O acontecimento mais marcante do
mês de dezembro é o Natal. Há precisamente um ano trouxe aqui um conjunto de
reflexões históricas sobre os equívocos relativos ao dia e ao mês em que se
celebra o Natal, bem como sobre os 2016 anos que terão passado sobre a data de
nascimento de Jesus. Para este último post de 2016 e, porque ainda se vive uma
atmosfera natalícia, proponho regressar ao tema, mas desta vez para falar sobre
a árvore de Natal.
A árvore de Natal, a par do pai
Natal, é um dos principais símbolos desta época festiva. Não há casa que não a
tenha, num recanto da sala, encostada à janela, na varanda ou simplesmente no
jardim, carregada de enfeites coloridos, como bolas, sinos, estrelas, laços,
pais-natal e longas tranças felpudas, de mil cores, que se enroscam em torno da
árvore, que é borrifada com neve artificial que, milagrosamente, não derrete. E
depois há as iluminações, também eles enrodilhadas nos ramos da árvore, que
piscam, luzem e faíscam numa combinação de luzes e a um ritmo tão alucinante,
que é difícil não ficar embevecido só de olhar para elas. Antigamente a árvore
era simplesmente conhecida por “pinheirinho” ou “pinheirinho de Natal”, porque
realmente se utilizava um pinheiro-bravo, uma árvore natural cortada no monte.
Mais para cá, o pinheiro foi sendo substituído por árvores de plástico, que se
guardam de uns anos para os outros e mantém sempre aquela estrutura cónica
aprumada. Os pinheiros naturais deram lugar a árvores de plástico, que
representam coníferas do norte da Europa, como abetos, píceas e espruces. Em
Portugal essas coníferas não existem naturalmente, mas a globalização trouxe-as
e toda a gente gosta delas. Nos últimos anos tem também crescido a moda de se
comprarem árvores naturais em vasos, nomeadamente estas coníferas do norte da
Europa, que vão ficando e depois se podem plantar no jardim. Aqui por Palme
quando faltavam pinheiros também se utilizavam sobreiros ou azevinhos, estas
sim, árvores autóctones da floresta nacional. Mas também aqui são agora as
árvores de plástico que imperam. Não querendo entrar na discussão sobre qual
das opções é mais ecológica e exótica, pode colocar-se a pergunta: qual a origem
e o significado da árvore de Natal?
Nos tempos da catequese,
recordo-me do padre Afonso dizer que o pinheirinho era a recriação de uma
árvore que existia sob a gruta onde teria nascido o menino Jesus. Mas na
verdade esta explicação não colhe, pois as suas origens são bem diferentes. As
antigas civilizações chinesas, egípcias e judaicas já utilizavam árvores verdes
em várias celebrações porque simbolizavam a vida eterna e a felicidade. Os
romanos, na festividade do solstício do inverno, data que o Imperador
Constantino decretou como sendo o dia de Natal (25 de dezembro), tinham já a
tradição de utilizarem ramos verdes floridos para fazerem pedidos e
agradecimentos aos deuses. E decoravam as suas casas com estes ramos num
prenúncio de aproximação da primavera.
Não há certezas de quando
começaram a ser utilizadas as árvores de natal. Admite-se que essa tradição terá
mais de 1000 anos, mas os primeiros registos documentais remontam aos séculos
XV e XVI, nomeadamente nos atuais países bálticos, Estónia (1441) e Letónia
(1510). Nessa altura, sabe-se que algumas praças públicas eram engalanadas com árvores,
em torno das quais as pessoas celebravam e dançavam. Na cidade de Riga existe
mesmo uma placa com uma inscrição referindo que ali foi colocada a primeira
árvore em 1510. No final do século XVI há também registos de árvores de natal
na Alemanha em praças públicas, que eram decoradas com frutos (maçãs, nozes, guloseimas
e flores de papel).
Na Alemanha existem algumas
lendas medievais sobre a origem da árvore de Natal, que depois se difundiu para
outros países europeus. Uma das lendas conta que numa noite fria de inverno, um
lenhador encontrava-se numa cabana na floresta com a sua família. Estavam à
volta da fogueira, quando de repente ouviram bater à porta. Desconfiado, o
lenhador dirigiu-se à porta e, para seu espanto, tinha diante de si uma criança
de tenra idade, sozinha e abandonada. O lenhador recolheu-a com carinho,
lavou-a, deu-lhe de comer e colocou-a na mesma cama do seu filho mais novo. Na
manhã seguinte, que era o dia de Natal, a família foi acordada por um coro de
anjos, apercebendo-se que a tal criança perdida era afinal o menino Jesus. Este
saiu da cabana e recolheu na floresta um ramo de um abeto, que ofereceu ao
lenhador em reconhecimento por este o ter acolhido e tratado tão bem. A partir
de então divulgou-se a tradição de trazer ramos e árvores para o interior das
casas para celebrar o natal. Atribui-se ao padre alemão
Martinho Lutero, no século XVI, a ideia de colocar em casa uma árvore de natal
no sentido contemporâneo da tradição. A ideia poderia ter sido importada dos
países bálticos, que na altura faziam parte de um império vizinho da atual
Alemanha. No princípio, a figura do menino Jesus era colocada no topo das
árvores, mas depois foi substituído por um anjo ou então por uma estrela.
Numa outra lenda diz-se que São
Bonifácio foi para a Alemanha numa missão de pregação, para converter os pagãos
ao cristianismo. Quando lá chegou deparou-se com um grupo de pagãos que estavam
prestes a castigar uma criança, obrigando-a a cortar um enorme carvalho. Para
parar o castigo, São Bonifácio cortou ele próprio o carvalho, de onde começou a
despontar imediatamente um abeto. O milagre foi visto como um testemunho de fé
de São Bonifácio e a árvore foi decorada com velas, para que o santo pudesse
pregar durante a noite.
A colocação de velas para
iluminação noturna das árvores remonta à Idade Moderna, mas em finais do século
XIX, a utilização de velas foi interdita em alguns países como nos EUA devido
ao perigo que representavam. Há relatos de incêndios muito graves causados
pelas velas, como o hospital de Chicago, que foi totalmente destruído pelo fogo
em 1885, que começou numa árvore de Natal. Mais tarde, em 1895, Ralph Morris
inventou o primeiro sistema de iluminação elétrica semelhante aos usados
atualmente, que se revelou muito mais seguro e eficiente e se divulgou nos anos
seguintes.
Feita esta breve digressão pela árvore de Natal, aproveito para desejar a todos continuação de boas festas e um bom 2017.
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