sábado, 30 de setembro de 2017

Palme Autárquicas 2017: 1 X 2

Muito antes da febre das Raspadinhas, do vício do Placard e da excentricidade do Euromilhões, o jogo por excelência era o Totobola, porque conciliava a paixão do futebol com a possibilidade de obter prémios monetários. Para orientar os jogadores havia inclusivamente um programa de televisão a meio da semana, o Vamos Jogar no Totobola. Era um programa de curta duração mas de elevado interesse que discorria sobre um assunto, fosse ele de natureza cultural, histórica, económica, etc. No final do programa, era apresentada uma chave dos resultados prováveis para a jornada seguinte. Nos jogos mais equilibrados, o programa aconselhava o recurso às apostas múltiplas, ou seja, à utilização de duplas e triplas. Com a tripla acerta-se sempre no resultado, já com a dupla o resultado mais improvável poderá sempre acontecer e deitar tudo a perder.

Vem esta historinha do Totobola a propósito do desfecho das eleições autárquicas 2017. Em Palme, a corrida à Junta está renhida, como o comprova a campanha eleitoral que foi ainda mais acesa do que há quatro anos. Aparentemente, a eleição será disputada entre a atual presidente da Junta que concorre pelo PS e a lista independente MIBTF. Da luta que opõe elementos que estavam juntos há quatro anos, desconhece-se o desfecho, pelo se recomenda a utilização de uma dupla. Ao longo da campanha, o braço de ferro entre as duas listas foi duro, mas ninguém vacilou. Se uma lista apresentava uma lona publicitária com 5 metros, a outra encomendava uma de 7 metros; se num determinado local surgia um cartaz, logo à beira aparecia o concorrente; se uma lista dava camisolas, lápis e canetas, logo a outra acrescentava à lista de brindes lenços, blocos de notas e estojos com lápis de cor; se uma lista fazia 80 decibéis de ruído, a outra colocava o som do altifalante no máximo e atingia os 100 decibéis; e assim por diante. Houve algumas escaramuças, com snipers de cada uma das listas a mandar umas bojardas, sem que tenham causado muita mossa. Acusações de deslealdades e abandono na Junta cessante, suspeitas de que foram oferecidos víveres em troca de votos (já em 2009 se disse que o PSD distribuiu carne de novilho por algumas casas na noite antes da eleição), de que as pessoas prometem fazer uma política de proximidade quando estão a milhares de km ou de que foram feitas obras e intervenções no final para caçar votos. Verdade seja dita, nas últimas semanas houve um significativo corrupio de pequenas intervenções. Por exemplo foram colocadas placas nos fontanários a informar da potabilidade das águas e houve uma grande intervenção ao nível da sinalética, com a colocação de um significativo número de sinais novos. São tantos que até custa a acreditar como foram colocados em tão pouco tempo! Infelizmente esta estratégia de empurrar as obras para cima das eleições já tem barbas e basta dar uma volta pelas terras vizinhas para se verificar que há um fervilhar anormal de obras. Ao contrário destas duas listas, a coligação “Mais Barcelos” esteve muito apática: foi a última a entrar em cena, colocou três ou quatro cartazes pequenos, distribuiu uns panfletos, organizou uma mini-caravana que deu meia dúzia de apitadelas e de afoutos, e pouco mais. Só no último dia de campanha deu um ar da sua graça. Falta saber se foi por estratégia deliberada, para recolher dividendos com o espalhafato divisionista dos outros, ou se foi por manifesta incapacidade e inércia da equipa. Ou ainda se simplesmente não estiveram para se chatear! 

Olhemos agora para as propostas. A lista independente MIBTF aposta tudo na política de maior proximidade às pessoas e apresentou (ineditamente) imagens dos projetos que pretende realizar: a ampliação da escola velha, a construção do edifício de serviços no campo de futebol, da rotunda na balança e dos caminhos que serão prioritariamente beneficiados. A imagem dos projetos (reais ou não) sugerem que estão amadurecidos e que já estão planeados e que não são meras ideias ou promessas vãs. Será mesmo assim? A lista do PS apresenta uma extensa lista de objetivos, que vão desde a pavimentação do caminho de Bustelo até à colocação de um piso sintético no campo. Mas haverá dinheiro e será um mandato de quatro anos suficiente para cumprir tanta promessa? De realçar também o livro distribuído pela candidata dando conta de todas as obras feitas e respetivas despesas. Pena este extenso documento não ter sido publicado faseadamente, pelo menos anualmente. No manifesto da coligação Mais Barcelos falam-se de necessidades reais (criação de uma Associação Florestal), prometem-se viagens de avião a quem nunca andou (serão só de ida?) mas também se dão autênticos tiros nos pés. Como é possível a cabeça de lista da coligação falar da necessidade de se ultrapassar a inatividade dos últimos quatro anos, quando ela pertenceu a uma Junta que, essa sim, contam-se pelos dedos de uma mão o que fez! É pena na política andarem pessoas com memória tão curta e com tanta falta de verticalidade. São atitudes destas que descredibilizam por completo a política e as pessoas.

Hoje é o dia de reflexão, dentro de algumas horas saberemos qual o desfecho da eleição. O eleitorado do PSD que, como todos sabem, é maioritário em Palme será decisivo no desfecho da eleição. Irá este eleitorado votar massivamente na coligação “Mais Barcelos”? É improvável, porque para além da candidata não ser consensual, o eleitorado não se esquece que há quatro anos ela liderou uma lista independente que impediu a vitória do PSD. Portanto, a candidata da coligação está fora de combate. Excluindo os caninamente fieis e os que votam de cruz, para que lado vão pender os votos deste eleitorado: para o PS ou para o MIBTF? Qual dos cabeças de lista atrairá mais simpatias deste eleitorado? Em todo o caso e mesmo havendo dúvida quanto ao futuro(a) presidente, é também improvável a existência de uma maioria na Assembleia. O que, considerando as posições extremadas entre o PS e o MIBTF, poderá dificultar a formação da Junta, pois os nomes propostos para vogais pelo novo(a) presidente poderão ser repetidamente chumbados. Se tal acontecer, será necessário recorrer a negociações e a alianças pós-eleitorais, em função da distribuição dos sete lugares da Assembleia de Freguesia pelas três listas. Em tal cenário, deve imperar o bom senso e a noção de que os interesses da freguesia estão sempre acima de objetivos e motivações individuais. Porque se assim não for, nem com uma tripla se conseguirá prever como sair de tal impasse. Ou será que vamos ter uma grande surpresa na noite eleitoral, com um dos candidatos a esmagar a concorrência e a obter a maioria absoluta? Logo se verá.