sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Merkel e a Merkolina

Desde que Portugal se encontra sob a pata dos agiotas estrangeiros que perdemos a nossa soberania, não só financeira, como política. O governo ajoelha-se perante as ordens dos estrangeiros e mais não faz que aplicar a receita prescrita pelos médicos legistas da troika. Se os protetores receitarem duas pastilhas de cicuta a cada português, o nosso governo receita três. Portugal transformou-se no Coliseu de Roma: na arena esfolam-se vivos os portugueses para gáudio e contentamento da plateia, composta por alemães, holandeses, finlandeses, austríacos e de outras paragens civilizadas. Os portugueses são os bárbaros cujo sacrifício e morte servem de entretenimento à assistência. Na cadeira de César está a chanceler Merkel e à volta a sua guarda pretoriana: a troika. 
Nos tempos modernos, Merkel é o rosto da austeridade sem fim, da imposição da finança sobre as pessoas, da tecnocracia sobre a democracia, da desorientação de uma Europa sem rumo. Merkel vê Portugal como um país de malandros e de preguiçosos, que querem viver como os alemães. Por isso, há que lhes cortar vencimentos e pensões, reduzir-lhe os feriados e as férias, aumentar o horário de trabalho, reduzir-lhe os direitos sociais, obrigá-los a pagar taxas exorbitantes pelos empréstimos que pediram (para benefício dos bancos alemães!), aumentar os impostos e as contribuições sobre o trabalho e sobre todos os tipos de rendimento que têm, subir os impostos sobre o consumo, taxar tudo o que mexe e rasteja, forçar as pessoas a emigrar para verem o que custa a vida lá por fora. 
Estas são as ideias da senhora Merkel, que foram tão exemplarmente implementadas em Portugal (que rico aluno!). Por estar a causar tanta dor e sofrimento e, sem ter legitimidade para o fazer, Merkel é amaldiçoada pelos povos do Sul da Europa. Aquando da sua visita a Portugal, o ano passado, não faltaram manifestações de protesto que se insurgiram contra a sua presença, referindo alto e bom som “A Merkel não manda aqui”.

Pois bem, em Palme também anda por aí uma Merkolina. Tal como a Merkel, não é da terra e gosta de impor a sua vontade, nomeadamente nos assuntos relacionados com a igreja. A criatura assume-se como uma pretensa protetora do pároco e dos assuntos religiosos, mas não tem legitimidade para o fazer. É evidente que o pároco pactuou e consentiu que esta ave de arribação assumisse a importância que julga ter. Porém, é mais que notório que há um flagrante oportunismo por parte desta senhoreca que, apercebendo-se da senilidade e das fraquezas do padre, aproveitou para se impor como uma espécie de governanta da paróquia. Quem se dirigir à residência para tratar de algum assunto dá invariavelmente de cara com esta rabugenta que, de ar sisudo e contrafeito, resmunga que o pároco não está disponível para receber ninguém, que está a descansar, que se encontra indisposto, que está ocupado, que agora só amanhã e se calhar bem. É ela que decide quando e em que condições se pode falar com o clérigo da freguesia. Mas a sua jurisdição vai mais longe e estende-se já ao adro e à própria igreja. Dá pareceres negativos e repreende eventos organizados no adro, não autoriza que se tirem fotografias junto à igreja, interfere em assuntos relacionados com o grupo coral e com a catequese. Mas como se tudo isto não bastasse, consta que a criatura até já dispõe dos códigos bancários da conta da Fabriqueira. Se for verdade, como é possível que alguém tenha dado o acesso de uma conta bancária, que gere dinheiros provenientes da fé e da crença dos paroquianos, a uma pessoa de fora? E isso ainda levanta mais suspeitas sobre as suas reais motivações em andar agarrada à batina do padre, pois como diz o povo “de boas intenções está o inferno cheio”.

Como é natural, esta história está a indignar muita gente, que pretende correr com ela daqui para fora a toque de caixa. No pároco não se podem depositar grandes esperanças, porque para além de estar manipulado pela mandona, encontra-se manietado pelas suas próprias debilidades físicas e mentais. Por isso, fala-se num baixo assinado contra a presença desta Merkolina, com o objetivo de lhe demonstrar que é persona non grata em Palme e que, também ela, não manda aqui.

Na verdade, este episódio é mais um que ilustra o crescente afastamento entre a igreja e a população local. Para tal muito tem contribuído a postura do padre e a decadência das suas celebrações. Mas resulta também do desinteresse das pessoas, que permitem que estes oportunistas se imponham desta forma. Já lá vai o tempo onde um pároco em Palme, ao sair de manhã da residência, se deparou com uma faca espetada na porta com um papel e com um alguidar aos pés. Foi um aviso para nunca mais. Agora ninguém se importa com nada….

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Cheias em Palme - Barcelos

Na madrugada de 21 para 22 de Outubro de 2013, a freguesia de Palme foi atingida por um forte temporal: chuva intensa, vento forte e trovoada. Os valores mais elevados de precipitação ocorreram entre as 23:00H e a 1:30H, altura em que se formaram enxurradas de elevada capacidade destrutiva. Os estragos foram de tal ordem que no dia a seguir Palme saltou para as páginas dos jornais e teve honras de diretos televisivos nos noticiários. Por causa do volume da destruição causado, rapidamente se assumiu que a freguesia fora atingida por uma tromba de água. Alguma comunicação social noticiou o caso como tendo sido uma tromba de água. O Jornal de Notícias, por exemplo, referia que “tromba de água em freguesia de Barcelos deixou rasto de destruição”. No entanto, é impossível que Palme tenha sido atingido por uma tromba de água, pois este é um fenómeno que ocorre sobre o mar e que, raramente, atinge as zonas costeiras. Em termos técnicos, uma tromba de água é um tornado que ocorre sobre massas de água e que, geralmente, tem um menor poder destrutivo que os tornados que se formam em terra, por registarem ventos com menor velocidade. De qualquer dos modos, parece ter-se banalizado a noção popular de que uma tromba de água corresponde a um desabamento de água sobre um local (alguns associam-na mesmo ao rebentamento de uma nuvem!), sendo nesse sentido que a expressão é (erradamente) utilizada, como foi o caso. 
        No temporal do passado dia 22, o que sucedeu foi a concentração de um valor de precipitação muito elevado num curto espaço de tempo, o que causou uma grande cheia. Para além dos valores anormalmente elevados de precipitação, há outros fatores que terão contribuído para a desgraça que aconteceu. Uma delas relaciona-se com o incêndio do ano passado, não havendo ainda um manto vegetal suficiente que faça diminuir a velocidade da água e que prenda os materiais do solo (terra, areias, pedras, etc.). O outro prende-se com a falta de limpeza dos leitos dos ribeiros e das suas margens, onde se depositam grandes quantidades de detritos que entopem o escoamento das águas, fazendo transbordar o seu leito. E por último, verifica-se que muitos canais artificiais e encanações são manifestamente insuficientes para dar escoamento a valores de precipitação mais elevados. Ora a conjugação destes fatores, associada a uma precipitação tão intensa, só poderia resultar na calamidade que sucedeu.
        Na zona nordeste da freguesia, onde as encostas do monte são mais inclinadas, formou-se uma enxurrada de água, lama e pedregulhos, que levou tudo à sua frente. As ruas transformaram-se em ribeiros, por onde a água corria velozmente, arrastando a maior parte da calçada e abrindo trincheiras que, em alguns locais, atingiram mais de 2 m de fundo. Os ribeiros, em particular o da Aldeia (ou do Fulão), transbordaram e a força das águas destruiu tudo o que se encontrava ao longo das suas margens: muros de suporte, árvores, ramadas, pontões, azenhas, etc. Muitos dos terrenos marginais ficaram transformados num mar de pedras, areia e entulho. Diversos caminhos agrícolas e florestais ficaram intransitáveis. As infraestruturas de água foram destruídas, railes de proteção das estradas retorcidos, a iluminação pública afetada e a circulação de veículos impedida. Em diversas casas houve inundações, veículos parcialmente submersos, eletrodomésticos destruídos, animais mortos. No meio deste rol de destruição foi quase um milagre não ter havido perdas humanas.
        Na memória da maior parte das pessoas não há registo de um temporal deste calibre. Apenas os mais velhos e de memória mais viva se recordam de uma noite idêntica no já distante ano de 1939, quando a força de uma cheia provocou estragos idênticos aos deste ano (ver o 3º post de História e acontecimentos marcantes de Palme). Mas neste capítulo de curiosidades, há mais dois aspetos que dão que pensar. O primeiro é o de há precisamente 7 anos (no dia 22 de Outubro de 2006), tinha ocorrido uma enxurrada muito forte, mas cujos estragos (avultados também) se confinaram aos lugares de Paranhos e Lage. Também nesse ano, o monte tinha sido fustigado por um violento incêndio. A segunda curiosidade é a de que o dia 22 de Outubro foi o dia em que a nova Junta de Freguesia tomou posse. Pior herança seria difícil de imaginar para o novo executivo que, assim, se vê a braços com um problema com o qual não contaria e que poderá comprometer a realização do seu compromisso eleitoral. 
        Os prejuízos causados pela cheia são de grande monta. A Junta por si só não tem qualquer capacidade para responder ao problema. A Câmara Municipal, soube-se agora, irá contrair um empréstimo de 2,2 milhões de Euros para as obras de recuperação dos locais afetados pela intempérie no concelho. As notícias referem que a intenção do executivo é começar as obras de reconstrução ainda antes do final do ano. Assim o esperamos todos. Ficam de seguida as imagens da desgraça...


Quintal transformado num amontoado de pedra e de entulho (Aldeia de Baixo)

Terreno agrícola inutilizado pela cheia (Aldeia de Baixo)


Oliveira de grande porte arrancada e arrastada pela corrente


Caminho de acesso rural intransitável (Roça)

Detritos em cima da guarda do ribeiro (Roça)

Destruição junto à ponte da Aldeia

Pontão arrasado pela força das águas (Aldeia de Cima)

Rua totalmente destruída pela fúria das águas (Aldeia de Cima)

Muros destruídos e girafas de ramadas deitadas por terra (Paranhos)

Inacreditável amontoado de entulho na ponte do ribeiro do Fulão (Paranhos)

Inacreditável amontoado de entulho na ponte do ribeiro do Fulão (Paranhos)

Outra rua desfeita pela força das águas (Paranhos)

Gigantesca cratera na rua de Paranhos com muro derrubado

Caminho completamente ravinado (Lage)

Consequência do estrangulamento de ribeiro (Lage)

Margens de rio e árvores arrastadas pela corrente (Roça)

Muros de rio arrancados pela corrente (Roça)

Carta sinótica de 22-10-2013






quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Resultados das eleições autárquicas 2013 em Barcelos

As eleições autárquicas de 2013 em Barcelos foram uma autêntica razia para a coligação PSD/CDS/PPM e, em particular, para o seu líder, Domingos Araújo. O resultado saldou-se num desaire e os barcelences deram uma autêntica bofetada de luva branca nos queixos do candidato, que orquestrou (ou pelo menos consentiu) uma campanha insidiosa e insultuosa contra Costa Gomes, onde até as questões familiares foram utilizadas para achincalhar a sua reeleição. O delfim de Fernando Reis, que não teve decoro em afirmar publicamente que não hesitaria em assinar, nos mesmos termos, o ruinoso contrato da água, teve a derrota que compete a quem não tinha uma ideia estratégica de desenvolvimento para o município e que apenas se limitou a criticar, por falta de ideias e de projetos alternativos. A esta hora as hostes laranjas já lhe devem estar a fazer a cama e a decapitação de Domingos Araújo será uma questão de tempo. Na lista sucessória de putativos candidatos ao lugar assoma, desde logo, a linhagem de Fernando Reis, que estará ávida de reassumir as rédeas do município. Não sabemos é se os barcelences estarão pela conta…

Os números das eleições não deixam margens para dúvidas, o PSD obteve um resultado humilhante. O pior registou-se na eleição para as Assembleias de Freguesia, onde a coligação perdeu mais de 13500 votos e um número muito apreciável de freguesias. Nas eleições de 2009 (com 89 freguesias), o PSD e o CDS venceram em 61 freguesias e o PS em 22. Nas eleições deste ano (com 61 freguesias), a coligação perdeu 43 e o PS ganhou em 37 (+ 15 freguesias do que há quatro anos), algumas das quais onde nunca tinha vencido. Com exceção do setor Sul do concelho, o mapa das Juntas de freguesia de Barcelos ficou claramente mais rosado. O fenómeno dos movimentos independentes não sofreu grandes alterações face a 2009, havendo agora um total de 6 Juntas de cidadãos independentes, tendo duas delas sido eleitas pelo MIB (Fornelos e Tamel Stª Leocádia/Vilar do Monte).

No que toca à eleição para a Câmara Municipal de Barcelos, a tendência de voto foi idêntica. Embora os números revelem que há quatro anos uma eventual coligação alargada PSD/CDS/PPM teria sido suficiente para vencer Costa Gomes, este ano a coligação ficou a cerca de 8200 votos de distância do PS, diferença o que fica acima da votação que o MIB angariou (7583 votos). De 2009 para 2013, na eleição para a Câmara Municipal, a coligação PSD/CDS perdeu cerca de 12 mil votos. Com o resultado desta eleição, Costa Gomes foi reeleito presidente da Câmara, sendo o novo executivo municipal (que tomou posse no passado dia 11) constituído por 6 vereadores do PS. Nesta eleição, a lista de Costa Gomes venceu em 42 das 61 freguesias do concelho. Em algumas delas, como em Arcozelo ou Carapeços, o PSD levou mesmo uma grande tareia, tendo ficado com menos de metade da votação do PS. 

Em relação à Assembleia Municipal, a vantagem do PS foi de quase 6 mil votos. Também neste caso, a coligação PSD/CDS/PPM perdeu mais de 11 mil votos face a 2009, enquanto o PS segurou a votação que alcançou nas eleições de há quatro anos.

Em suma, o PS de Barcelos arrecadou uma vitória folgada nas autárquicas de 2013. A herança de Fernando Reis foi um fardo pesado e ainda há diversas questões por resolver, como a do preço da água, que está na barra dos tribunais por várias suspeitas. No entanto, a gestão de Costa Gomes demarcou-se da política arrogante e despótica do anterior executivo, que era feita ao arrepio dos interesses do município e dos barcelences. Por isso, o novo voto de confiança dado pelos barcelences acabou por ser o corolário da gestão mais transparente, rigorosa, competente e solidária com que Costa Gomes geriu o município e as suas freguesias ao longo dos últimos quatro anos. Espera-se que assim continue durante os próximos quatro anos!


Resultado da eleição para as Assembleias de Freguesia (2013)


Resultado da eleição para as Assembleias de Freguesia (2009)


Resultado da eleição para a Câmara Municipal de Barcelos (2013)


Resultado da eleição para a Câmara Municipal de Barcelos (2009)


Resultado da eleição para a Assembleia Municipal de Barcelos (2013)






sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O resultado das eleições de 2013 em Palme

As autárquicas de 2013 ditaram uma mudança de rumo em Palme. A dirigir os destinos da freguesia desde as eleições de 1979, o PSD sofreu o segundo pior registo de sempre na freguesia. Foi uma derrota merecida que apenas pecou por tardia, pois ao longo dos últimos mandatos pouco ou nada foi feito pelo desenvolvimento da nossa terra. O mais inesperado, que terá apanhado de surpresa os próprios membros da lista do PSD, foi o julgamento lúcido que a população de Palme fez das candidaturas que se apresentaram. As mentalidades, lenta mas inexoravelmente, estão a mudar. As pessoas começam a não votar de cruz, já não há vitórias por antecipação e as eleições deixaram de ser plebiscitos para se saber por quantos vai ganhar o partido do costume. E ainda bem que é assim. Em qualquer atividade profissional, as pessoas que não mostram trabalho, que são incompetentes ou calaceiras são colocadas no olho da rua. Por que razão numa Junta de Freguesia não teria que ser assim?! Felizmente não vivemos em nenhum regime monárquico, onde os soberanos se perpetuam no poder até morrer, independentemente das suas qualidades e sanidade mental. O tempo do partido único, por muito que custe a alguns saudosistas, foi sepultado com o anterior regime e consta que já nem ossos tem. Mas em Palme viveu-se assim ao longo destas últimas décadas. O símbolo do PSD foi idolatrado com uma devoção quase religiosa, os seus dirigentes locais foram vistos como figuras paternais, que defendiam a manutenção de uma certa cultura de raiz popular na freguesia. Estas ideias cimentaram-se e Palme transformou-se num bastião laranja, onde todos aqueles que defendessem ideias ou projetos diferentes eram logo vilipendiados, marginalizados e rotulados de revolucionários, que mais não queriam que atentar contra os bons costumes da terra. Ui, corriam logo com o padre a toque de caixa, confiscavam a conta da fabriqueira, desbaratavam os bens da freguesia, incentivavam práticas de vida dissolutas, etc., etc.* Deus nos livre! Era só o que faltava! Com pensamentos semelhantes e, mais por fanatismo do que por convicção, muitos dos simpatizantes do PSD local teimaram em não dar o braço a torcer, preferindo que a freguesia continuasse imobilizada no tempo, a ter que dar a oportunidade a outros para arrepiar caminho. Então como foi possível a mudança ocorrida nas eleições da semana passada?

Por um conjunto de circunstâncias em que houve demérito dos derrotados, mas também habilidade dos vencedores. O PSD apresentou-se perante os cidadãos com uma mão cheia de nada, com um rol de promessas por cumprir, sem obra e sem esperança, com um candidato beliscado por ter abandonado o anterior mandato, à frente de uma equipa numerosa, mas demasiado verde. A zanga das comadres ocorrida durante o anterior mandato abriu brechas profundas entre as hostes laranjas, gerando divisões e deserções. A suposta lista independente do MIB teve um papel decisivo no desfecho das orientações de voto. Há muito que era conhecida a simpatia do presidente da Junta pela candidatura de Manuel Marinho à Câmara. Porém, a criação de uma lista do MIB para a Assembleia de Freguesia, com pessoas muito próximas do presidente da Junta cessante, pretendeu ir mais além do que apoiar a candidatura de Marinho. Visou, acima de tudo, cortar as pernas ao candidato do PSD e evitar a sua eleição. O empenho colocado pela equipa do MIB nos últimos dias de campanha demonstra bem que, embora estando a correr por fora, tinha um objetivo bem determinado. E, em parte, conseguiu-o. No meio desta Guerra das Laranjas (com consequências menos trágicas do que o conflito ocorrido com esse nome no século XIX), a lista do PS aplicou-se a fundo na campanha e colheu os frutos da desordem e da total estagnação em que a freguesia está mergulhada. Mantendo o núcleo duro da equipa de 2009, a lista do PS foi capaz, num primeiro momento, de mobilizar um número muito maior de apoiantes para as suas fileiras e, depois, de captar a simpatia de muitos descontentes com a situação vivida em Palme. A sua tarefa foi facilitada luta fratricida entre as duas fações laranjas, mas também pela campanha persistente e contundente que a lista fez e pelas propostas que apresentou, algumas das quais foram, inclusivamente, copiadas pelos adversários. É um compromisso eleitoral que responde às necessidades mais prementes da freguesia e que propõe realizar, em 4 anos, muito do que deveria ter sido feito ao longo dos últimos 8 ou 12 anos. Resta saber se haverá verbas e motivação para as levar por diante...

De resto, a campanha eleitoral decorreu de forma normal, tirando alguns incidentes levados a cabo por alguns dementes, que tiveram atitudes insolentes e línguas maldizentes. A campanha foi ruidosa e melodiosa (e a música do MIB fastidiosa), fértil em prendas sem reprimendas (só faltaram as merendas!), com muitas camisolas sem golas (alguns ficaram com tantas que encheram várias caixolas), com muitas canetas, incluindo para os manetas (?!), com bonés aos pontapés, com tantas réguas que se viam a léguas, com lápis de cera com aroma a pera e com tanta papelada, que até punha a gente desmiolada e a andar à estalada.

Passemos, por fim, aos números das eleições. A lista do PS arrecadou 358 votos, tendo conseguido mais 78 votos que a lista do PSD. O MIB mereceu a confiança de 93 eleitores. Em termos percentuais, o PS obteve 47,8% dos votos, o PSD 37,4% e o MIB 12,4%. Em relação às eleições de 2009, o PS aumentou em 2,85 p.p. (pontos percentuais) a sua votação, enquanto o PSD assistiu a uma forte redução da votação (-16 p.p.). No histórico das autárquicas, o PS conseguiu o segundo melhor resultado de sempre (nas primeiras eleições, em 1976, teve 50% dos votos), enquanto o PSD só nessas eleições teve um resultado pior (34,4%). Em termos de composição da Assembleia de Freguesia, o PS e o PSD elegeram três representantes cada um e o MIB elegeu um elemento. Isto significa que o PS não tem maioria na Assembleia de Freguesia, o que poderá levar à realização de acordos/alianças com as outras forças.

Por último, o PS foi também o partido mais votado em Palme para a Câmara Municipal e para a Assembleia Municipal de Barcelos, o que sucedeu pela primeira vez na história das eleições autárquicas. Em ambos os casos, a margem da vitória foi folgada (47%), com mais de 10 p.p. sobre a coligação de infeliz designação “Somos Barcelos”. Parece assim que a maior parte dos que votaram PS para a Assembleia de Freguesia, também votaram no partido da rosa para a Assembleia e para a Câmara Municipal. Neste caso, é notório que a população de Palme deu um voto de confiança a Costa Gomes, agradecendo-lhe por ter tirado o aterro da nossa terra. 

* por mais disparatadas e despropositadas que pareçam estas ideias, no dia 30 de Setembro já andavam a circular, nos meios mais restritos da coscuvilhice, rumores de idêntico teor. Que pobreza de espírito…


Resultados da eleição para a Assembleia de Freguesia de Palme



Resultados da eleição em Palme para a Câmara Municipal de Barcelos




Resultados da eleição em Palme para a Assembleia Municipal de Barcelos








quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Relatório e contas 2009-2013

Estamos em vésperas de eleições autárquicas. As ruas estão repletas de cartazes, outdoors, faixas, palavras de ordem, de fotografias retocadas com Photoshop e até, talvez, com algum botox. Este ano a campanha segue especialmente animada, pois há três listas a concorrer para a Assembleia de Freguesia: duas delas do PSD (uma oficial e outra encapotada de independente) e uma do PS. Mas a seu tempo falaremos do desenrolar da campanha e do desfecho das eleições. Por agora debrucemo-nos no balanço do que foram os últimos quatro anos da governação da Junta PSD em Palme.

O tema forte da campanha de 2009 foi o famigerado aterro sanitário. As duas listas concorrentes esgrimiram argumentos sobre quem era o responsável de ter escolhido Palme para o destino do aterro. A lista do PS acusava o anterior executivo do Fernando Reis (que Deus o tenha em paz) de ser o responsável pela decisão. O PSD local rechaçava a acusação, argumentando que teria sido o Governo (Socialista), nomeadamente o Ministério da Economia, a definir a localização do aterro. E a lista ia mais longe nestas considerações, profetizando que, com o PS, o aterro seria certo em Palme (se já não se recordam, consultem os posts dessa altura, onde estão os folhetos das campanhas). Qual foi o desenlace desta história? O PS venceu a Câmara Municipal e, pouco tempo depois, o problema do aterro foi resolvido, tendo sido encontrada uma localização alternativa e pacífica. Pelo meio foram divulgados documentos que comprovam que Palme era a escolha de Fernando Reis (e de Domingos Araújo, à data seu chefe de gabinete). Era este o presente envenenado que ele tinha reservado para os seus súbditos de Palme, que sempre lhe tiveram uma fidelidade canina e, muitos deles, preferiam mil vezes ter cá o aterro que ter o Costa Gomes na Câmara Municipal. Conclusão: fomos duplamente enganados. Fomos iludidos pela Junta de Freguesia, que defendia a posição de Reis (“temos a palavra do Dr. Fernando Reis que está ao lado de Palme” e “mantemos todo o apoio ao Dr. Fernando Reis”); e fomos aldrabados pelo dito cujo que, cobardemente, dizia que Palme não seria o destino final e, pela calada, dava andamento ao processo. Vade retro, cruzes canhoto!! Além disso, ficámos a saber que o PSD de Palme também não é de confiança em questões de adivinhações, profecias e outras ciências ocultas…

Desta encruzilhada diabólica safámo-nos porque outros tiveram o bom senso de escolher por nós. Não menos espantoso foi o agradecimento público feito pelo ainda Presidente da Junta de Palme (num infomail do MIB!) à decisão do presidente da Câmara, o que foi entendido por alguns como um apoio à lista do PS!...

Passemos agora à atuação da Junta nos últimos 4 anos. Foi um mandato animado, não pelo que foi feito, mas pela balbúrdia interna que se viveu e que terá estado na origem do surgimento de duas listas do PSD. Tivemos o presidente da Assembleia de Freguesia que resignou. Depois, assistimos a uma remodelação da Junta, após a renúncia ao cargo do Secretário e Tesoureiro, que bateram com a porta a meio do mandato (numa estratégia para o antigo Secretário se apresentar agora aos eleitores de cara lavada, pelo menos é o que se diz por aí…). Estas trapalhadas e jogadas políticas eram de somenos importância se o compromisso eleitoral de 2009 tivesse sido cumprido ou se, pelo menos, algumas das promessas tivessem sido realizadas ou até iniciadas. Ainda houve uma réstia de esperança que alguma coisa fosse feita nestas últimas semanas, algum anúncio sequer! Mas nada de nada, absolutamente nada! Não houve uma única promessazinha que tivesse sido cumprida. Nada saiu do papel. E este foi o terceiro embuste que nos fizeram crer passar. Como pode a freguesia progredir se nada for feito? Que sustentação tem uma candidatura que se assumia “em defesa e progresso de Palme” se mais não fez que contribuir para o seu retrocesso? Como podem as promessas eleitorais transitar de campanha em campanha, como quem atira barro à parede a ver se cola? Tudo isto denota uma hipocrisia muito grande, um enorme desrespeito pelas pessoas e uma assombrosa falta de afeto pela nossa terra. Mas a desfaçatez faz escola e lá continua o seu caminho. Caso contrário não se entende como o atual candidato pelo PSD vem dizer que a recuperação do edifício da escola velha, degradado e propício à prática de vícios torpes, é uma das suas prioridades no caso de ser eleito. Então o senhor candidato não esteve vários anos na Junta até se demitir? Porque não pensou nisso antes? Foi só agora que reparou naquela placa que está lá desde 2005 (pelo menos) a esconder um vidro partido? E como é possível que o cabeça de lista do PSD à Junta apoie Domingos Araújo quando, por vontade deste, Palme estaria transformado numa gigantesca lixeira?

É evidente que, numa freguesia onde as pessoas não sofressem de partidite aguda, estes senhores não tinham uma segunda oportunidade, quanto mais uma terceira e uma quarta. Eram logo enxotados nas eleições seguintes. Mas agora em Palme, não há stress, está-se bem! Aqui o pessoal vota de cruz, não são precisas muitas canseiras. Lá diz o ditado: em terra de cegos, quem tem olho é rei!....





quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Aceitam-se candidaturas espontâneas

Avisam-se todos os interessados que o XIX Governo Constitucional da República Portuguesa aceita candidaturas espontâneas para desempenhar funções governativas. O anúncio foi publicado no site do IEFP e visa recolher currículos de pessoas que estejam disponíveis para exercer funções no Governo. O processo de seleção compreende critérios gerais e outros de caráter eliminatório, sendo que quem não cumprir estes últimos, escusa de acalentar esperanças de vir a exercer funções no Executivo. Os critérios gerais são os seguintes:

- idade mínima de 18 anos;
- fluência das línguas alemã e inglesa e conhecimentos básicos de português;
- habilitações literárias mínimas: 9º ano de escolaridade, desde que tenha um relevante percurso profissional, suscetível de ser equiparado a uma licenciatura.
Os critérios eliminatórios são os seguintes:

- ser militante ou simpatizante do PSD ou do CDS (no caso de simpatizante terá que fazer uma prova que consiste em ingerir 3kg de laranja amarga (Citrus aurantium) sem sofrer uma crise de vesícula);
- ter desempenhado funções que tenham lesado de forma significativa o Estado (as probabilidades de ingressar no Governo serão tanto maiores quanto mais ruinosa tiver sido a atuação do candidato);
- ter passado pela SLN ou pelo BPN no exercício de funções executivas/administrativas ou que tenha triplicado o património no BPN com investimentos em regime de inside trading, que não estão ao alcance do cidadão comum;
- sofrer de problemas irreversíveis de amnésia que levem os candidatos a não se recordarem de reuniões mantidas, de pessoas contactadas, de documentos assinados, de telefonemas e de emails enviados/recebidos no exercício das suas anteriores funções;
- revelar elevada capacidade de endrominar as pessoas. Neste caso, o atestado será passado por um júri de inquestionável currículo, que é constituído por Dias Loureiro, Duarte Lima e Vale e Azevedo.

O processo de recolha de candidaturas destina-se a criar uma base de recrutamento onde o Executivo possa rapidamente aceder para suprir as vagas geradas pelas sucessivas reestruturações e remodelações governamentais. Esta necessidade foi sentida com as dificuldades em preencher o lugar deixado vago pela recente saída do Secretário de Estado do Tesouro, que levou a Sr.ª. Ministra das Finanças a acumular mais este fardo. Portanto, se houver palmenses que cumpram as referidas condições, não hesitem em concorrer, enviando o currículo para: eutambemquero@gov.pt! O serviço é precário e comporta alguns riscos (como o de ser escarrado e insultado em público), mas o Governo acena com uma remuneração acima da média e com a possibilidade de emprego futuro (vulgo tacho) nos despojos que sobrarem do edifício público que, entretanto, será desmantelado.

Vem isto a propósito do desfecho da crise política ocorrida no mês passado. A tragicomédia de que se falava no último post (publicado a meio dessa inenarrável trapalhada) contou com a participação de um ator improvável, que não costuma envolver-se em jogadas políticas: o Sr. Presidente da República. Inesperadamente, recusou a proposta de Governo cozinhada por Passos e Portas e veio reclamar a participação do PS para formar um Governo de Salvação Nacional, que conduziria os destinos do país até ao fim do Programa de Assistência (ainda há quem acredite que seja em 2014!), altura em que se comprometia a convocar eleições antecipadas. Uau, desta é que ninguém estava à espera!! Há vários motivos que podem ter pesado na decisão do Sr. Presidente de não querer reconduzir o Governo recauchutado, numa lógica puro taticismo político:

 (i) afetar preocupação com o rumo do país (de colocar no topo das suas prioridades o “superior interesse nacional” como não se cansa de dizer) com o objetivo de recuperar a sua depauperada imagem pública;
(ii) dar uma bofetada de luva branca aos detratores que o acusam de passividade, de inatividade e de inutilidade;
(iii) proteger o seu partido político (PSD) das garras afiadas do CDS e do desgaste das políticas, às quais queria que o PS se vinculasse também num entendimento governamental;
(iv) entalar politicamente o PS, forçando o partido a envolver-se na solução governativa e nas políticas de mais austeridade que aí vêm ou responsabilizando-o pelo fracasso da iniciativa em caso de não acordo;
(v) tirar o tapete ao Portas e ao CDS, numa vingança servida a frio pois, como é sabido, o Sr. Presidente abomina o Portas por este lhe ter feito a vida negra quando era Diretor do Independente.

A jogada política era de elevado risco, tendo em conta as posições extremadas dos dois maiores partidos e as dificuldades de consenso em questões fraturantes, como a reforma do Estado. Por isso, foi sem surpresas que o país tomou conhecimento do fracasso das negociações, tendo passado novamente para Belém a resolução do problema. E, apenas uma semana depois de ter chumbado a proposta que lhe fora apresentada e sem que tenha havido qualquer alteração, o Sr. Presidente engoliu um enorme sapo, voltou atrás e acabou por aceitar a solução inicial. Maior tiro no próprio pé seria difícil de dar! O Governo de Salvação Nacional passou de prioritário a dispensável; a proposta de Governo que era inaceitável passou a ser apropriada; as eleições que eram para ser antecipadas, afinal serão no final da legislatura. Com a pirueta que deu, o Sr. Presidente ficou muito mal na fotografia, deixando claro que é o principal sustentáculo de um Governo em que ele próprio não acredita. Mas os partidos também saíram chamuscados da crise política:

- O PSD perdeu porque foi para o debate com o PS por imposição do Sr. Presidente. Não manifestou vontade de dialogar, não cedeu um milímetro nas políticas que pretende implementar, o próprio primeiro-ministro fez declarações públicas contrárias às instruções do Sr. Presidente (que a legislatura era para ir até ao fim) e que dificultaram a obtenção do compromisso.
- Para o PS, o diálogo mantido com o PSD foi um frete feito ao Sr. Presidente. O partido revelou-se inamovível nas políticas que defende (contra a austeridade), o Seguro fez uma declaração à Sócrates no final das rondas negociais, foi coresponsabilizado pelo falhanço das negociações e não se livrou de algumas críticas internas (como as de Soares) por o partido se ter envolvido nas negociações.
- Perdeu também o BE, porque as rondas negociais mantidas com o PS para a construção de uma alternativa de esquerda foram infrutíferas por incompatibilidades de posições com o PS. Uma delas foi a questão de Portugal sair da NATO, como se esse fosse o problema mais premente que o país enfrenta no presente…
- Perdeu o CDS porque, apesar de fazer parte da coligação, foi secundarizado nas rondas negociais e porque o seu líder foi o responsável pela crise política gerada. Aliás, um dos motivos que levou o Sr. Presidente a torcer o nariz à proposta que lhe foi apresentada foi o aumento de poder que o CDS (e Portas) conseguiriam com a recauchutagem do Governo.
- O PCP foi, porventura, o que menos perdeu nesta crise, pois manteve-se fiel e coerente com as propostas que vem defendendo, recusando qualquer proposta de coligação com o PS e não admitindo outra possibilidade que não seja a demissão do Governo e a realização de eleições antecipadas. Ainda assim não se livra de ser visto como um partido de mera oposição….

Como se não bastasse a crise política gerada no seio do Governo e a forma inusitada como o Sr. Presidente a procurou gerir, o arranjinho de Passos e Portas ainda conseguiu gerar mais problemas. Para além de surgirem mais ministérios, com todas as complicações e custos que isso acarreta, demonstrando que a criação de super-ministérios foi mais um erro crasso do Governo (porque simplesmente são ingeríveis), foram convidadas pessoas de currículo muito questionável para o exercício das funções governativas. 

A ex-Secretária de Estado do Tesouro, apesar de estar enterrada até ao pescoço no escândalo das SWAPS, foi promovida a Ministra das Finanças, numa espécie de condecoração pelos maus serviços prestados ao país. Pelo meio ficou a saber-se que mentiu aos deputados da Comissão de Inquérito (os emails publicados na imprensa comprovam que estava ao corrente dos contratos). É uma Ministra gravemente ferida de credibilidade, que não tem o apoio do CDS, com condições muito precárias para desempenhar a exigente tarefa que tem pela frente.

Depois, temos o caso do novo Secretário de Estado do Tesouro que, qual Jim Carey, mentiu compulsivamente aos deputados e ao país, ao negar ter estado envolvido na venda de SWAPS ao anterior Governo, que se revelaram ruinosas para o Estado, mas um ótimo investimento para o grupo financeiro que representava. Demitiu-se depois de inúmeras contradições e da revelação de provas comprometedoras do seu envolvimento nos negócios.

Como se não bastasse, temos ainda o caso do substituto de Portas nos Negócios Estrangeiros (Rui Machete) que para além de ter desempenhado funções de gestão no BPN, ganhou uma pipa de massa numa negociata com ações do banco, tendo conseguido um retorno 2,5 vezes superior ao obtido por outras entidades. Foi um negócio em tudo semelhante ao realizado pelo Sr. Presidente que, em 2003, ganhou 150000€ com ações do BPN e a filha uns míseros 209000€ (mas não digam nada, que ele ofende-se muito com este assunto). É óbvio que a lisura do ministro sai amachucada pela participação neste negócio obscuro, não dispondo de condições políticas e morais para exercer o cargo em que foi empossado.

Portanto, num espaço de um mês assistimos a um conjunto de episódios em que o Presidente da República, o Governo e os partidos mais não fizeram que denegrir a imagem dos políticos e fragilizar o regime democrático do país. Chegamos a um ponto em que já nem há qualquer pudor na escolha das pessoas que vão exercer funções no próprio Governo. Pelo contrário, o primeiro-ministro até faz questão de convidar pessoas que tenham engordado à custa do Estado ou que, pelo menos, tenham esmifrado as contas do erário público. Então a obsessão por convidar personalidades que estiveram ligadas ao BPN, o maior escândalo do Portugal contemporâneo, é inquietante e dá que pensar. Alguém ficaria surpreendido se, num destes dias, o Oliveira e Costa fosse nomeado para uma discreta Subsecretaria de Estado? É óbvio que não. Ninguém pode levar a sério estes impostores, nem há instituições de soberania que mereçam confiança e que zelem pelo interesse dos cidadãos e do país. É um salve-se quem puder, onde o que importa é proteger os interesses pessoais e corporativos daqueles que parasitam à volta do Estado. Dá vontade de citar o grande Aquilino Ribeiro quando, pela voz de António Malhadas, vociferava:

 “Raios partam o Governo mailos governados, raios partam tanto tributo com que a gente de bem tem de ustir para andar aí meia dúzia de figurões, de costa direita, mais farófias que pitos calçudos! Raios partam! O governo é um corpo da guarda que nos defende ou é a quadrilha de olho vivo que não faz senão roubar?”
 (O Malhadinhas, Capítulo X).

terça-feira, 9 de julho de 2013

Comédias

O programa de festas de 2013 da Srª dos Remédios sofreu uma alteração de última hora. A representação do Auto de Floripes e dos Doze Pares de França, comédia muito apreciada e que estava prevista, foi substituída pela atuação do duo PP&PPC. A alteração, informa a Comissão de Festas, foi tomada com o objetivo de atrair mais romeiros e curiosos à festa, uma vez que os cabeças de cartaz  deste ano não são muito sonantes. E porque o dueto está na mó de cima, ao contrário do grupo do Auto de Floripes, que anda pelas ruas da amargura, com poucas atuações e com deserções dos seus elementos. Um ponto de ordem à mesa: a encenação do Auto de Floripes pelas gentes da nossa terra ganha aos pontos aos dois bonifrates que aí vêm atuar. Mas já se sabe como é, valoriza-se sempre mais o que vem de fora, ainda que a qualidade seja manifestamente mais dúbia. Um dos episódios mais marcantes ocorreu há dois anos, quando a Comissão de Festas convidou ranchos de fora para virem atuar à festa, deixando de fora o rancho local. O gesto foi entendido como uma desfeita, tendo merecido reprovação generalizada pelas gentes da nossa terra. Este ano, a Comissão convidou o rancho, que vai ter honras de abrir as festividades, mas a alteração feita ao programa à última da hora dá que pensar.

A decisão é, no mínimo insólita e poderá envolver contornos políticos. Se não houver almofada orçamental para lhes pagar o elevado caché, os elementos da comissão que se amanhem, depois que não venham com peditórios retificativos. Diz-se por aí que as rondas feitas pela freguesia foram parcas e os cortejos ficaram muito aquém das receitas esperadas. Ainda se podem ver por aí uns atrelados de faxina que estão à espera de comprador. Já diz o ditado que não de deve dar um passo maior que a perna, mas neste caso a comissão não quer dar um passo grande, mas sim vários Passos.

O duo em causa é muito popular, mas só nas últimas semanas se prestou a espetáculos públicos de stand up, embora muitos achem que seja mais no estilo de tragicomédia. Os dois atores em causa são, nada mais nada menos, do que Paulo Portas e Pedro Passos Coelho. Esses mesmos, o (ex, atual?) ministro dos negócios estrangeiros (ao que parece vai assumir novas pastas) e o próprio primeiro-ministro. Não acredita? Mas olhe que é mesmo verdade. Com a crise instalada e com as tesouradas que sofreram nos vencimentos, andam a fazer pela vida, como outros artistas itinerantes e, aos fins de semana, vai ser vê-los a animar festas e romarias, ao lado do Emanuel, do Marante e do José Malhoa. Sempre ao mais alto nível e com grande capacidade de improviso. O número que representaram ao longo da última semana, na verdade, só está ao alcance dos melhores prestidigitadores.

A crise política dos últimos dias não tem paralelo na história democrática do país, foi a maior palhaçada de que há memória e só não dá para rir, porque todos nós sofremos com as trapaças, as traições, as vaidades e as ambições pessoais destes dois pirangas. O Paulo Portas é a desfaçatez encarnada em pessoa, é o camaleão com mais células cromáticas na pele, é o mais ressabiado e dissimulado político que anda na praça portuguesa. Na oposição, é o maior defensor dos reformados, dos pensionistas minguados, dos agricultores (ou dos lavradores como gosta de proferir num registo saudosista), dos pobres e dos oprimidos. No governo, zás, aprova cortes nos pensionistas e nos apoios sociais, obriga os pequenos agricultores a coletarem-se para que possam auferir uns míseros subsídios, taxa os feirantes, a quem dá palmadinhas nas costas nas campanhas eleitorais, aceita a subida incomportável das rendas dos idosos, que são a sua fonte de preocupações, etc. Mas fazer o contrário do que se promete nas campanhas eleitorais está no ADN dos políticos. Isso aconteceu com Durão, com Sócrates e com o atual primeiro-ministro. Agora, com Paulo Portas estas reviravoltas têm requintes mais subtis. É uma criatura que se move por meras ambições pessoais e partidárias, coloca sempre o seu ego à frente dos demais e do país, é convencido e presunçoso, pois acha que tudo o que faz, faz bem. Então agora, na pasta que tutela (ou tutelava), muitas vezes à revelia do Álvaro, é um autêntico vendedor de banha de cobra, que anda por esse mundo fora a vender as oportunidades de investimento e os recursos existentes em Portugal. Mas na primeira oportunidade, não enjeita criar uma enorme crise política, que leva esses mesmos investidores a baterem as asas para bem longe do país. Ao que parece nem os próprios correligionários do partido respeita, toma as decisões sem dar cavaco a ninguém e foi ver os pobres centristas, espavoridos como baratas tontas, coitados, a ver o poder a fugir por entre os dedos, sem saber o que dizer, nem o que fazer. Agora como não é homem de palavra, nem tem cara lavada, o que era irrevogável, passou a sê-lo, e como o primeiro-ministro, temeroso, lhe acenou com novas e mais importantes funções, Paulo Portas deixou o dito pelo não dito e aceitou manter-se no poleiro, agora numa vara mais alta. Imagina-se já a justificação que vai dar: foi pelo interesse nacional e pelas pressões de vários quadrantes que sofreu para voltar atrás na sua decisão. Tem sete vidas como os gatos, é uma  raposa matreira e não olha a meios para atingir os fins a que se propõe.

O outro ator é um Coelho indefeso que se deixou atacar pela raposa. O Pedro Passos Coelho é um produto das “jotinhas”, o estereótipo daqueles que sempre cresceram à sombra do partido e das amizades políticas, que foram fontes de empregos, de conhecimentos e de promoções. Ideologicamente obcecado, defende mais a finança estrangeira que tem a pata sobre o cachaço do país, do que os portugueses que o elegeram, na sequência de um programa que foi totalmente abalroado. É um líder fraco, de quem não se conhece uma visão estratégica para o futuro do país. E está a ficar órfão. Primeiro e muito contra a sua vontade, viu sair Miguel Relvas, o mentor do programa que o levou à conquista do poder. E mais recentemente perdeu o seu grande aliado ideológico no governo, o Vítor Gaspar. Este foi mais um mercenário que por aqui passou a soldo dos grupos de interesses estrangeiros e a sua saída ficou a dever-se, como o próprio reconheceu na inédita carta que escreveu, ao fracasso das suas políticas. Ora sem mãe nem pai que o protegesse, a raposa viu o coelho muito vulnerável, e vai daí, afiou o dente e decidiu atacar. O golpe que lhe desferiu não foi fatal, mas foi suficiente para o mutilar e para sair vencedor da contenda.

O resto da história é o folhetim conhecido. A escolha da (muito questionável) nova ministra das finanças não agradou ao Portas que, amuado por supostamente não ter sido ouvido, decidiu partir a loiça, apresentando a demissão. O primeiro-ministro afetou estupefação com a decisão de Portas, o Cavaco sentiu-se novamente ofendido por não ter sido informado, o Seguro aterrorizado com a possibilidade do poder lhe cair assim nas mãos, os partidos da esquerda, eufóricos com o cenário de eleições à vista, os partidos do poder atónitos sem saber o que dizer, os comentadores fervorosos com tanto debate e artigo de opinião, os jornalistas excitados com a catadupa de informação que era posta circular a cada momento, as entidades internacionais incrédulas com a demência dos políticos portugueses e o povo entretido com a paródia presenteada pelos seus representantes, aos quais não foi concedida a possibilidade de escolherem o desfecho.

Nos poucos dias que durou este folhetim deu-se cabo da credibilidade externa do país, fez-se tábua rasa dos draconianos sacrifícios impostos aos portugueses, provocou-se uma subida dos custos de financiamento do país e lançou-se o caos nas praças financeiras. Agora que a borrasca está a amainar, querem-nos fazer crer que tudo está bem, aliás que o governo até está mais forte. Balelas! É por isso que esta história é de ir às lágrimas. O que houve foi um arranjinho entre os dois líderes dos partidos do governo, onde as condições impostas por Paulo Portas foram prontamente aceites pelo Passos Coelho para aguentar o barco até onde der. O governo continua com legitimidade para governar, mas perdeu a credibilidade para o fazer. Resistiu aos ataques externos da oposição, das centrais sindicais e do tribunal constitucional, mas não aguentou as deslealdades internas e entrou em implosão. E o Cavaco, lá continua barricado em Belém, sem aparecer ao país, agora entretido com audiências a partidos e parceiros sociais para dizer que ainda está vivo, que tem poderes. Sem que ainda tenha tomado qualquer decisão, já foi novamente desautorizado por diversas entidades internacionais, que já vieram a público regozijar-se com a solução encontrada pelos farsolas para a resolução da crise. Mas é provável que daqui a uns dias venha a público dizer que foi devido à sua ação nos bastidores que a crise foi ultrapassada, para assim somar alguns pontos à sua depauperada imagem pública…

Tudo isto é triste, tudo isto é fado! Enquanto continuarmos a ser governados por uma classe política, despojada de sentido de Estado e de valores morais e éticos, não sairemos da cepa torta e o futuro de todos nós e do país continuará a ser sombrio. Eles governam-se a eles, mas não governam para o país. O povo português é sereno e pacífico (é o melhor do mundo como alguém já disse), por isso vamos esboçando sorrisos a estas garotices políticas. Resta saber até quando?!



PS: Há por aí quem defenda a teoria da conspiração, ou seja, que esta triste paródia foi uma inventona, que estava tudo combinado, que foi uma encenação para mostrar quão valiosa é a estabilidade política e para legitimar os futuros cortes que estão na calha!! Será que a infâmia, a indecência e o desrespeito pelas pessoas poderá ir tão longe?! Não sei, mas eu não ponho a mão no fogo por estes senhores…





quinta-feira, 30 de maio de 2013

História e acontecimentos marcantes da freguesia de Palme (III)

Com este post fecha-se a digressão aos acontecimentos históricos mais marcantes da freguesia de Palme. Neste último capítulo abordam-se os episódios que ocorreram ao longo dos últimos duzentos anos, desde o início do século XIX até aos nossos dias. Contudo, o trabalho de investigação histórica não se dá por concluído (como o comprova o texto seguinte), ficando o compromisso de ir atualizando/retificando a informação à medida que surjam novos elementos. Do mesmo modo deixa-se o repto a todos que estejam na posse de informações não prestadas para que façam chegar as suas contribuições com o objetivo de enriquecer a análise histórica. Espera-se que os três posts publicados tenham sido do agrado de todos e que tenham servido para transmitir quão tão antiga e rica é a história da nossa terra.


Parte III
Do século XIX à atualidade

As invasões francesas foram um dos acontecimentos mais marcantes da história portuguesa do início do século XIX. Em particular, a segunda invasão (1809) teve uma repercussão direta na região Norte do país. Os invasores, comandados pelo general Soult, romperam pela fronteira de Chaves, com a determinação de chegarem ao Porto. Nessa caminhada, os gauleses depararam-se com a resistência oferecida pelo exército e pelas milícias populares, de que resultaram várias batalhas, tendo sido uma das mais sangrentas a que se travou às portas de Braga, cidade que, no entanto, viria a cair nas mãos dos invasores. Daqui, os franceses ocuparam diversas cidades, como Barcelos, e dirigiram-se para o Porto. Ao cabo de semanas de confrontos, o exército português, auxiliado pelas forças inglesas, deitou por terra os intentos do invasor, obrigando-o a bater em retirada por Barcelos e Ponte de Lima e daí para a Galiza. Na debandada, os invasores saquearam e vandalizaram o que puderam e envolveram-se em diversas escaramuças com as milícias populares. Há relatos que os barcelenses constituíram focos de resistência e emboscadas aos franceses, provocando-lhes diversas baixas, como sucedeu em Carvalhal. Na investigação efetuada, não há qualquer indício de que as tropas francesas tenham passado por Palme, nem à data da invasão, nem da sua retirada. Contudo há relatos de confrontos em freguesias próximas (Creixomil) e Teotónio (1987) refere que os gauleses estiveram nos Feitos. Por isso, não será de excluir que os palmenses tenham participado nas milícias populares ou que tenham, de algum outro modo, reagido à presença próxima do inimigo. Este é um assunto que se procurará aquilatar no futuro, para se perceber se houve um envolvimento ativo dos palmenses na resistência e/ou se os franceses estiveram efetivamente na nossa terra.

O ano de 1834 foi marcante na história da freguesia de Palme por dois acontecimentos. As reformas levadas a cabo pelos liberais determinaram a extinção das ordens religiosas em todo o país. Esta medida levou ao encerramento do mosteiro de Palme que à data da extinção contava já com um reduzido número de monges. Por conseguinte, o mosteiro e os terrenos envolventes foram desamortizados dos bens eclesiásticos e foram incorporados nos bens nacionais, tendo sido arrematados pela família Moniz de Moncorvo, mais concretamente pelo Bispo do Porto (D. António Bernardo da Fonseca Moniz). Por outro lado, 1834 corresponde também ao ano em que a freguesia de S. Salvador foi anexada à de Santo André, que passaram a ser conhecidas apenas por Palme. A fusão destas freguesias surge na sequência das reformas levadas a cabo nesta altura, que deram origem a um novo mapa administrativo, onde a nota dominante foi a redução do número de concelhos e de freguesias. A anexação de S. Salvador à freguesia de Santo André terá ficado a dever-se à maior dimensão demográfica e territorial desta última. Com este processo, os lugares de Bustelo, de Trás e do Mosteiro passaram a ficar integrados na freguesia de Santo André de Palme, que viu assim aumentar o seu território. De notar que alguns anos mais tarde, o desenho territorial da freguesia foi novamente alterado com a anexação da freguesia de Feitos à de Palme. Esta fusão durou 60 anos, período durante o qual a freguesia foi designada por Palme e Feitos. As freguesias separaram-se novamente em finais de 1904 conforme o decretado no alvará do Governo Civil de 27/12/1904, publicado no Diário do Governo (nº295) em 30/12/1904. Na segunda metade do século XIX, na sequência do Código Martins Ferrão, esteve iminente uma outra alteração administrativa que, contudo, não saiu do papel. O documento previa que Palme e outras freguesias limítrofes (como Fragoso) passassem a integrar o concelho de Esposende, mas esta proposta não foi avante, pois o referido Código não chegou a entrar em vigor, uma vez que foi alvo de forte contestação popular.

Em meados do século XIX, Palme deu título a um baronato: o Barão de Palme. Trata-se do mais baixo dos títulos da nobreza (inferior ao de Conde ou de Duque, por exemplo), com o qual foi agraciado José Maria da Fonseca de Moniz, irmão do bispo do Porto que comprara o mosteiro. O primeiro barão de Palme destacou-se pela determinação dos seus ideais e pela bravura com que os defendeu. Participou na Guerra Peninsular, combatendo as tropas Napoleónicas; esteve exilado em Inglaterra por ser contrário à governação absolutista de D. Miguel; da Inglaterra passou para a ilha Terceira, único ponto do país que não se subjugou ao domínio de D. Miguel; foi um dos bravos que desembarcou no Mindelo em 1832; lutou durante as guerras civis sempre ao lado dos liberais, tendo ficado ferido na batalha da Ponte Ferreira e na acção das linhas de Lisboa; participou nas lutas de Maria da Fonte; em 1846 e em 1851-52 foi Deputado na Assembleia, tendo também participado no movimento da Regeneração. Por esta intensa carreira político-militar, José Fonseca de Moniz viria a ser agraciado com o título de barão de Palme em 2 de Junho de 1851. O seu corpo jaz na capela do mosteiro, num mausoléu de mármore que tem a seguinte inscrição: ”Aqui jaz José Maria Fonseca de Moniz barão de Palme brigadeiro do exército nasceu a 20 de Dezembro de 1794 e faleceu em Lisboa a 20 de Dezembro de 1862. Em testemunho de saudade fraterna” (Teotónio, 1987). Os barões de Palme que se seguiram foram D. Gertrudes Ermelinda Moniz e José Cardoso Moniz que eram respectivamente filha e neto do primeiro barão.

Um dos acontecimentos históricos mais marcantes da freguesia de Palme no dealbar do século XX (1903) foi a passagem do rei D. Carlos pela nossa terra. As maiores manobras militares do tempo da monarquia ocorreram no reinado de D. Carlos. As ações militares foram realizadas sob o comando do Ministro da Guerra da altura, o General Luís Augusto Pimentel Pinto. O palco das operações foram os montes das freguesias de Feitos, Palme e Fragoso. Os exercícios militares aconteceram nos dias 15-18 de Setembro de 1903 e foram  presididos in loco pelo rei D. Carlos e pelo infante D. Afonso. Consta-se que as manobras atraíram um grande número de populares e de curiosos. Um deles, que viria a ficar conhecido por Zé Maneta, terá encontrado uma peça de artilharia que, ao manuseá-la, lhe explodiu nas mãos. Na sua viagem para assistir às manobras, o rei D. Carlos mandou levantar uma tenda junto à actual EN103, à sombra de um sobreiro, que viria a ficar conhecido por “Sobreiro do Rei” que ainda não há muitos anos podia ser admirado por quem por ali passasse. Segundo os relatos da época, este acontecimento atraiu muitos populares que acorreram ao local com o intuito de lobrigar o Rei, o que não foi tarefa fácil, pois de acordo com testemunhos da época, a tropa, montada a cavalo, formava um círculo de segurança em torno dos elementos da comitiva. Idêntico espanto e assombro deve ter causado aos populares o automóvel em que D. Carlos viajava, pois muitos deles (senão mesmo a totalidade) jamais teria visto tal veículo motorizado que, muito provavelmente, foi o primeiro a percorrer os caminhos da nossa terra.

Ainda no início do século XX, um outro aspecto digno de relato relaciona-se com a venda da valiosa biblioteca do mosteiro de Palme. A coleção de livros que os monges deixaram atrás de si despertou o interesse de um alfarrabista de Lisboa (Manoel dos Santos), que se meteu ao caminho para tentar fazer negócio com o herdeiro do antigo bispo do Porto, para quem a posse do mosteiro transitara. Depois de pernoitar na cidade de Viana do Castelo, o alfarrabista deslocou-se de comboio até Barroselas, onde alugou um carro de tracção animal que o trouxe até Palme. O pitoresco desta história reside na recusa do caseiro do mosteiro em servir carne ao esfaimado alfarrabista, uma vez que era sexta-feira e era necessário guardar a abstinência. Valeu-lhe a intervenção de dois padres que entretanto surgiram e, depois da visita à livraria com o Fidalgo, lá condescenderam que o faminto almoçasse uma pratada de ovos com chouriço, devidamente regada com vinho verde. O negócio com o Fidalgo viria a consumar-se algum tempo depois. A ampla e valiosa colecção de livros do mosteiro viria a ser vendida a partir do dia 5 de abril de 1915 em Lisboa. O alfarrabista vendeu 1153 lotes da biblioteca, os quais renderam 2465$77, sendo conhecida uma relação das pessoas que compraram os livros (Dias, 2011). Os títulos do livro do mosteiro de Palme constam de um inventário de 1834 (Dias, 2011).

Como é sabido, o princípio do século XX ficou marcado pela I Guerra Mundial, conflito no qual Portugal participou contra os Impérios do Eixo. O Corpo Expedicionário Português enviado para combater na Flandres contou com vários homens naturais de Palme. Três deles tombaram em combate em França: um segundo cabo (João Joaquim de Sá Faria) e dois soldados (Adelino de Sá e Manuel Faria). O flagelo da guerra viria a chamar mais portugueses nas décadas de 1960/70 (Guerra Colonial), conflito em que caiu em combate mais um Palmense.

O ano de 1939 ficou na memória de todos por causa de um fenómeno de origem natural que se abateu sobre Palme e sobre as freguesias vizinhas. Nesse ano, uma forte intempérie provocou uma enxurrada de invulgar capacidade destrutiva, que atingiu Palme, mas também Feitos, Aldreu e Fragoso. A borrasca atingiu mais severamente os lugares situadas na encosta do monte. A força das águas destruiu tudo à sua passagem, incluindo algumas azenhas que estavam instaladas ao longo dos ribeiros. Uma delas foi arrastada até à ponte da Aldeia, obstruindo a passagem da água que, por esse motivo galgou o tabuleiro da ponte. O caudal da água foi tanto que chegou às janelas de algumas habitações localizadas perto do ribeiro da Aldeia. Os terrenos junto ao ribeiro também foram atingidos, tendo ficado atulhados de areia e de pedregulhos que foram arrastados monte abaixo. Apesar dos contornos violentos do fenómeno, não houve vítimas a lamentar.
O início do século XX foi também marcado por uma questão administrativo-eclesiástica que viria a deixar sequelas para as décadas seguintes, pois tanto a freguesia de Palme como a de Aldreu reclamavam a posse do mosteiro. O ponto principal da discórdia relacionava-se com o traçado da divisória entre as duas freguesias: Aldreu reclamava que o limite administrativo passava bastante mais a Sul do que era considerado até então, pelo que o mosteiro estava integralmente localizado na freguesia; Palme contestava que o limite obedecia a um traçado antigo e que não podia ser alterado, o que implicava que o mosteiro continuasse em Palme, facto que estava até na origem da própria designação do mosteiro. Do ponto de vista religioso, a contenda serenou com a sentença do Tribunal Eclesiástico de Braga de 14-01-1929, que determinou que, eclesiasticamente, o mosteiro pertence à freguesia de Palme. Escudado nesta decisão, o pároco de Palme continuou a deslocar-se ao mosteiro para celebrar uma das missas dominicais, num gesto de afronta que, obviamente, não era do agrado da população de Aldreu. O Padre Francisco Ribeiro, de Palme, foi um dos que mais se insurgiu contra a integração territorial do mosteiro em Aldreu, posição que por diversas lhe pôs em perigo a integridade física aquando das suas incursões à freguesia vizinha. Acicatados pelos clérigos, os populares deram mostras do seu desagrado e a convivência entre as duas freguesias foi difícil durante anos por causa desta questão. As placas identificadoras das freguesias eram o alvo preferencial do desagrado dos populares, sendo frequentemente vandalizadas e repelidas para os locais considerados como limite correto pelos populares de cada freguesia. Só nos últimos anos esta questão parece ter serenado, com a resignação dos de Palme, embora o traçado da divisória ainda não seja um assunto consensual. A própria localização das placas identificadoras das freguesias na EM 305 é disso um bom exemplo, pois sugere que há ali alguns metros de terreno que são disputados por ambas as freguesias.

Bibliografia
- Dias, G. (2011) "As bibliotecas nos mosteiros da antiga congregação beneditina portuguesa". In Revista CEM, Cultura Espaço e Memória, Nº2.
Teotónio, A. (1987) O Concelho de Barcelos Aquém e Além Cávado, Boletim do Grupo Alcaides de Faria, Barcelos.
Revista “O Tripeiro” Ano IX, Nº1, pp.17-23.




Fonte: O Tripeiro, 1953.
José Maria da Fonseca Moniz - o primeiro barão de Palme


Fonte: O Tripeiro, 1953.
D. António Bernardo (Bispo do Porto) - o primeiro proprietário do mosteiro de Palme