terça-feira, 30 de junho de 2015

A festa do Santo António

Ao fim de quase 30 anos voltou a fazer-se a festa do Santo António em Palme. Depois da Capela do Senhor dos Aflitos ter sido restaurada, já tinham havido algumas tentativas de recuperar a festa, nomeadamente com missas cantadas e sermões pelo Santo António. Até que este ano foi constituída uma comissão de festas à última da hora, que foi responsável pela organização do evento.

Na década de 1980, a festa em honra do Santo António e São Silvestre (era assim que era conhecida) era uma das mais badaladas das redondezas. O concurso/mostra de gado era um dos ex-libris da festa, pois como toda a gente sabe, o Santo António, para além de casamenteiro, é o patrono dos animais. Nessa altura, a maior parte das pessoas tinha gado e os mais briosos engalanavam os seus animais e participavam na romaria, levando o animal mais gordo, o mais asseado, a vaca com o úbere maior, etc. Era uma prova muito concorrida, com muitas cabeças de gado, onde as pessoas acorriam em força para apreciar os animais, discutir a justiça dos vencedores, dar dois dedos de conversa. Ao sábado havia também as entradas das bandas de música ao som de ruidoso foguetório, sem paralelo na região nessa altura. À noite, arraial com atuação de grupos musicais, que terminava com o céu aberto de claridade do fogo-de-artifício e do fogo preso. Ao domingo à tarde e, depois da parte religiosa, lembro-me da representação do Auto de Floripes, que era realizado à fresca, por debaixo de uma ramada de vinha moranga, onde o Brutamontes saltava como uma cabrita desvairada. Se a memória não me atraiçoa, a última festa realizou-se em 1986 e estoirou por causa do elevado orçamento que, à data, já era incomportável para a freguesia. A partir de então passou a realizar-se apenas a festa da Senhora dos Remédios e, mais irregularmente, a do Santo André.

Não deixa de ser curioso notar que a festa do Santo António voltou a fazer-se num ano em que esteve em risco a realização da festa da Senhora dos Remédios. A comissão nomeada para organizar a festa não quis saber e assobiou para o ar como se não fosse nada com eles. Com o passar do tempo, a Fabriqueira apelou à boa vontade dos mais voluntariosos para se organizar uma nova comissão. Mas ninguém se chegou à frente. E quando já se perspetivava uma festa meramente religiosa, assegurada pela Fabriqueira, eis que se formou uma nova comissão para organizar a festa da Senhora dos Remédios. Enganaram-se portanto os mais pessimistas, pois não haverá apenas uma festa, mas sim duas (isto sem contar com a do Dia da Freguesia).

A festa do Santo António foi recatada e, presume-se, não muito dispendiosa. Contou com dois momentos musicais, um no sábado à noite, outro no domingo à tarde. Fogo sem exageros e sem devaneios ao contrário do que se vê nas terras vizinhas. Barraquinhas de comes e bebes. Missa cantada, sermão com pregador de fora, procissão com alguns andores adornados por flores naturais. Simples mas bonitos. A festa foi, contudo, ensombrada por dois acontecimentos. No sábado houve um funeral, que é sempre um momento triste que refreia o clima de festa. E depois, a chuva que caiu no sábado à noite e que terá afastado muita gente de participar na festa. Alguns mais céticos disseram mesmo que a chuva foi encomendada pelo Santo António para, dessa forma, demonstrar o seu desagrado para com o regresso da festa ou, pelo menos, para com os bailaricos, que são sempre a parte mais concorrida. E, neste último ponto, há que dar a razão ao santo, pois a mim também me causa espécie ver tantas centenas de pessoas viradas para o palco, enquanto a capela está vazia e o pobre santo, em honra de quem se faz a festa, totalmente abandonado e esquecido no seu nicho ou pregado no estrado do andor. Até mete dó! E ainda por cima, de vez em quando, tem que aguentar com saraivadas de asneiras e de coriscos dos artistas em palco. Veja-se o “espetáculo” da Ti Maria da Peida de há dois anos na Senhora dos Remédios! Santo é santo, mas até a paciência de santo deve ter limites….

Segue-se que já está nomeada uma nova comissão para organizar a festa do Santo António para o próximo ano. E surpresa das surpresas, no elenco da comissão figuram diversas mulheres, algo completamente inédito na freguesia. Esta é mais uma prova de que as coisas em Palme estão mesmo a mudar e de que, como referi no post de Abril, a tradição já não é o que era! E ainda bem!...