Em Palme, no passado dia 8 de
junho, houve uma festa dedicada às crianças da terra. O evento foi muito
concorrido por miúdos e mais graúdos, contou com muita animação ao longo da
tarde e os participantes de palmo e meio tiveram direito a lanches e brindes.
Foi a primeira vez que se fez uma festa dedicada aos petizes da terra e está de
parabéns a associação cultural e recreativa (recentemente criada) que foi responsável
pela iniciativa. Esta festa foi o mote para uma dúvida que me ocorreu: quantas
crianças existem em Palme? Esta questão faz ainda mais sentido pois a Junta instituiu
o pagamento de um subsídio de apoio à natalidade, tendo já ajudado várias mães
da freguesia. Este tipo de medidas natalistas é comum em regiões/países que se
debatem com problemas de envelhecimento da população. Será que Palme está
também num processo de envelhecimento populacional? Na verdade este é um
assunto da maior importância.
Em Portugal, o número de
nascimentos tem caído a pique, sendo já o segundo país da Europa com menor taxa
de natalidade. A prazo, este envelhecimento irá refletir-se num acentuado
desequilíbrio geracional, com cada vez menos população ativa, que terá de assegurar
as pensões de um cada vez maior número de idosos. Recentemente, o Governo
indexou o valor das reformas não apenas ao crescimento económico do país, como
à evolução da natalidade. Na verdade, isto não são boas notícias para os
reformados, pois se o crescimento económico é o que se vê, o desempenho da
natalidade é ainda pior. Como querem que as famílias tenham mais filhos se
cortaram drasticamente os abonos, encerraram as maternidades, reduziram os
apoios escolares, encareceram os serviços de saúde, restringiram as deduções
fiscais com os descendentes, amputaram os rendimentos das famílias, agravaram
os impostos, etc.? Contrariamente à retórica dos governantes, estas políticas têm
um efeito contracetivo direto, obrigando as pessoas a adiar o nascimento do
primeiro filho e a ter menos filhos. E, como se sabe, têm levado à emigração de muitos milhares de jovens em idade fértil, cujos filhos vão nascer noutros países.
No caso de Palme, a evolução da
população pode também ter consequências diversas. Uma diminuição continuada da
natalidade, por exemplo, poderá levar ao encerramento da escola primária, tal
como já sucedeu em diversas freguesias de Barcelos. Ainda estes dias o ministro
da Educação tornou público que irão encerrar mais 311 escolas do primeiro ciclo
no próximo ano letivo. Duas delas são em Barcelos, mas para já a de Palme não consta da lista negra. Por outro lado, um envelhecimento acentuado da população irá
obrigar à existência de equipamentos e de serviços de apoio aos idosos, como um
centro de dia, que tanta falta faz em Palme. Estes são apenas dois exemplos de
implicações que a evolução da população pode ter na nossa terra. Para se
conhecer com rigor as características da população de Palme, vamos então
recorrer às estatísticas do Instituto Nacional de Estatística, nomeadamente ao
último Recenseamento da População, que foi realizado em 2011.
Em 2011, a população de Palme era
de 1073 habitantes, havendo 550 mulheres e 523 homens. A densidade populacional
era de 129 hab/km2, sendo muito inferior à média verificada no
concelho de Barcelos (318 hab/ km2). A população estava irregularmente
repartida pela freguesia, com uma maior concentração nos lugares centrais da
freguesia (Cerquido, Sobreiros e Aldeia), mas também em Cessal e parte da
Granja e Brirães.
Em 2011, a população da freguesia
era maioritariamente adulta, uma vez que 69% da população tinha uma idade
compreendida entre 15 e 64 anos. A população jovem até aos 14 anos de idade correspondia
a 16%. No total havia 176 efetivos com menos de 14 anos de idade, sendo para
este grupo que a referida festa da criança foi direcionada. Os idosos com mais
de 65 anos representavam 15% da população. Conclui-se, então, que havia uma
maior proporção de jovens do que idosos. O índice de envelhecimento da
população de Palme era de 90%, o que significa que por cada 100 jovens com
menos de 14 anos existiam 90 idosos com mais de 65. Neste capítulo não estamos
assim tão mal, pois há freguesias, mesmo no norte de Portugal, com índices de
envelhecimento superiores a 300% e a 400%. Era no lugar da Aldeia que existiam mais crianças por idosos, enquanto os lugares de Bustelo, Outeiro e Fontão eram os mais envelhecidos.
No entanto, a pirâmide de idades de
Palme não augura nada de bom para o futuro, como o demonstra o estreitamento da
base (cada vez menos população jovem). Através da pirâmide verifica-se que a
natalidade está em queda há 25 anos, tendo-se acentuado essa tendência ao longo
da última década. Ou seja, a população que em 2011 tinha 0-4 anos era menos de
metade da que andava nas classes dos 35 aos 39 anos ou dos 40 aos 44 anos. E ao
longo dos últimos anos o cenário ficou ainda mais negro. Em 2011, o número médio
de nascimentos por mulheres em idade fértil foi de apenas 0,04. O ano passado
registaram-se somente 6 nascimentos na freguesia, quando em 2001 tinham nascido
15 bebés. Aliás, em Palme, nos últimos anos, o número de óbitos tem sido
superior ao de nascimentos. Em 2013, por exemplo, o crescimento natural
(diferença entre os nascimentos e os óbitos) foi negativo em -8. A manter-se
esta tendência, a população da freguesia irá diminuir e envelhecer, com todas
as consequências que isso representa para a economia local e para as
necessidades sociais.
Em relação aos níveis de instrução
da população, o cenário também não é muito animador. Em 2011, a maior parte da
população (69%) tinha a instrução básica (e destes 39% apenas o primeiro
ciclo, ou seja, a antiga quarta classe). Com o ensino secundário concluído
havia um total de 80 indivíduos (7%), enquanto 22 residentes (2%) tinham uma
formação superior. A restante população englobava os analfabetos, os que nunca
terminaram a instrução primária e ainda as crianças que estavam a frequentar o
primeiro ciclo do ensino básico. Os baixos níveis de instrução da população de
Palme, que afetam sobretudo a população mais idosa, estão relacionados com
questões de natureza económica e social. No passado (não muito distante
diga-se), o objetivo era concluir o ensino obrigatório, para logo arranjar
emprego, tanto para ajudar o agregado familiar, como para os jovens se
emanciparem do ponto de vista económico.
Dos 1073 residentes em Palme, 48% eram ativos (a restante fração era essencialmente constituída por
jovens em idade escolar e por reformados e pensionistas). No entanto, nem todos
os ativos estavam a exercer uma atividade profissional. Em 2011 foram
contabilizados 56 desempregados, pelo que a taxa de desemprego em Palme era de
10,9%, sendo inferior à observada à data em Portugal (13,2%). A população a exercer
uma atividade económica cifrava-se em 460 indivíduos. Destes, a grande maioria
(71%) trabalhava em atividades do setor transformador, nomeadamente na
indústria e na construção civil. Nota ainda para o facto de em Palme existirem 27
empregadores ligados ao setor transformador. Por seu turno, os serviços
empregavam 24% dos ativos, onde se englobam os trabalhadores do comércio, dos serviços
de saúde, de educação, etc. Por último e apesar de Palme continuar a ser uma
freguesia rural, apenas 5% dos ativos exerciam atividade no setor primário. Os
baixos rendimentos obtidos com a exploração da terra serão a principal causa da
perda de importância da agricultura na criação de emprego, que é praticada cada
vez mais como uma atividade parcial e como uma fonte complementar de
rendimentos.
Pirâmide de idades da população de Palme de 2011
População de Palme por grupos etários em 2011
População de Palme por níveis de escolaridade em 2011
População de Palme por setores de atividade em 2011
Distribuição da população de Palme por lugares em 2011
População de Palme com menos de 14 anos por lugares em 2011
Relação de jovens por idosos em Palme em 2011
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