Este é claramente um mau modelo de crescimento urbano: é dispendioso, conflituoso e consumidor de solo com outras aptidões. Mas aqui o problema está a montante, ou seja, no planeamento do território e na classificação do solo que é ou não urbanizável. Mas a revisão do PDM arrasta-se há mais de 10 anos, com joguinhos de interesses, intrigas políticas e obstruções burocráticas, que encravam todo o processo. E à custa destas manobras continua em vigor um (mau) plano que fez em 2014 vinte anos de existência. Quando se deveria já estar a pensar no terceiro PDM, ainda se andam a fazer revisões ao primeiro. É este o planeamento que temos em Portugal!...

Retomemos as ruas de Palme. Deixo de seguida uma listagem das ruas existentes (algumas tinham nomes iniciais diferentes dos atuais), os respetivos códigos postais e alguns mapas que poderão ser úteis. Nomeadamente para não perdermos o Norte à nossa terra!

Listagem das ruas e dos códigos postais de Palme
Calçada da Capela (4905-122)
Calçada da Fonte de Goldrez (4905-130)
Calçada da Quinta (4905-122)
Calçada das Corgas (4905-126)
Calçada de Brirães (4905-122)
Calçada de Cessal (4905-125)
Calçada de Goldrez (4905-130)
Calçada do Cresto (4905-135)
Calçada do Crido (4905-124)
Calçada do Ribeiro (4905-124)
Calçada dos Frades (4905-125)
Calçada dos Marques (4905-137)
Estrada da Agra (4905-133)
Estrada da Giesteira (4905-123)
Estrada Florestal (4905-123)
Estrada Nacional 103 (4905-130)
Largo de Nosso Senhor dos Aflitos (4905-126)
Rua 13 de Maio (4905-130)
Rua da Aldeia (4905-121)
Rua da Aldeia de Baixo (4905-138)
Rua da Alegria (4905-137)
Rua da Boucinha (4905-122)
Rua da Escola (4905-137)
Rua da Furna (4905-135)
Rua da Granja (4905-131)
Rua da Igreja (4905-127)
Rua da Lage (4905-132)
Rua da Nossa Senhora dos Remédios (4905-121; 122, 125, 126, 127, 130, 134)
Rua da Penela (4905-127)
Rua da Roça (4905-136)
Rua da Urbanização do Ribeiro (4905-129)
Rua das Corgas (4905-126)
Rua das Tomadias (4905-135)
Rua de Brirães (4905-122)
Rua de Bustelo (4905-123)
Rua de Cessal (4905-125)
Rua de Goldrez (4905-130)
Rua de Palme (4905-130)
Rua de Paranhos (4905-135)
Rua de Santo André (4905-126)
Rua de Sobreiros (4905-137)
Rua do Amaral (4905-130)
Rua do Cerquido (4905-124)
Rua do Eirado (4905-138)
Rua do Fontão (4905-129)
Rua do Lameira (4905-135)
Rua do Monte (4905-125)
Rua do Paço (4905-134)
Rua do Pinhal (4905-125)
Rua do Pinheiro Manso (4905-121)
Rua do Ribeiro (4905-130)
Rua dos Frades (4905-126)
Rua dos Maiatos (4905-125)
Rua dos Marcelos (4905-125)
Rua Fonte do Pedro (4905-125)
Rua Hilário Cachada (4905-122)
Rua Nova (4905-125)
Travessa da Agrela (4905-125)
Travessa da Aldeia (4905-121)
Travessa da Assertão (4905-138)
Travessa da Azenha (4905-125)
Travessa da Escola (4905-137)
Travessa da Estrada (4905-130)
Travessa da Granja (4905-131)
Travessa da Mina Nova (4905-124)
Travessa da Ponte (4905-121)
Travessa da Roça (4905-136)
Travessa de Brirães (4905-122)
Travessa de Bustelo (4905-123)
Travessa de Cessal (4905-125)
Travessa de Salgueiros (4905-130)
Travessa de Sobreiros (4905-137)
Travessa do Cerquido (4905-124)
Travessa do Fontão (4905-129)
Travessa do Monte (4905-130)
Travessa do Outeiro (4905-133)
Travessa do Paço (4905-134)
Travessa do Padre da Quinta (4905-137)
Travessa do Sinaré (4905-135)


Traçado das ruas de Palme


Identificação das ruas de Palme

Dispersão do edificado - causa e consequência do traçado das ruas

Tipo de pavimento das ruas de Palme



segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Castanhas quentes e boas

O início do outono é a época em que aparecem as primeiras castanhas. Num destes dias, andava a deambular pelos campos da nossa terra e calhou passar por baixo de um castanheiro. Confesso que nem tinha reparado nele se não fossem as castanhas e os ouriços espalhados no chão. Foi então que reparei na frondosa árvore que ali estava, coalhada de ouriços, a maior parte ainda verdes, mas com alguns já maduros e abertos no chão. Diante deste cenário não estive com meias medidas e enchi dois bolsos de castanhas gordas e brilhantes que, depois de cozidas com um ramo de funcho e acompanhadas por um copo de Quinta dos Carvalhais, me regalaram como a Diógenes. O generoso castanheiro não me repreendeu, espero que o seu dono também não o faça.

O castanheiro é uma das árvores mais nobres que podemos encontrar na nossa floresta. Em Palme está, infelizmente, pouco representado e a sua presença reduz-se a alguns belos exemplares espalhados por quintais e pelos terrenos da agra. Mas, na verdade, o castanheiro a par do carvalho, do sobreiro e de outras quercíneas, é uma das espécies que fez parte da floresta autóctone portuguesa, que se instalou durante a última glaciação (Wurm) há cerca de 40 mil anos. Portanto, os primeiros seres humanos que viveram nesta região tiveram a companhia, refrescaram-se à sombra, protegeram-se e alimentaram-se do que estas árvores davam. No caso do castanheiro, há alguma discussão se a sua colonização foi natural e acompanhou a das restantes quercíneas ou se foi muito mais tarde introduzido pelo homem. A este respeito, Jorge Paiva, porventura o maior botânico português da atualidade, refere a existência de pólen fossilizado de castanheiro no interior de Portugal muito anterior à presença humana, o que confirma, segundo ele, a sua expansão de forma natural no nosso país.

Os primeiros povos que habitaram este território estavam muito dependentes desta floresta. Os lusitanos, por exemplo, utilizavam as bolotas e as castanhas na sua alimentação. Estrabão, um historiador da Antiguidade, refere que os lusitanos secavam as bolotas, esmagavam-nas e com a farinha faziam um pão que se aguentava muito tempo. Ainda nestes dias foi notícia um pasteleiro alentejano que está a ter grande sucesso com uns pastéis de nata feitos com farinha de bolota. É tudo uma questão de inovação. Também as castanhas foram parte integrante da alimentação destes povos, tendo apenas perdido importância com a introdução da batata que foi trazida da América pelos navegadores portugueses. No entanto, a castanha nunca foi esquecida e continuou a ser utilizada na alimentação das populações sob variadas formas, como os pães de castanha (falachas) e pratos à base de castanha (como os paparotes). Ainda hoje o castanheiro é a única árvore da nossa floresta em torno da qual subsiste importante convívio social – o magusto. 

Aqui por Palme, os magustos faziam-se assando as castanhas em caruma de pinheiro. Começava-se por ir ao monte onde se apanhava uma quantidade considerável de faúlha. Com a caruma fazia-se depois uma pilha, cortavam-se as castanhas, colocavam-se no meio da caruma, petiscava-se lume e assavam-se. Era necessário ir remexendo com uma vara e tirar as que assavam primeiro. Apesar de rudimentar e de muitas castanhas ficarem queimadas e do pessoal se enfarruscar, este processo era um ritual de festa e de convívio à volta da fogueira. Depois, para amolecer o fruto farináceo, bebia-se água-pé ou jeropiga. Alguns sob o pretexto de terem o esófago mais estreito e, portanto, sujeito a fácil entupimento, bebiam à razão de um copo de jeropiga por cada três castanhas emborcadas, fazendo do estômago um tanque de destilação e de fermentação prestes a rebentar.  Excessos à parte, é uma pena que esta tradição esteja a perder-se em Palme, há imenso tempo que não se faz um magusto e já nem caruma se arranja, pois o monte está transformado num eucaliptal abandalhado. E mesmo que houvesse parece faltar vontade de as assar desta forma. Já há por aí, inclusivamente, quem as asse no micro-ondas, não dá trabalho nenhum nem se suja nada. E castanhas assadas no micro-ondas devem ser boas de verdade!

Ao longo dos últimos anos tem-se assistido a uma redescoberta da castanha e a versatilidade do fruto presta-se a um grande número de pratos e de receitas. É mesmo possível ter um menu completo em que o ingrediente principal é a castanha. Então aqui vai uma sugestão (não recomendável a pessoas mais propensas a turbulências intestinais):

Entrada: patê de castanhas
Sopa: sopa de castanhas
Prato: carne de porco com castanhas acompanhada com cogumelos
Sobremesa: creme doce de castanhas e pudim gelado de castanhas
Bebida: licor de castanhas

Nos restaurantes mais requintados, a castanha também não tem sido esquecida. Uma das ementas mais inusitadas que vi foi esta:

Tosta de salmão sobre aveludado de castanha
Lombinho de porco braseado com creme de castanha
Bombom tépido de castanha

Os nomes dos pratos são finos e tentadores, mas não me posso pronunciar sobe a comestibilidade dos mesmos porque, infelizmente, não tive oportunidade de os degustar. Por isso, vou-me contentando com umas castanhas assadas ou cozidas à boa maneira tradicional, que são sempre muito bem-vindas!! 



Castanheiro carregado de ouriços em Palme


Castanhas cozinhas com funcho acompanhadas por uma pinga de estalo

BPP, BPN e BES: Banqueiros, trapaceiros e ratoneiros

Neste post proponho um quebra-cabeças para entreter os meus ilustres leitores de Palme e arredores e que vem a propósito do tema quente do passado mês de Agosto: a queda do BES. A charada é a seguinte: na imagem em baixo surgem três cavalheiros, que se destacaram pela forma virtuosa como conduziram três bancos à falência. É um currículo de que poucos se podem gabar, sobretudo porque as maroscas e os desfalques foram feitos debaixo das barbas das entidades reguladoras, dos órgãos supervisores e até, num dos casos, do olhar cirúrgico da Troika! Estes cavalheiros, que apresentam o ar mais angelical do mundo (veja-se como Ricardo Salgado citou abundantemente o papa Francisco numa recente entrevista a um jornal), são verdadeiros mestres na arte da dissimulação, tendo engendrado esquemas por onde desapareceram montantes que escapam à compreensão do cidadão comum. E as teias foram de tal forma bem urdidas que não é fácil à justiça perceber como foi possível desbaratar tão avultadas somas, nem qual é o seu paradeiro. O resultado saldou-se em grandes perdas para os investidores e num pesado fardo para os contribuintes, que não tiveram culpa nenhuma da forma danosa e criminosa como estes bancos (BPP, BPN e BES) foram geridos. O desafio que lanço é o de tentarem descobrir qual das seguintes 10 opções relacionadas com os cavalheiros em causa está correta (no final do post apresenta-se a solução do problema).














Opção 1: São três devotos de S. Dimas
Há provas concludentes de que todos eles são devotos de S. Dimas: João Rendeiro guardava um calendário do santinho na carteira; Oliveira e Costa tinha uma litografia do santo sobre a sua mesa de trabalho; Ricardo Salgado, o mais fervoroso devoto dos três, mandou até erigir uma capela em honra de S. Dimas na sua residência, na Quinta da Armada onde, diariamente e prostrado de joelhos, pedia a proteção do santo para as suas negociatas. Ora como os três bancos faliram, das duas uma: ou as preces dos ex-banqueiros não foram suficientes ou o santo não foi em conversas fiadas…

Opção 2: São os três novos heróis do conto “Ali Babá e os 40 ladrões”
Na reedição deste famoso conto, o enredo da história passa-se em Portugal. Ali Babá descobre um tesouro nos pisos subterrâneos do BES, na Avenida da Liberdade, que supõe resultar dos desfalques e dos branqueamentos de capitais perpetrados pelos três ex-banqueiros com a ajuda de mais 37 compinchas amigos do alheio. De entre eles contam-se personagens como Dias Loureiro, Duarte Lima, Arlindo de Carvalho, Vítor Raposo, Luís Caprichoso, José Mascarenhas, entre outros. Ao contrário do conto original, onde Ali Babá resolveu roubar os ladrões, nesta nova versão decidiu denunciar os meliantes à justiça. Os ex-banqueiros acabaram por montar uma cilada a Ali Babá, que é liquidado com três tiros num descampado (o homem do gatilho foi Duarte Lima), enquanto a justiça perde-se num emaranhado de pistas sobre a origem do tesouro. Um best seller à venda em qualquer livraria do país.

Opção 3: São os três novos atores do filme “Tudo bons rapazes 2”
Martin Scorsese dá continuidade à saga iniciada na década de 1990, com um novo elenco e com o filme a ser rodado em Lisboa. Ricardo Salgado reencarna a personagem de Robert de Niro, Oliveira e Costa faz de Ray Liotta e João Rendeiro de Joe Pesci. Neste novo filme não há assaltos a camiões nem roubos em aviões, mas a ascensão dos gangsters à custa de trapaças, negócios obscuros, falsificações de documentos, fugas aos impostos, branqueamentos de capitais, investimentos com informações privilegiadas, subornos, jogos de influência, deslealdades e traições, tendo como pano de fundo requintados palacetes, carros superdesportivos, iates e prostitutas de luxo. Um retrato do submundo da alta finança portuguesa deste início de século, sem paralelo desde o famoso Alves dos Reis. Filme muito apregoado pela crítica, encontra-se já nomeado para os Óscares nas categorias de melhor ator (Ricardo Salgado), melhor argumento e melhores efeitos especiais.

Opção 4: São três futuros consultores da Goldman Sachs
Com a interdição decretada pelo Banco de Portugal de exercerem cargos de administração bancária durante os próximos 10 anos, os três ex-banqueiros concorreram e foram admitidos para consultores na Goldman Sachs pelo seu mérito curricular. É com quadros com estas qualificações que o banco de investimento continua a ser o mais lucrativo e o mais influente do mundo. Seguirão, desta forma, as pegadas de outros conterrâneos portugueses que por lá trabalham ou já fizeram carreira, como Luís Arnaut, Moreira Rato, Carlos Moedas, entre outros destacados políticos e homens de negócios.

Opção 5: São os fundadores do grupo “Trio Ó-desvia”
É uma faceta que poucos conhecem, mas os três ex-banqueiros têm queda para a música e fundaram o primeiro grupo de fado em Portugal. O vocalista do grupo é Oliveira e Costa, que invariavelmente se apresenta ao público de capa negra traçada, óculos fumados e mão no peito para dar mais sentimento à letra que sai na sua voz quente e húmida. Acompanham-no Ricardo Salgado à guitarra portuguesa e João Rendeiro à viola. Temas como “Ó lorpas da minha terra”, “Povo que lavas na Suíça” e “Milhões em Cabo Verde e Singapura” permitiram ao grupo alcançar rapidamente o estrelato da fama.

Opção 6: Foram membros da Junta de Freguesia de Gatunões
No início das suas carreiras profissionais, os três ex-banqueiros fizeram parte do executivo da Junta de Gatunões. Já na altura a formação da Junta foi complicada, pois os três queriam ser os tesoureiros, tendo sido por sorteio que se achou o presidente (Ricardo Salgado) e o secretário (João Rendeiro). Ficou célebre a promessa de construir uma piscina olímpica na freguesia. O projeto foi financiado em 2 milhões de Euros, mas o dinheiro ficou retido (nunca se soube o motivo) num banco do Panamá, pelo que apenas se fizeram umas terraplanagens no local. Ao fim de 4 anos e com dívidas de 35 milhões de Euros, a freguesia de Gatunões foi extinta, tendo os seus ativos tóxicos sido assumidos pelo Estado e os ativos bons passado para a vizinha freguesia de Finórios (onde residem muitos angolanos).

Opção 7: São os três titulares de vistos de residência nas ilhas Caimão
Recentemente descobriu-se que os três ex-banqueiros têm vistos de residência permanente nas ilhas Caimão. Ao contrário de Portugal, onde apenas são necessários 500 mil Euros para um estrangeiro obter um visto, nas ilhas Caimão o título pressupõe um investimento 30 vezes superior (15 milhões de Euros). Há várias teorias para explicar como foi possível aos três banqueiros amealhar tão gorda maquia. Diz-se que o património de João Rendeiro foi herdado de uma tia solteirona; que o Oliveira e Costa fazia muitas horas extras no BPN, que eram remuneradas a dobrar; e que Ricardo Salgado comprou o visto com o presente de 14 milhões de Euros (uma bagatela) que lhe foi oferecido pelo construtor José Guilherme. 

Opção 8: São três cepos a matemática
O mau desempenho dos três ex-banqueiros a matemática já vem dos tempos da escola primária, altura em que foram colegas de carteira. A Prof.ª Manuela bem se esforçava:
- Ricardinho, quantos são 7x8?
- São 63 senhora professora.
- Burro! São 56, emendava a professora, depois de lhe mandar duas canadas à tola. – Assim nunca vais ser como o teu pai…
- Zezinho, qual é a raiz quadrada de 4?
- Eu não conheço essa planta senhora professora!
- És mesmo um calhau, é 2! Já para o castigo, dizia-lhe a professora depois de colocar umas orelhas de burro em Oliveira e Costa .
Apesar dos chumbos a matemática, os três lá foram passando com muita água benta e com a graxa das famílias. Por isso, não é de estranhar que tenham feito uma gestão ruinosa das instituições por onde passaram.

Opção 9: Fazem parte da Associação Internacional de Ilusionistas
O gosto pela magia é comum aos três ex-banqueiros que, já em crianças, admiravam o Mandrake. Mais tarde frequentaram conceituados cursos de magia, ministrados por David Copperfield e Lance Burton, foram colegas do Luís de Matos e especializaram-se em truques de sumiço. Depois colocaram em prática as noções adquiridas com a suspeita de o fazerem em proveito próprio. Assim, enquanto o Luís de Matos tira moedas de orelhas de pessoas atónitas ou se dedica à meritória tarefa de transformar pedacinhos de uma nota de 5€ em 10€, os três ex-banqueiros dedicaram-se à inquietante prática de fazer desaparecer centenas de milhões de Euros. Assim mesmo, às claras e à frente de todos, sem que ninguém perceba como e para onde foi o guito. Simplesmente esfuma-se, evapora-se, volatiliza-se, perde-se para todo o sempre. O Estado (contribuintes) é que pagam a fatura de repor o desviado. No BPP, a fatura foi de 800 milhões de Euros; no BPN já vai em 2,2 mil milhões; no BES é uma incógnita, mas há quem assegure que poderá ser muito mais. Só no BES Angola sumiram 5,7 mil milhões de Euros (não foram 5 milhões, foram 5,7 mil milhões, um camião de dinheiro que sumiu num estalar de dedos). São ou não são grandes ilusionistas?!

Opção 10: São os três inocentes do que são suspeitos/acusados
Tudo o que se diz por aí a respeito destes três cavalheiros é uma ignomínia, eles foram alvo de uma cabala por serem poderosos, foram saneados pelos poderes políticos, são os bodes expiatórios das falhas do sistema financeiro e da má supervisão. Estão todos na penúria, são pessoas honestas que têm vivido do seu soldo, tomaram as suas decisões com a convicção de que eram as mais adequadas, foram cumpridores das leis, se as coisas deram para o torto foi por causa da desgraça em que o país se encontra, se as pessoas pagassem os créditos contraídos, nada disto teria sucedido. Têm a imagem estraçalhada, a vida familiar destruída (veja-se os Espírito Santo que andam às turras uns com os outros), a sanidade mental comprometida, o futuro hipotecado num mar turbulento, onde vão gastar rios de dinheiro com advogados, processos e recursos. Se ainda ao menos a justiça funcionasse? Mas a justiça é lenta e tem os olhos vendados, como poderá ver que são os três inocentes?

Nota final:
Recentemente soube-se que estas três individualidades financiaram a campanha eleitoral de 2006 do atual Presidente da República com grossos donativos financeiros, pelo que se conclui que este seria o presidente que mais convinha aos três ex-banqueiros. É sem dúvida mais uma notícia incómoda para o senhor presidente, pois três dos maiores financiadores da sua campanha andam a braços com a justiça e/ou já foram condenados por desfalques volumosos e por diversas habilidades financeiras...
Em jeito de conclusão lembra-me citar aqui Fernando Pessoa a respeito de um dos protagonistas (Ricardo Salgado) desta trágica história para o país:

Ó mar Salgado, quanto do teu sal
são lágrimas de Portugal!



terça-feira, 5 de agosto de 2014

A vespa asiática em Palme

Em Palme, a apicultura não é uma atividade muito importante, mas há por aí quem tenha algumas colmeias e também quem perceba do ofício. Aqueles apicultores que não se lembram das suas abelhas apenas na altura da cresta sabem que têm que ter alguns cuidados e de vigiar as colmeias. As doenças mais comuns são conhecidas há muito: a varroa, um ácaro que rói as asas das abelhas, impedindo-as de voar; o piolho da abelha, que se aloja no seu dorso e lhes rouba descaradamente a alimentação; a traça da cera, um parasita que ataca as colmeias mais frágeis, esfarelando as placas de cera onde as abelhas fazem criação e depositam o mel; a micose, um fungo que ataca a criação, causando a sua calcificação; e a mais temível de todas, a loque europeia e, sobretudo, a loque americana, uma bactéria altamente contagiosa, que impede o nascimento da criação, causando a sua podridão, sendo o fogo o único remédio eficaz no seu combate.

Pois bem se este rol de doenças já era mais que suficiente para afligir o apicultor, agora anda por aí mais uma praga estuporada a destruir as colmeias: a vespa asiática (Vespa velutina nigrithorax). Julga-se que esta vespa foi transportada acidentalmente em navios de madeira vindos da China para França. O invasor alado espalhou-se então pelo sul de França, daí passou para o norte de Espanha e depois para o Alto Minho, onde as primeiras ocorrências foram registadas em 2011. Desde então, a vespa tem-se expandido pelo Norte de Portugal e este ano chegou em força a Palme, havendo registos da sua presença em diversos outros pontos do concelho de Barcelos. 

Esta vespa distingue-se pelo seu tamanho, sendo duas a três vezes maior que as vespas comuns. Tem umas asas e pinças enormes, são mais escuras que as parentes europeias, e têm um largo anel amarelo ou alaranjado quase na extremidade do abdómen. Desgraçadamente, a vespa asiática revela um apetite insaciável pelo mel, atacando sem nó nem piedade as colmeias. A resistência oferecida pelas abelhas de pouco ou nada vale, é uma espécie de luta entre Davide e Golias. As vespas, muito mais corpulentas e com poderosas mandíbulas, decepam as abelhas umas atrás das outras e, depois, saqueiam as colmeias a seu belo prazer. É uma luta desigual e um inimigo novo, com o qual as abelhas não sabem como lidar. Nem os apicultores. A única solução tem sido a colocação de armadilhas para vespas, uns recipientes com orifícios, onde se coloca xarope de groselha preta. Também há quem lhes ofereça vinho branco misturado com cerveja e açúcar, mas se a moda pega, em vez de vespas, vamos começar a ver alguns seca-adegas a rondar as colmeias...As vespas, gulosas, são atraídas pelo cheiro, entram e acabam por morrer afogadas nas armadilhas. Esta solução não é muito eficaz, pois para além de caçar poucas vespas, acaba por atrair outros insetos que caem na armadilha. A melhor solução tem sido a de localizar os favos das vespas e destruí-los com recurso a fogo. Normalmente é a Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e os bombeiros que se ocupam desta tarefa, mas a morosidade dos serviços a responder tem levado alguns destemidos da freguesia a fazer o arriscado serviço de queimar os ninhos. Aqui há tempos, um apicultor da freguesia da Várzea, desapontado com a ineficácia das armadilhas, contou-me que resolveu atar uma linha ao corpo das vespas, para assim tentar localizar o ninho onde a peste estava alojada. Foi trabalho em vão, pois as vespas, matreiras e ressabiadas, recusam-se a voar com objetos estranhos amarrados ao corpo, preferindo morrer a ter que denunciar a localização da colónia.

Em Palme, as vespas asiáticas também andam por aí aos milhares. Há umas semanas foi notícia um madeireiro da freguesia que, depois de ser atacado por vespas asiáticas, foi socorrido pelos bombeiros da Cruz Vermelha de Aldreu, tendo ido parar ao hospital inchado como um cepo. Em Goldrez já foi queimado um favo (foi motivo de notícia num jornal); na mesma zona, à face da estrada, um outro continua à espera de ser destruído; na zona da Agrela, num sótão de uma casa, também foi queimado um ninho; e, em Paranhos, foi igualmente destruído um ninho que estava numa nespereira e outro num sobreiro. Mas devem haver muitos mais ninhos espalhados pela freguesia, tal é o número de vespas que se vêem. Elas revelam um apetite insaciável e andam sempre numa grande azáfama a sorver os néctares das flores e da fruta, afastando todos os outros insetos. Caçar vespas asiáticas é já o passatempo preferido de algumas pessoas da freguesia. Com raquetes, redes ou simplesmente à paulada, matar vespas asiáticas transformou-se num hobby de muitos palmenses que depois se juntam para ver quem caçou mais vespas durante o dia. Conheço também casos de pessoas que apontam o número de vespas que matam por dia, fazendo uma espécie de registo diário da atividade...

Alguns estudiosos têm demonstrado com preocupação que a população de abelhas à escala mundial tem diminuído substancialmente nas últimas décadas. As principais causas são as atividades humanas, nomeadamente a deflorestação, a destruição dos sistemas naturais, a excessiva utilização de produtos químicos na agricultura (sobretudo de pesticidas), a poluição e as alterações climáticas. Para além de todas estas ameaças e das próprias doenças a que estão sujeitas, as abelhas têm que enfrentar mais esta praga da vespa asiática. No Minho, a situação parece estar já fora de controlo, as vespas continuam a propagar-se como um vírus, estando a dizimar as abelhas e a provocar avultados prejuízos aos apicultores. Desta forma é com alguma apreensão que nos devemos interrogar sobre o futuro da apicultura e sobre o próprio futuro das abelhas. Estarão neste momento em risco, nomeadamente na região do Minho?

Vespa asiática (1)

Vespa asiática (2)

Vespa asiática (3)

Vespa asiática (4)

Vespa asiática (5)

Vespa asiática (6)

Fragmento de ninho de vespa asiática com criação

Fragmento de ninho de vespa asiática









quinta-feira, 31 de julho de 2014

Palme em obras

A freguesia de Palme, desde finais de maio, está transformada num enorme estaleiro. Ele são retroescavadoras, máquinas giratórias, dumpers, cilindros, camiões, gruas, betoneiras, carrinhos de aterro, rumas de canudos de betão e uma azáfama de operários de coletes refletores que, de trastes em punho, escavam, martelam, picam, assentam e betonam. Há ruas condicionadas, pontes cortadas, trânsito proibido, troços congestionados pelo movimento anormal, que põem à prova a perícia dos condutores com cruzamentos tangenciais e manobras providenciais. A maior parte dos trabalhos está relacionada com a recuperação dos caminhos e das ruas afetadas pelo mau tempo. As obras começaram em maio (curiosamente na semana das eleições europeias), na rua do Eirado, com a reconstrução do muro de suporte ao rio, a que se seguiu a repavimentação da respetiva rua. Daí os trabalhos passaram para montante da ponte da Aldeia, onde já foi reconstruído o muro do lado da rua e colocado um novo pontão a substituir o que foi arrastado pela fúria das águas. A ponte sobre o ribeiro do Fulão foi também substituída. Seguiu-se a repavimentação dos troços danificados das ruas de Paranhos e Roça. Há ainda muito trabalho pela frente, nomeadamente nos lugares da Aldeia e Paranhos, pelo que as obras, que seguem em ritmo pachorrento, se deverão arrastar por vários meses até que tudo esteja concluído. Outras obras de repavimentação de caminhos têm avançado noutros pontos da freguesia, como em Cessal (Calçada dos Frades).

Ao mesmo tempo, o edifício da escola velha foi finalmente recuperado. Desentulhada de toda a casta de porcarias que ali foram acumuladas durante anos a fio, pintada, com portas e janelas novas e restaurada por dentro, a escola velha já nada se parece com o que alguns chamaram de “Casal Ventoso” de Palme, uma autêntica chaga ali exposta à vista de quem passava na estrada nacional. Para além de reposta a dignidade que o edifício merecia, está a servir de espaço de ocupação dos tempos livres das crianças da terra. Uma verdadeira obra de misericórdia é o que se pode dizer da requalificação física e funcional que foi feita ao edifício.

Mesmo em frente, no jardim da sede da Junta, foi escavado um buraco de onde se ergueu um robusto caixote de betão armado, que se destina à colocação de uma caixa multibanco. Este era também um equipamento que fazia muita falta em Palme, pois obrigava a sucessivas deslocações às freguesias vizinhas. Em breve terminarão, pois, estas peregrinações e, com elas, o triste fado dos palmenses sentirem que eram menos que os outros, pois nem eram merecedores de terem uma caixa multibanco na terra.

Na capela da Sr.ª dos Remédios foram feitas diversas obras de recuperação do edifício, como a substituição da cobertura, que estava bastante deteriorada. O recinto da capela (tal como o da capela do Sr. dos Aflitos) vai passar a dispor de balneários, um equipamento que também faz muita falta por questões de higiene e de salubridade públicas, sobretudo no período das festividades. Quem deverá torcer o nariz à obra serão os proprietários dos terrenos adjacentes que, assim, se virão privados da fertilização à borla que era feita por todos aqueles que não tinham bexiga de almude nem intestino de paquiderme. Uma pena porque depois da festa era só fresar o terreno e ver os nabos greleiros, viçosos e repolhudos, a medrarem de dia para dia…

Da responsabilidade da Câmara Municipal, da Junta de Freguesia e da Comissão Fabriqueira, estes são alguns exemplos das diversas obras que estão a decorrer em Palme e que pretendem repor o que a natureza destruiu, melhorar a imagem da freguesia e a qualidade de vida dos seus residentes. É caso para dizer, utilizando o anúncio de uma entidade financeira, Palme está a dar a volta!








domingo, 29 de junho de 2014

Quantos somos e como somos

Em Palme, no passado dia 8 de junho, houve uma festa dedicada às crianças da terra. O evento foi muito concorrido por miúdos e mais graúdos, contou com muita animação ao longo da tarde e os participantes de palmo e meio tiveram direito a lanches e brindes. Foi a primeira vez que se fez uma festa dedicada aos petizes da terra e está de parabéns a associação cultural e recreativa (recentemente criada) que foi responsável pela iniciativa. Esta festa foi o mote para uma dúvida que me ocorreu: quantas crianças existem em Palme? Esta questão faz ainda mais sentido pois a Junta instituiu o pagamento de um subsídio de apoio à natalidade, tendo já ajudado várias mães da freguesia. Este tipo de medidas natalistas é comum em regiões/países que se debatem com problemas de envelhecimento da população. Será que Palme está também num processo de envelhecimento populacional? Na verdade este é um assunto da maior importância.

Em Portugal, o número de nascimentos tem caído a pique, sendo já o segundo país da Europa com menor taxa de natalidade. A prazo, este envelhecimento irá refletir-se num acentuado desequilíbrio geracional, com cada vez menos população ativa, que terá de assegurar as pensões de um cada vez maior número de idosos. Recentemente, o Governo indexou o valor das reformas não apenas ao crescimento económico do país, como à evolução da natalidade. Na verdade, isto não são boas notícias para os reformados, pois se o crescimento económico é o que se vê, o desempenho da natalidade é ainda pior. Como querem que as famílias tenham mais filhos se cortaram drasticamente os abonos, encerraram as maternidades, reduziram os apoios escolares, encareceram os serviços de saúde, restringiram as deduções fiscais com os descendentes, amputaram os rendimentos das famílias, agravaram os impostos, etc.? Contrariamente à retórica dos governantes, estas políticas têm um efeito contracetivo direto, obrigando as pessoas a adiar o nascimento do primeiro filho e a ter menos filhos. E, como se sabe, têm levado à emigração de muitos milhares de jovens em idade fértil, cujos filhos vão nascer noutros países.

No caso de Palme, a evolução da população pode também ter consequências diversas. Uma diminuição continuada da natalidade, por exemplo, poderá levar ao encerramento da escola primária, tal como já sucedeu em diversas freguesias de Barcelos. Ainda estes dias o ministro da Educação tornou público que irão encerrar mais 311 escolas do primeiro ciclo no próximo ano letivo. Duas delas são em Barcelos, mas para já a de Palme não consta da lista negra. Por outro lado, um envelhecimento acentuado da população irá obrigar à existência de equipamentos e de serviços de apoio aos idosos, como um centro de dia, que tanta falta faz em Palme. Estes são apenas dois exemplos de implicações que a evolução da população pode ter na nossa terra. Para se conhecer com rigor as características da população de Palme, vamos então recorrer às estatísticas do Instituto Nacional de Estatística, nomeadamente ao último Recenseamento da População, que foi realizado em 2011.

Em 2011, a população de Palme era de 1073 habitantes, havendo 550 mulheres e 523 homens. A densidade populacional era de 129 hab/km2, sendo muito inferior à média verificada no concelho de Barcelos (318 hab/ km2). A população estava irregularmente repartida pela freguesia, com uma maior concentração nos lugares centrais da freguesia (Cerquido, Sobreiros e Aldeia), mas também em Cessal e parte da Granja e Brirães.

Em 2011, a população da freguesia era maioritariamente adulta, uma vez que 69% da população tinha uma idade compreendida entre 15 e 64 anos. A população jovem até aos 14 anos de idade correspondia a 16%. No total havia 176 efetivos com menos de 14 anos de idade, sendo para este grupo que a referida festa da criança foi direcionada. Os idosos com mais de 65 anos representavam 15% da população. Conclui-se, então, que havia uma maior proporção de jovens do que idosos. O índice de envelhecimento da população de Palme era de 90%, o que significa que por cada 100 jovens com menos de 14 anos existiam 90 idosos com mais de 65. Neste capítulo não estamos assim tão mal, pois há freguesias, mesmo no norte de Portugal, com índices de envelhecimento superiores a 300% e a 400%. Era no lugar da Aldeia que existiam mais crianças por idosos, enquanto os lugares de Bustelo, Outeiro e Fontão eram os mais envelhecidos.

No entanto, a pirâmide de idades de Palme não augura nada de bom para o futuro, como o demonstra o estreitamento da base (cada vez menos população jovem). Através da pirâmide verifica-se que a natalidade está em queda há 25 anos, tendo-se acentuado essa tendência ao longo da última década. Ou seja, a população que em 2011 tinha 0-4 anos era menos de metade da que andava nas classes dos 35 aos 39 anos ou dos 40 aos 44 anos. E ao longo dos últimos anos o cenário ficou ainda mais negro. Em 2011, o número médio de nascimentos por mulheres em idade fértil foi de apenas 0,04. O ano passado registaram-se somente 6 nascimentos na freguesia, quando em 2001 tinham nascido 15 bebés. Aliás, em Palme, nos últimos anos, o número de óbitos tem sido superior ao de nascimentos. Em 2013, por exemplo, o crescimento natural (diferença entre os nascimentos e os óbitos) foi negativo em -8. A manter-se esta tendência, a população da freguesia irá diminuir e envelhecer, com todas as consequências que isso representa para a economia local e para as necessidades sociais.

Em relação aos níveis de instrução da população, o cenário também não é muito animador. Em 2011, a maior parte da população (69%) tinha a instrução básica (e destes 39% apenas o primeiro ciclo, ou seja, a antiga quarta classe). Com o ensino secundário concluído havia um total de 80 indivíduos (7%), enquanto 22 residentes (2%) tinham uma formação superior. A restante população englobava os analfabetos, os que nunca terminaram a instrução primária e ainda as crianças que estavam a frequentar o primeiro ciclo do ensino básico. Os baixos níveis de instrução da população de Palme, que afetam sobretudo a população mais idosa, estão relacionados com questões de natureza económica e social. No passado (não muito distante diga-se), o objetivo era concluir o ensino obrigatório, para logo arranjar emprego, tanto para ajudar o agregado familiar, como para os jovens se emanciparem do ponto de vista económico.

Dos 1073 residentes em Palme, 48% eram ativos (a restante fração era essencialmente constituída por jovens em idade escolar e por reformados e pensionistas). No entanto, nem todos os ativos estavam a exercer uma atividade profissional. Em 2011 foram contabilizados 56 desempregados, pelo que a taxa de desemprego em Palme era de 10,9%, sendo inferior à observada à data em Portugal (13,2%). A população a exercer uma atividade económica cifrava-se em 460 indivíduos. Destes, a grande maioria (71%) trabalhava em atividades do setor transformador, nomeadamente na indústria e na construção civil. Nota ainda para o facto de em Palme existirem 27 empregadores ligados ao setor transformador. Por seu turno, os serviços empregavam 24% dos ativos, onde se englobam os trabalhadores do comércio, dos serviços de saúde, de educação, etc. Por último e apesar de Palme continuar a ser uma freguesia rural, apenas 5% dos ativos exerciam atividade no setor primário. Os baixos rendimentos obtidos com a exploração da terra serão a principal causa da perda de importância da agricultura na criação de emprego, que é praticada cada vez mais como uma atividade parcial e como uma fonte complementar de rendimentos.

Pirâmide de idades da população de Palme de 2011

População de Palme por grupos etários em 2011


População de Palme por níveis de escolaridade em 2011

População de Palme por setores de atividade em 2011

Distribuição da população de Palme por lugares em 2011

População de Palme com menos de 14 anos por lugares em 2011

Relação de jovens por idosos em Palme em 2011






sexta-feira, 30 de maio de 2014

O resultado das Europeias 2014

No passado domingo lá tivemos mais um ato eleitoral, desta feita para o Parlamento Europeu. Esta eleição significa pouco para a maior parte dos portugueses, que desconhecem o que na verdade os deputados europeus fazem e decidem. Além do maior distanciamento, os últimos cinco anos foram de intenso desgaste para as instituições europeias, que se viram a braços com uma crise sem precedentes, com o fantasma do colapso do Euro e a consequente desintegração a pairar sobre a União. Em boa medida, as crises soberanas que assaltaram os países do sul da Europa e a Irlanda resultaram de vários motivos: do modelo adotado para a moeda única, que penalizou sobremaneira as economias mais débeis do sul, que competiam através das suas moedas mais desvalorizadas; do longo período de baixos juros que a adesão à moeda única permitiu, levando a um excessivo endividamento público e privado, que favoreceu os países do centro; da incapacidade política e do próprio modelo estatutário e burocrático europeu em atacar rapidamente a crise mal ela deflagrou na Grécia; e da falta de solidariedade política e social entre os países, onde continua a imperar a lei do mais forte (a Alemanha) e a alta finança (os empréstimos foram negócios chorudos para os credores, que se empanturraram de dinheiro à custa dos sacrifícios dos povos do sul). A União fraturou-se entre o norte disciplinado e trabalhador e o sul esbanjador e mandrião. Instalou-se um clima de desconfiança mútua, de cisão norte-sul, com os países do norte a olhar com desdém para os do sul, recusando-se a conceder-lhes mais ajudas. Os do sul culpabilizaram os do norte da falta de solidariedade e por os obrigarem a regimes diuréticos violentos. Como não podia deixar de ser, prevaleceu a opinião dos mais fortes e os países do sul foram sujeitos a programas austeros de empobrecimento, de corte de vencimentos e pensões, subidas colossais de impostos, cortes de feriados e férias, flexibilização do trabalho, só para citar alguns exemplos da extensa lista de medidas draconianas que foram aplicadas. O resultado saldou-se numa subida vertiginosa do desemprego, catadupas de falências, emigrações em massa, miséria social e pobreza como já não se via há décadas.

Chegados a este ponto, como poderão os europeus estar satisfeitos com as suas instituições e com o rumo seguido? A resposta pode ler-se nos resultados das eleições. Mais de metade dos eleitores europeus alhearam-se da votação. E, mais grave do que isso, em muitos países, os partidos eurocéticos e extremistas subiram de forma alarmante. O caso mais grave sucedeu em França, com a vitória da Frente Nacional, mas a extrema-direita subiu substancialmente em países como a Áustria e a Dinamarca. Na Grécia, onde o sofrimento social imposto pela Troika teve requintes de malvadez, o partido mais votado (Syrisa) defende a saída do país da União. Para já desconhece-se o trilho que a União irá percorrer nos próximos tempos, mas os sinais são preocupantes e trazem-nos à memória um passado não muito distante, quando os nacionalismos, a subida ao poder da extrema-direita em vários países e o racismo conduziram a Europa a um cenário devastador de guerra. Não esqueçamos, a União ergueu-se das cinzas da guerra com o objetivo de aproximar os povos e os países e não de os dividir. Mas quem ainda se lembra disso?...

Em Portugal, onde as doses de sofrimento foram ampliadas por um governo sadomasoquista, que sempre quis ser mais troikista que a Troika, a eleição europeia mobilizou apenas uma minoria dos cidadãos. Com mais de 65%, a abstenção foi a grande vencedora do dia 25 de maio. Dos que se dignaram a votar, muitos votaram em branco ou nulo (os votos brancos foram superiores aos obtidos pelo Bloco de Esquerda). Depois houve uma grande proliferação de votos por pequenos partidos, alguns deles radicais, que defendem a saída do Euro. O grande vencedor da noite foi o MPT, cuja sigla bem pode significar Marinho Pinto. Foi graças ao mediatismo e ao dom da palavra (muitas vezes populista) do antigo bastonário dos advogados que este partido de cariz ambiental/conservador obteve 8% dos votos. Do lado dos perdedores, o Bloco somou mais uma pesada derrota, continuando o definhamento que se iniciou com a saída de Louçã da liderança e com o desaparecimento de Miguel Portas. Ao centro, nem a coligação governamental teve a derrota que se anunciava (apesar de ter sido o pior registo de sempre de ambos os partidos coligados), nem o PS obteve a vitória que se esperava. Daqui resultou que Passos ficou mais seguro e o líder do PS mais inseguro, como o demonstram os posicionamentos de vários notáveis do partido, em particular de António Costa, que vê nova oportunidade para assaltar a liderança do partido.

Em Palme, a abstenção foi também esmagadora, tendo ficado em casa 66% dos eleitores. Dos que foram votar, 45% votaram na Aliança Portugal, 32% no PS, 16% em outros partidos e 7% foram brancos ou nulos. Em Palme, tal como em Barcelos, a vitória eleitoral foi dos partidos da coligação, o que não deixa de ser surpreendente face aos resultados das últimas eleições autárquicas, em que o PS esmagou a coligação de direita. Isto demonstra bem como os eleitores encaram de forma diferente os atos eleitorais.

A comparação dos resultados das europeias de 2009 com os de 2014 revelam, contudo, que em Barcelos e, apesar de vencedora, a coligação perdeu mais de 14 pontos percentuais na votação, enquanto outras forças, de entre as quais o PS (e sobretudo o MPT) aumentaram a votação. 

No caso de Palme, a comparação dos resultados é ainda mais curiosa. Apesar da coligação PSD/CDS ter vencido com 44,8% dos votos, o registo é 31,8 pontos percentuais inferior ao obtido em 2009. O principal beneficiário desta diminuição foi o PS que quase quintuplicou a votação de 2009. Pondo de parte que estes valores nada têm que ver com as políticas defendidas por Rangel e Assis (que até foram um pouco virulentas), a escolha dos eleitores de Palme estará mais relacionada com o descontentamento em relação às políticas seguidas pelo Governo ao longo dos últimos anos. Este crescimento do PS em Palme deverá também estar ligado à mudança da cor política da Junta ocorrida nas últimas autárquicas.