sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O resultado das eleições de 2013 em Palme

As autárquicas de 2013 ditaram uma mudança de rumo em Palme. A dirigir os destinos da freguesia desde as eleições de 1979, o PSD sofreu o segundo pior registo de sempre na freguesia. Foi uma derrota merecida que apenas pecou por tardia, pois ao longo dos últimos mandatos pouco ou nada foi feito pelo desenvolvimento da nossa terra. O mais inesperado, que terá apanhado de surpresa os próprios membros da lista do PSD, foi o julgamento lúcido que a população de Palme fez das candidaturas que se apresentaram. As mentalidades, lenta mas inexoravelmente, estão a mudar. As pessoas começam a não votar de cruz, já não há vitórias por antecipação e as eleições deixaram de ser plebiscitos para se saber por quantos vai ganhar o partido do costume. E ainda bem que é assim. Em qualquer atividade profissional, as pessoas que não mostram trabalho, que são incompetentes ou calaceiras são colocadas no olho da rua. Por que razão numa Junta de Freguesia não teria que ser assim?! Felizmente não vivemos em nenhum regime monárquico, onde os soberanos se perpetuam no poder até morrer, independentemente das suas qualidades e sanidade mental. O tempo do partido único, por muito que custe a alguns saudosistas, foi sepultado com o anterior regime e consta que já nem ossos tem. Mas em Palme viveu-se assim ao longo destas últimas décadas. O símbolo do PSD foi idolatrado com uma devoção quase religiosa, os seus dirigentes locais foram vistos como figuras paternais, que defendiam a manutenção de uma certa cultura de raiz popular na freguesia. Estas ideias cimentaram-se e Palme transformou-se num bastião laranja, onde todos aqueles que defendessem ideias ou projetos diferentes eram logo vilipendiados, marginalizados e rotulados de revolucionários, que mais não queriam que atentar contra os bons costumes da terra. Ui, corriam logo com o padre a toque de caixa, confiscavam a conta da fabriqueira, desbaratavam os bens da freguesia, incentivavam práticas de vida dissolutas, etc., etc.* Deus nos livre! Era só o que faltava! Com pensamentos semelhantes e, mais por fanatismo do que por convicção, muitos dos simpatizantes do PSD local teimaram em não dar o braço a torcer, preferindo que a freguesia continuasse imobilizada no tempo, a ter que dar a oportunidade a outros para arrepiar caminho. Então como foi possível a mudança ocorrida nas eleições da semana passada?

Por um conjunto de circunstâncias em que houve demérito dos derrotados, mas também habilidade dos vencedores. O PSD apresentou-se perante os cidadãos com uma mão cheia de nada, com um rol de promessas por cumprir, sem obra e sem esperança, com um candidato beliscado por ter abandonado o anterior mandato, à frente de uma equipa numerosa, mas demasiado verde. A zanga das comadres ocorrida durante o anterior mandato abriu brechas profundas entre as hostes laranjas, gerando divisões e deserções. A suposta lista independente do MIB teve um papel decisivo no desfecho das orientações de voto. Há muito que era conhecida a simpatia do presidente da Junta pela candidatura de Manuel Marinho à Câmara. Porém, a criação de uma lista do MIB para a Assembleia de Freguesia, com pessoas muito próximas do presidente da Junta cessante, pretendeu ir mais além do que apoiar a candidatura de Marinho. Visou, acima de tudo, cortar as pernas ao candidato do PSD e evitar a sua eleição. O empenho colocado pela equipa do MIB nos últimos dias de campanha demonstra bem que, embora estando a correr por fora, tinha um objetivo bem determinado. E, em parte, conseguiu-o. No meio desta Guerra das Laranjas (com consequências menos trágicas do que o conflito ocorrido com esse nome no século XIX), a lista do PS aplicou-se a fundo na campanha e colheu os frutos da desordem e da total estagnação em que a freguesia está mergulhada. Mantendo o núcleo duro da equipa de 2009, a lista do PS foi capaz, num primeiro momento, de mobilizar um número muito maior de apoiantes para as suas fileiras e, depois, de captar a simpatia de muitos descontentes com a situação vivida em Palme. A sua tarefa foi facilitada luta fratricida entre as duas fações laranjas, mas também pela campanha persistente e contundente que a lista fez e pelas propostas que apresentou, algumas das quais foram, inclusivamente, copiadas pelos adversários. É um compromisso eleitoral que responde às necessidades mais prementes da freguesia e que propõe realizar, em 4 anos, muito do que deveria ter sido feito ao longo dos últimos 8 ou 12 anos. Resta saber se haverá verbas e motivação para as levar por diante...

De resto, a campanha eleitoral decorreu de forma normal, tirando alguns incidentes levados a cabo por alguns dementes, que tiveram atitudes insolentes e línguas maldizentes. A campanha foi ruidosa e melodiosa (e a música do MIB fastidiosa), fértil em prendas sem reprimendas (só faltaram as merendas!), com muitas camisolas sem golas (alguns ficaram com tantas que encheram várias caixolas), com muitas canetas, incluindo para os manetas (?!), com bonés aos pontapés, com tantas réguas que se viam a léguas, com lápis de cera com aroma a pera e com tanta papelada, que até punha a gente desmiolada e a andar à estalada.

Passemos, por fim, aos números das eleições. A lista do PS arrecadou 358 votos, tendo conseguido mais 78 votos que a lista do PSD. O MIB mereceu a confiança de 93 eleitores. Em termos percentuais, o PS obteve 47,8% dos votos, o PSD 37,4% e o MIB 12,4%. Em relação às eleições de 2009, o PS aumentou em 2,85 p.p. (pontos percentuais) a sua votação, enquanto o PSD assistiu a uma forte redução da votação (-16 p.p.). No histórico das autárquicas, o PS conseguiu o segundo melhor resultado de sempre (nas primeiras eleições, em 1976, teve 50% dos votos), enquanto o PSD só nessas eleições teve um resultado pior (34,4%). Em termos de composição da Assembleia de Freguesia, o PS e o PSD elegeram três representantes cada um e o MIB elegeu um elemento. Isto significa que o PS não tem maioria na Assembleia de Freguesia, o que poderá levar à realização de acordos/alianças com as outras forças.

Por último, o PS foi também o partido mais votado em Palme para a Câmara Municipal e para a Assembleia Municipal de Barcelos, o que sucedeu pela primeira vez na história das eleições autárquicas. Em ambos os casos, a margem da vitória foi folgada (47%), com mais de 10 p.p. sobre a coligação de infeliz designação “Somos Barcelos”. Parece assim que a maior parte dos que votaram PS para a Assembleia de Freguesia, também votaram no partido da rosa para a Assembleia e para a Câmara Municipal. Neste caso, é notório que a população de Palme deu um voto de confiança a Costa Gomes, agradecendo-lhe por ter tirado o aterro da nossa terra. 

* por mais disparatadas e despropositadas que pareçam estas ideias, no dia 30 de Setembro já andavam a circular, nos meios mais restritos da coscuvilhice, rumores de idêntico teor. Que pobreza de espírito…


Resultados da eleição para a Assembleia de Freguesia de Palme



Resultados da eleição em Palme para a Câmara Municipal de Barcelos




Resultados da eleição em Palme para a Assembleia Municipal de Barcelos








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