domingo, 15 de março de 2020

COVID-19

Muito se tem dito e escrito sobre o famigerado COVID-19 que veio apoquentar a tranquilidade feliz da humanidade que habita neste planeta acolhedor que dá pelo nome de Terra. Tudo o que vem pôr em causa a tranquilidade do homem é uma chatice, porque nos obriga a sair da nossa zona de conforto e a viver com a incerteza e com o medo. E quando está em causa o medo de morrer, o pânico é generalizado. E morrer é uma inevitabilidade desde o dia em que nascemos! Desta vez, a causa do medo e do pânico não é a brutalidade do próprio homem, mas sim uma das mais simples e microscópicas formas de vida: um vírus. A respeito deste assunto, hoje lembrei-me de escrever o seguinte:

Ao pôr o mundo em quarentena, o COVID-19 já fez mais pela redução das emissões de CO2 e de poluentes atmosféricos que todas as reuniões contra as alterações climáticas realizadas desde a década de 1990. No final da contenda, será interessante analisar se o impacto na melhoria da qualidade do ar nomeadamente em mega-cidades poluídas não permitiu salvar mais vidas que a mortalidade causada pelo COVID-19.

A rápida transmissão e a concentração de focos de doença é um reflexo dos nossos tempos. Milhões de pessoas vivem concentradas em espaços muito pequenos (cidades), empilhadas em prédios, onde a facilidade de transmissão do vírus é muito maior. As pessoas, desvairadas e muitas vezes por motivos fúteis, andam continuamente a correr de um lado para o outro, espalhando a doença à escala mundial num curto espaço de tempo.

Resultado das medidas de isolamento social impostas pelas autoridades de saúde, as cidades tornaram-se em locais aparentemente desabitados, vazios e abandonados. O ruído dos motores, das buzinas e da babel humana deu lugar ao canto das aves, que dão as boas-vindas à primavera. Se descontarmos o facto das cidades não estarem arrasadas, o cenário é apocalíptico ou de guerra. Ou então de um filme de Hollywood.

É terrível dizer isto, mas a resposta à crise está aparentemente a demonstrar que as democracias têm maior dificuldade em lidar com a pandemia que os regimes autocráticos, como o chinês. Ali as autoridades decretaram medidas dacronianas, milhões de pessoas acataram cegamente e o país já respira de alívio. Na Europa, contemporizou-se, assobiou-se para o ar, há descoordenação entre as autoridades e os países, as pessoas desvalorizaram o vírus e revelaram-se menos disciplinadas. Isto é sobretudo verdade nos países do sul da Europa. Vamos ver como a epidemia afetará os EUA, mas tudo indica que a China sairá muito mais fortalecida desta crise que o resto do mundo.

Para muitos, uma das consequências mais dramáticas e insólitas foi o cancelamento e adiamento das provas desportivas, nomeadamente do futebol. E agora sem bola como é que o pessoal vai sobreviver? Um fim-de-semana a malta ainda aguenta, mas agora imaginem o que será se o problema se arrastar durante vários meses? Para os mais carenciados, há sempre as repetições de jogos na RTP Memória e nos canais desportivos…

Uma outra consequência totalmente insólita e nunca antes vista foi a suspensão das missas e de todos os atos religiosos. Supostamente, pela intercessão divina, igrejas e demais templos deviam estar a salvo de virulências e serem locais de purificação não só da alma, mas também do corpo. Mas tal não sucede e há já vários relatos de contágios em igrejas e em atos religiosos. Em plena Quaresma, imaginem o que seria andar a beijar a cruz e a dar um bacalhau ao compasso? Uma semana depois estava o pessoal todo a arder em febre. Ou imaginem na missa, à comunhão, o padre a tocar com ponta do dedo na língua de um e de outro? Bem vistas as coisas, estas práticas não têm muito de higiénico, mas valha a verdade que devemos estar mais preocupados com a vida eterna do que com estas porcarias terrenas de doenças, que ainda assim são meios mais rápidos de alcançarmos a eternidade…

A medida que reconhecidamente se revela mais eficaz no combate à transmissão da doença é o isolamento social, as pessoas trancarem-se em casa e evitarem o contacto físico/próximo com os outros. Ora perante este cenário, as pessoas correram em massa aos supermercados para se abastecerem e açambarcarem alimentos. Isto não é novo e já tinha sido visto, por exemplo, o ano passado na corrida aos postos de combustíveis por causa da greve dos motoristas. Que o pessoal esgote os enlatados, o arroz, a massa e o feijão, ainda se entende. Agora que o papel higiénico seja o bem mais procurado é que não lembrava ao diabo! Excluindo a hipótese de que seja para comer (embora seja rico em celulose), a corrida ao papel higiénico só poderá justificar-se por dois motivos: i) porque um dos efeitos do COVID-19 é a diarreia, estado que obriga a deslocações frequentes à sanita e ao consumo de mais papel devido à natureza liquefeita das fezes; ii) ou então as pessoas acham que vão apanhar diarreia pelo consumo dos produtos fora de prazo que compraram às paletes. Aqui por Palme, a falta de papel higiénico não será um problema, o pessoal pode sempre usar o papel dos sacos de ração (folha dupla) ou dos sacos de cimento (folha tripla) em substituição do higiénico. Nas cidades, estas alternativas são sempre mais difíceis…

A doença veio despertar o individualismo e a desconfiança no outro. As pessoas afastam-se e olham para os outros a ver se têm as faces ruborizadas ou as fontes escorridas de suor da febre ou se têm pingo no nariz. Todas as criaturas são suspeitas de transportarem o vírus e vistas como uma ameaça à saúde e bem-estar de cada um. O próprio termo “caso suspeito” tem uma carga muito negativa, como se a pessoa tivesse cometido um crime ou fosse um meliante. No outro dia vi um senhor já de idade que estava a tomar um café e, que coitado, engasgou-se e começou a tossir compulsivamente (a quem nunca aconteceu isto?). Não foi preciso mais, numa questão de segundos gerou-se à volta dele uma clareira de pessoas de vinte metros ou mais…obviamente para todos este era um caso suspeito.

Há que ter calma, não entrar em pânico, mas estar vigilante. E se todos fizermos a nossa parte para não disseminar o vírus, mais rapidamente iremos derrotar esta minúscula criatura de antenas. Saúde para todos!!!

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