No passado domingo fomos chamados a eleger o novo Presidente
da República. A campanha eleitoral foi morna e desinteressante. Os debates
desenxabidos e sonolentos. Esgrimiram-se acusações pessoais (você chamou Léle
da Cuca ao Pinto Balsemão!), levantaram-se dúvidas sobre a formação dos
candidatos, competiu-se para ver quem era mais independente, deram-se
informações inesperadas sobre o número do calçado e a altura dos candidatos. Tudo
questões relacionadas com o “superior interesse nacional”.
Ao Marcelo, dominicalmente
em campanha eleitoral há mais de 10 anos, bastou-lhe fazer de morto e manter
uma distância higiénica a Passos Coelho. Distribuiu sorrisos e palmadinhas nas
costas, piscou o olho à esquerda, elegeu a simpatia como bandeira da sua
presidência e geriu (e encenou) como ninguém os aparecimentos televisivos,
mesmo no dia das eleições. A estratégia resultou e conquistou 52% dos votos,
evitando os dissabores de ir a uma segunda volta.
Os candidatos da área do PS,
Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, envolveram-se numa luta fratricida, uma
espécie de segundas primárias entre Costa e Seguro. À semelhança do que sucedeu
em 2006, o PS não foi capaz de unificar o apoio em torno de um único candidato,
facilitando a vida ao candidato da direita. Maria de Belém, com uma campanha
oca de ideias e de projetos, foi abalroada pelo escândalo das subvenções e
acabou por obter uma votação vergonhosa. Por isso, Costa apesar de ter perdido
novamente umas eleições, teve mais uma vitória, pois afastou definitivamente a
oposição interna segurista.
A Marisa Matias foi uma das surpresas positivas das
eleições. A tal “candidata engraçadinha” de que o Jerónimo falou, impôs-se com
ideias claras, marcou a agenda dos debates, fez uma campanha séria e passou a
imagem de uma mulher de raízes humildes, que chora, comove-se e bate-se pela
defesa dos mais vulneráveis. Conseguiu uma votação histórica. Pelo contrário,
Edgar Silva obteve um resultado muito magro, que deve ter deixado o Jerónimo
apreensivo quanto à estratégia a seguir. O PCP, ao contrário do Bloco, continua
amarrado a um passado que se auto-implodiu e a defender o indefensável. Por
exemplo, não se percebem as hesitações e os circunlóquios do Edgar Silva,
quando lhe perguntaram se a Coreia do Norte é uma ditadura. É uma ditadura
horrenda que oprime o povo e ponto final. Só não vê quem não quer.
Os restantes
candidatos eram os peixes miúdos, desalinhados do sistema, em busca de
protagonismo. O Tino de Rans, com aquela sua boa disposição e simplicidade que
a gaguez ainda acentua mais, teve uma votação expressiva, ficando a escassos 50
mil votos da experiente Maria de Belém. O voto no Tino foi um voto de protesto
dos que se opõem ao sistema instituído e que viam no calceteiro a possibilidade
de se auto-elegerem para Belém. O Paulo Morais parecia um disco riscado sempre
a martelar na tecla da corrupção. E daí não saía mesmo que lhe perguntassem
sobre o estado do tempo (está a chover porque corromperam o S. Pedro…). Com
aquele discurso repetido até à exaustão, cansou e desmobilizou os eleitores.
Agora, Paulo Morais deve estar a pensar que a maioria dos portugueses foi corrompida
pelo Marcelo. O Henrique Neto é um caso de psiquiatria ou de mudança de
personalidade. O empresário que vinha da esquerda, assumiu-se com um discurso
neo-liberal de direita, populista e com laivos fascistas. Como se não bastasse,
assumiu-se como um visionário que foi capaz de antever muitos acontecimentos,
como a crise de 2008 e o estado islâmico. Nem a Maya! Só não previu a sua derrota
estrondosa. Os outros dois candidatos disputaram os últimos lugares, um vai
ficar conhecido pelos óculos extravagantes, o outro por desconfiar que todos
têm diplomas falsificados.
Com semelhante painel de candidatos e, em tais
circunstâncias, o Marcelo não precisou de se esforçar muito para que os
portugueses lhe dessem um claro voto de confiança. E assim vai suceder ao mais
medíocre presidente que tivemos no pós 25 de Abril que, ao longo de 10 anos
viveu acantonado no Palácio de Belém, refém das suas ideologias e das suas manobras
nos bastidores, denegrindo o cargo presidencial e traindo reiteradamente as
funções que jurou cumprir e fazer cumprir. Um presidente acanhado, irritado,
desconfiado, continuamente a gerir silêncios e tabus, que sempre que falava, geralmente
se enterrava. Não vai deixar saudades! É praticamente impossível que Marcelo não
seja um presidente melhor.
Em Palme, os resultados não diferiram muito dos
registados a nível nacional. Conservadores, os eleitores da freguesia votaram massivamente
em Marcelo, que teve mais votos que todos os outros candidatos juntos. Mais que
Marcelo, só mesmo a abstenção. Do total de inscritos nos cadernos eleitorais da
freguesia, 460 não foram votar. Ainda assim, a abstenção em Palme (47%) foi
inferior à média nacional que superou novamente os 50%. Se a abstenção contasse
e não tivesse limite de mandatos, sucederia a si mesmo no Palácio de Belém, que
ficaria novamente sem inquilino. Em Palme, o segundo candidato mais votado foi
o Sampaio da Nóvoa, ao que se seguiu o Tino de Rans, que amealhou mais votos
que candidatos do sistema, como Marisa Matias, Maria de Belém e Edgar Silva. O
Jorge Sequeira, com aquele discurso motivacional, não convenceu nenhum palmense
a votar nele. E pronto, está tudo dito. O palácio de Belém já tem inquilino
para os próximos 10 anos. Em 2026 chegará a vez de outro.
Resultados das eleições presidenciais 2016 em Palme
Sem comentários:
Enviar um comentário