domingo, 31 de janeiro de 2016

Eleições presidenciais 2016

No passado domingo fomos chamados a eleger o novo Presidente da República. A campanha eleitoral foi morna e desinteressante. Os debates desenxabidos e sonolentos. Esgrimiram-se acusações pessoais (você chamou Léle da Cuca ao Pinto Balsemão!), levantaram-se dúvidas sobre a formação dos candidatos, competiu-se para ver quem era mais independente, deram-se informações inesperadas sobre o número do calçado e a altura dos candidatos. Tudo questões relacionadas com o “superior interesse nacional”. 

Ao Marcelo, dominicalmente em campanha eleitoral há mais de 10 anos, bastou-lhe fazer de morto e manter uma distância higiénica a Passos Coelho. Distribuiu sorrisos e palmadinhas nas costas, piscou o olho à esquerda, elegeu a simpatia como bandeira da sua presidência e geriu (e encenou) como ninguém os aparecimentos televisivos, mesmo no dia das eleições. A estratégia resultou e conquistou 52% dos votos, evitando os dissabores de ir a uma segunda volta. 

Os candidatos da área do PS, Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, envolveram-se numa luta fratricida, uma espécie de segundas primárias entre Costa e Seguro. À semelhança do que sucedeu em 2006, o PS não foi capaz de unificar o apoio em torno de um único candidato, facilitando a vida ao candidato da direita. Maria de Belém, com uma campanha oca de ideias e de projetos, foi abalroada pelo escândalo das subvenções e acabou por obter uma votação vergonhosa. Por isso, Costa apesar de ter perdido novamente umas eleições, teve mais uma vitória, pois afastou definitivamente a oposição interna segurista. 

A Marisa Matias foi uma das surpresas positivas das eleições. A tal “candidata engraçadinha” de que o Jerónimo falou, impôs-se com ideias claras, marcou a agenda dos debates, fez uma campanha séria e passou a imagem de uma mulher de raízes humildes, que chora, comove-se e bate-se pela defesa dos mais vulneráveis. Conseguiu uma votação histórica. Pelo contrário, Edgar Silva obteve um resultado muito magro, que deve ter deixado o Jerónimo apreensivo quanto à estratégia a seguir. O PCP, ao contrário do Bloco, continua amarrado a um passado que se auto-implodiu e a defender o indefensável. Por exemplo, não se percebem as hesitações e os circunlóquios do Edgar Silva, quando lhe perguntaram se a Coreia do Norte é uma ditadura. É uma ditadura horrenda que oprime o povo e ponto final. Só não vê quem não quer. 

Os restantes candidatos eram os peixes miúdos, desalinhados do sistema, em busca de protagonismo. O Tino de Rans, com aquela sua boa disposição e simplicidade que a gaguez ainda acentua mais, teve uma votação expressiva, ficando a escassos 50 mil votos da experiente Maria de Belém. O voto no Tino foi um voto de protesto dos que se opõem ao sistema instituído e que viam no calceteiro a possibilidade de se auto-elegerem para Belém. O Paulo Morais parecia um disco riscado sempre a martelar na tecla da corrupção. E daí não saía mesmo que lhe perguntassem sobre o estado do tempo (está a chover porque corromperam o S. Pedro…). Com aquele discurso repetido até à exaustão, cansou e desmobilizou os eleitores. Agora, Paulo Morais deve estar a pensar que a maioria dos portugueses foi corrompida pelo Marcelo. O Henrique Neto é um caso de psiquiatria ou de mudança de personalidade. O empresário que vinha da esquerda, assumiu-se com um discurso neo-liberal de direita, populista e com laivos fascistas. Como se não bastasse, assumiu-se como um visionário que foi capaz de antever muitos acontecimentos, como a crise de 2008 e o estado islâmico. Nem a Maya! Só não previu a sua derrota estrondosa. Os outros dois candidatos disputaram os últimos lugares, um vai ficar conhecido pelos óculos extravagantes, o outro por desconfiar que todos têm diplomas falsificados.

Com semelhante painel de candidatos e, em tais circunstâncias, o Marcelo não precisou de se esforçar muito para que os portugueses lhe dessem um claro voto de confiança. E assim vai suceder ao mais medíocre presidente que tivemos no pós 25 de Abril que, ao longo de 10 anos viveu acantonado no Palácio de Belém, refém das suas ideologias e das suas manobras nos bastidores, denegrindo o cargo presidencial e traindo reiteradamente as funções que jurou cumprir e fazer cumprir. Um presidente acanhado, irritado, desconfiado, continuamente a gerir silêncios e tabus, que sempre que falava, geralmente se enterrava. Não vai deixar saudades! É praticamente impossível que Marcelo não seja um presidente melhor.

Em Palme, os resultados não diferiram muito dos registados a nível nacional. Conservadores, os eleitores da freguesia votaram massivamente em Marcelo, que teve mais votos que todos os outros candidatos juntos. Mais que Marcelo, só mesmo a abstenção. Do total de inscritos nos cadernos eleitorais da freguesia, 460 não foram votar. Ainda assim, a abstenção em Palme (47%) foi inferior à média nacional que superou novamente os 50%. Se a abstenção contasse e não tivesse limite de mandatos, sucederia a si mesmo no Palácio de Belém, que ficaria novamente sem inquilino. Em Palme, o segundo candidato mais votado foi o Sampaio da Nóvoa, ao que se seguiu o Tino de Rans, que amealhou mais votos que candidatos do sistema, como Marisa Matias, Maria de Belém e Edgar Silva. O Jorge Sequeira, com aquele discurso motivacional, não convenceu nenhum palmense a votar nele. E pronto, está tudo dito. O palácio de Belém já tem inquilino para os próximos 10 anos. Em 2026 chegará a vez de outro.

Resultados das eleições presidenciais 2016 em Palme