quarta-feira, 31 de março de 2010

As eleições de 2009

No dia 11 de Outubro de 2009 a sede da Junta abriu as portas para o terceiro acto eleitoral que decorreu no ano passado. Estava agora em causa a eleição dos órgãos do poder local: Assembleia Municipal, Câmara Municipal e Assembleia de Freguesia. Das eleições para o município já teci algumas considerações noutros tópicos. Resta agora analisar com mais detalhe aquela que foi a campanha de 2009 para a nossa Assembleia de Freguesia.
Ao contrário das eleições de 2005, onde a lista do poder não teve qualquer oposição, o acto eleitoral de 2009 contou também com uma lista do PS, que veio trazer mais sal à campanha. A verdadeira democracia não se compadece com listas únicas e é sempre positivo haver pessoas e ideias alternativas, a existência de mais do que uma opção de escolha para os eleitores, por muito que isso custe aos partidos e às pessoas que estão acomodadas ao poder.

As listas começaram a movimentar-se uns 15 dias antes das eleições. Primeiro surgiram algumas faixas da lista do PS ao longo da estrada nacional (“Palme merece mais”) e a colocação de outdoors com os respectivos elementos da lista. Mais tarde a lista do PSD colocou também faixas pela estrada, com o lema “Participe no desenvolvimento de Palme” e ainda “Na defesa e progresso de Palme”. Com o aproximar do dia D a campanha intensificou-se. No fim-de-semana antes das eleições, ambas as listas percorrem as ruas da freguesia, distribuindo material de campanha (folhetos, t-shirts, bonés, guarda-chuvas, etc.) e apelando ao voto, na tentativa de convencer os indecisos. Os carros armados de altifalantes surgem na campanha e, os condutores, alucinados e de vozes roucas, apelam ao voto, defendem a sua dama, fazem promessas e enxovalham os adversários. E no último dia de campanha, as listas fazem os derradeiros apelos, por entre sons de buzinas e caravanas de carros que procuram demonstrar, pela força dos decibéis, a própria força da lista: “é preciso mudar”, “não queremos ficar mais para trás”; “vota em quem trabalha”, “não te deixes enganar”, etc. E chegou o sábado e o dia de reflexão e a campanha findou (ou não, como atestam algumas pessoas, alegando a existência de manobras de último recurso por parte de elementos próximos da lista do poder com o objectivo de granjear mais umas cruzinhas). E resumidamente foi este o filme da campanha com o desfecho conhecido.

Não obstante ter perdido, a lista do PS fez um bom trabalho e a comprová-lo está o excelente resultado que obteve (apenas menos 65 votos que a lista do poder). Era uma lista constituída por pessoas da terra, jovens e qualificadas, com visão e com ambição. O lema que apresentaram é muito coerente e qualquer pessoa com um mínimo de honestidade intelectual não pode deixar de considerar que “Palme merece mais”. A mensagem do candidato era clara e as propostas apresentadas no folheto eram exequíveis e necessárias, não sendo megalómanas nem utópicas. A fotografia de grupo, tendo a floresta por fundo, é um pormenor interessante que procura reforçar a ideia de que a equipa zelaria pelo património natural da freguesia. A carta aberta dirigida aos palmenses em resposta às acusações da lista adversária de que com “a lista do PS o aterro é certo” foi uma bofetada de luva branca. De uma forma geral, parece-me que fizeram um bom trabalho, que pode ser o trampolim para voos mais altos no futuro.

A campanha feita pela lista do PSD pareceu-me bastante mais frágil e a vitória só poderá dever-se à falange de apoio e até a um certo fundamentalismo que existe em redor do partido laranja e das pessoas que o representam na freguesia. Aliás, vêm aqueles que concorrem por outras listas de esguelha, consideram-nos uns oportunistas que não têm competências nem dignidade para estar à frente os destinos da freguesia. Parece que estamos no tempo da “outra senhora”, quando as pessoas que tinham ideais diferentes do regime eram perseguidas ou ainda no período do absolutismo, quando os reis assumiam que eram directamente inspirados por Deus…
A lista do PSD apresentou mais do que um slogan e valha a verdade, o lema “Participe no desenvolvimento de Palme, vota PSD” é, no mínimo infeliz, porque votar é um direito e um dever cívico, que não significa participar, mas sim escolher. Mas subentende-se o que a lista queria dizer: quem não votar PSD não estará a contribuir para o desenvolvimento da freguesia…Mas o que é verdadeiramente inacreditável é que nos folhetos distribuídos não constem nem os nomes nem as fotografias dos elementos que compunham a lista!! Penso que isto seja inédito até mesmo à escala nacional e acredito que um grande número de pessoas votou sem saber e sem conhecer os elementos da lista (com excepção do cabeça de lista). Isto é o que verdadeiramente se chama “assinar de cruz” ou “votar no escuro”. Que motivos terão estado por detrás desta opção? Será que as pessoas da lista não são fotogénicas? Será que foi por o folheto ter sido feito “em cima do joelho”? Ou será que foi por simples desinteresse do género de que qualquer coisa serve? Ou será que nem repararam nisso?! Na verdade, a única foto que surge é do Dr. Reis, que nada tem a ver com a eleição em causa e que aliás, como várias notícias o comprovaram, estaria empenhado em colocar o aterro na nossa terra. Com amigos destes quem precisa de inimigos? Depois, o folheto está escrito num português macarrónico (“vimos novamente ao Vosso encontro, para vocês estarem ao nosso lado…”) e as informações são expressas aos repelões (obra feita, ataques à lista adversária, propostas, apelos, etc.). Pareceu-me completamente desavergonhada e despropositada a referência de que “com a lista PS o aterro é certo, com o PSD tudo tem de iniciar de novo”. Para além de ser um ataque baixo quando referem que a lista PS era contrária aos interesses da freguesia (pois aceitaria o aterro), esta afirmação é um tiro no próprio pé, porque é preciso não esquecer que foi a Câmara PSD que tentou colocar o aterro na nossa terra! Quanto às obras feitas e às propostas futuras, a estratégia como já vem sendo hábito, é a de fazer render o peixe. Algumas propostas são promessas adiadas, algumas com mais de 15 anos! (por exemplo, o arranjo do caminho Aldeia/Bustelo)...e quanto à obra feita a estratégia é a mesma, pois há diversas referências feitas em 2005 que reaparecem em 2009 (Avª Igreja, Capela Sr. Aflitos, etc.), talvez por não haver nada de novo para acrescentar. Mas há aqui uma novidade e que poderá marcar os próximos tempos que é a antecipação de obras futuras para os exercícios passados. Por exemplo, é referido que no mandato de 2005/09 foi elaborado o projecto de toponímia e de números de polícia (em Palme?!), quando só agora esse projecto está a dar os primeiros passos (quando nas freguesias vizinhas já é uma realidade há muito tempo). Mas o folheto contém mais algumas curiosidades tragicómicas. Não é o caso da frase “mantemos todo o apoio ao Dr. Fernando Reis”, que é reveladora de uma fidelidade canina a alguém que não sente o menor apreço pela nossa terra. Refiro-me antes à frase “é com os olhos colocados na obra realizada e com o pensamento voltado para o Futuro, que nos mostramos convictos de que há ainda muito para fazer”. Sim, leu bem! Se duvida, consulte a respectiva imagem. Esta frase é um mea culpa, é a confissão por parte da própria lista do pouco que tem sido feito, o que justifica que haja ainda muito para fazer no futuro!... Por tudo isto é legítimo questionar-se se o lema apresentado pela própria lista (“Servimos Palme, não nos servimos de Palme”) será mesmo assim ou se, pelo contrário, não estará invertido?

O sinal óbvio de que há descontentamento mesmo entre as hostes laranja surgiria já no período pós-eleitoral. Quando as coisas pareciam estar a acalmar, eis que estoiraram informações de manobras nos bastidores, que foram perpetradas a coberto da noite, em plena véspera de eleições. Ao que se consta, algumas residências rechearam o frigorífico com produtos de origem animal em troca da promessa de voto na lista de costume. Eu não tenho provas de acto tão reprovável quanto ilegal, caso contrário divulgá-las-ia. Mas é uma informação que correu a freguesia, que foi motivo de conversas e até de comentários na Net e, como diz o ditado, não há fumo sem fogo. E tanto assim é que o próprio adro da igreja foi palco de uma autêntica peixeirada entre indefectíveis da lista do poder, onde só faltaram cenas de pancadaria, para grande estupefacção e admiração de todos que ali estavam. Até quando mais é que teremos de suportar tudo isto?!












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