quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Água não!

Um dos temas que alcançou mais fama no panorama da música popular Portuguesa (vulgo “música pimba”) foi interpretado por Toy e intitula-se “água não”. Confesso que não sou particular apreciador do artista, nem tão pouco do género da música em causa, pelo que não conheço a letra da canção com detalhe. Mas, por força de tanto ouvir o famoso refrão da cantiga, recordo-me que o artista, como bom português que se preze, enaltece as virtudes do vinho e repudia a água enquanto bebida oficial das refeições e das festas.
Ora vem isto a propósito de uma situação mais séria que se passa na nossa freguesia e que parece não preocupar ninguém, a começar na Junta de Freguesia de Palme e a acabar nos consumidores. Refiro-me ao elevado número de pessoas que continua a consumir água dos fontanários públicos que estão dispersos pela freguesia, sobretudo nos meses de Verão, quando o calor aperta e seca as gargantas. Nalguns destes fontanários chega a formar-se fila para encher os garrafões, os de mais longe trazem atrelados ou atestam as malas dos carros de garrafões e a fama das águas de Palme estende-se mesmo a outras freguesias, não sendo raro ver-se pessoas das vizinhanças a abastecerem-se nestes fontanários. Ora isto não seria problema nenhum se a potabilidade da água estivesse confirmada, seria até o testemunho da qualidade ambiental da nossa terra. Mas a questão fia mais fino. É que estas águas não têm sido analisadas (segundo consta, a última vez que foram analisadas foi ainda no tempo do presidente Justino, há 10 ou 15 anos!). O que está aqui em causa é, então, um problema de saúde pública. Pessoalmente não acredito que a água dos fontanários de Palme tenha as características químicas e, sobretudo, bacteriológicas para que possa ser considerada apta para o consumo humano. E passo a apresentar algumas razões. A nascente de muitos destes fontanários não tem sido objecto de qualquer acção de limpeza e, não raras vezes, nem se sabe bem onde é a nascente da água e em que condições esta é recolhida. Os esgotos humanos (e das explorações animais) não são tratados e são drenados para os terrenos ou para fossas sépticas, infiltrando-se e contaminando as águas subterrâneas. A utilização indiscriminada de produtos químicos, nomeadamente na agricultura, é também uma fonte de poluição das águas. Conheço muitas pessoas que já analisaram a água dos furos que têm no quintal e, em nenhum dos casos, a água era aconselhada para beber. E já repararam que se a água ficar armazenada algumas semanas num garrafão ganha lodo (sinal da presença de micróbios e bactérias).
Ora tudo isto é um assunto demasiado sério, porque estamos a falar da saúde das pessoas. Julgo que as autoridades e, em particular a Junta de Freguesia, têm revelado uma total falta de responsabilidade em deixar arrastar esta situação. Mas também não é de estranhar porque os seus elementos andam sempre muito desatentos (não sei com o que se preocupam) e o que vão fazendo é por imitação do que se faz nas freguesias vizinhas. Analisar as águas dos fontanários de Palme e sinalizar as que não forem potáveis são acções imperiosas e urgentes. É este trabalho que tem vindo a ser realizado nas freguesias vizinhas. Por isso, julgo que não é preciso colocar legendas nas figuras em baixo, qualquer um consegue descobrir qual destes dois fontanários está localizado em Palme. Entretanto, eu vou continuar a seguir o conselho do Toy: (desta) água não!!