sábado, 31 de dezembro de 2016

A árvore de natal

O acontecimento mais marcante do mês de dezembro é o Natal. Há precisamente um ano trouxe aqui um conjunto de reflexões históricas sobre os equívocos relativos ao dia e ao mês em que se celebra o Natal, bem como sobre os 2016 anos que terão passado sobre a data de nascimento de Jesus. Para este último post de 2016 e, porque ainda se vive uma atmosfera natalícia, proponho regressar ao tema, mas desta vez para falar sobre a árvore de Natal.

A árvore de Natal, a par do pai Natal, é um dos principais símbolos desta época festiva. Não há casa que não a tenha, num recanto da sala, encostada à janela, na varanda ou simplesmente no jardim, carregada de enfeites coloridos, como bolas, sinos, estrelas, laços, pais-natal e longas tranças felpudas, de mil cores, que se enroscam em torno da árvore, que é borrifada com neve artificial que, milagrosamente, não derrete. E depois há as iluminações, também eles enrodilhadas nos ramos da árvore, que piscam, luzem e faíscam numa combinação de luzes e a um ritmo tão alucinante, que é difícil não ficar embevecido só de olhar para elas. Antigamente a árvore era simplesmente conhecida por “pinheirinho” ou “pinheirinho de Natal”, porque realmente se utilizava um pinheiro-bravo, uma árvore natural cortada no monte. Mais para cá, o pinheiro foi sendo substituído por árvores de plástico, que se guardam de uns anos para os outros e mantém sempre aquela estrutura cónica aprumada. Os pinheiros naturais deram lugar a árvores de plástico, que representam coníferas do norte da Europa, como abetos, píceas e espruces. Em Portugal essas coníferas não existem naturalmente, mas a globalização trouxe-as e toda a gente gosta delas. Nos últimos anos tem também crescido a moda de se comprarem árvores naturais em vasos, nomeadamente estas coníferas do norte da Europa, que vão ficando e depois se podem plantar no jardim. Aqui por Palme quando faltavam pinheiros também se utilizavam sobreiros ou azevinhos, estas sim, árvores autóctones da floresta nacional. Mas também aqui são agora as árvores de plástico que imperam. Não querendo entrar na discussão sobre qual das opções é mais ecológica e exótica, pode colocar-se a pergunta: qual a origem e o significado da árvore de Natal?

Nos tempos da catequese, recordo-me do padre Afonso dizer que o pinheirinho era a recriação de uma árvore que existia sob a gruta onde teria nascido o menino Jesus. Mas na verdade esta explicação não colhe, pois as suas origens são bem diferentes. As antigas civilizações chinesas, egípcias e judaicas já utilizavam árvores verdes em várias celebrações porque simbolizavam a vida eterna e a felicidade. Os romanos, na festividade do solstício do inverno, data que o Imperador Constantino decretou como sendo o dia de Natal (25 de dezembro), tinham já a tradição de utilizarem ramos verdes floridos para fazerem pedidos e agradecimentos aos deuses. E decoravam as suas casas com estes ramos num prenúncio de aproximação da primavera.

Não há certezas de quando começaram a ser utilizadas as árvores de natal. Admite-se que essa tradição terá mais de 1000 anos, mas os primeiros registos documentais remontam aos séculos XV e XVI, nomeadamente nos atuais países bálticos, Estónia (1441) e Letónia (1510). Nessa altura, sabe-se que algumas praças públicas eram engalanadas com árvores, em torno das quais as pessoas celebravam e dançavam. Na cidade de Riga existe mesmo uma placa com uma inscrição referindo que ali foi colocada a primeira árvore em 1510. No final do século XVI há também registos de árvores de natal na Alemanha em praças públicas, que eram decoradas com frutos (maçãs, nozes, guloseimas e flores de papel).

Na Alemanha existem algumas lendas medievais sobre a origem da árvore de Natal, que depois se difundiu para outros países europeus. Uma das lendas conta que numa noite fria de inverno, um lenhador encontrava-se numa cabana na floresta com a sua família. Estavam à volta da fogueira, quando de repente ouviram bater à porta. Desconfiado, o lenhador dirigiu-se à porta e, para seu espanto, tinha diante de si uma criança de tenra idade, sozinha e abandonada. O lenhador recolheu-a com carinho, lavou-a, deu-lhe de comer e colocou-a na mesma cama do seu filho mais novo. Na manhã seguinte, que era o dia de Natal, a família foi acordada por um coro de anjos, apercebendo-se que a tal criança perdida era afinal o menino Jesus. Este saiu da cabana e recolheu na floresta um ramo de um abeto, que ofereceu ao lenhador em reconhecimento por este o ter acolhido e tratado tão bem. A partir de então divulgou-se a tradição de trazer ramos e árvores para o interior das casas para celebrar o natal. Atribui-se ao padre alemão Martinho Lutero, no século XVI, a ideia de colocar em casa uma árvore de natal no sentido contemporâneo da tradição. A ideia poderia ter sido importada dos países bálticos, que na altura faziam parte de um império vizinho da atual Alemanha. No princípio, a figura do menino Jesus era colocada no topo das árvores, mas depois foi substituído por um anjo ou então por uma estrela.

Numa outra lenda diz-se que São Bonifácio foi para a Alemanha numa missão de pregação, para converter os pagãos ao cristianismo. Quando lá chegou deparou-se com um grupo de pagãos que estavam prestes a castigar uma criança, obrigando-a a cortar um enorme carvalho. Para parar o castigo, São Bonifácio cortou ele próprio o carvalho, de onde começou a despontar imediatamente um abeto. O milagre foi visto como um testemunho de fé de São Bonifácio e a árvore foi decorada com velas, para que o santo pudesse pregar durante a noite.


A colocação de velas para iluminação noturna das árvores remonta à Idade Moderna, mas em finais do século XIX, a utilização de velas foi interdita em alguns países como nos EUA devido ao perigo que representavam. Há relatos de incêndios muito graves causados pelas velas, como o hospital de Chicago, que foi totalmente destruído pelo fogo em 1885, que começou numa árvore de Natal. Mais tarde, em 1895, Ralph Morris inventou o primeiro sistema de iluminação elétrica semelhante aos usados atualmente, que se revelou muito mais seguro e eficiente e se divulgou nos anos seguintes.

Feita esta breve digressão pela árvore de Natal, aproveito para desejar a todos continuação de boas festas e um bom 2017.


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