No passado domingo lá tivemos
mais um ato eleitoral, desta feita para o Parlamento Europeu. Esta eleição
significa pouco para a maior parte dos portugueses, que desconhecem o que na
verdade os deputados europeus fazem e decidem. Além do maior distanciamento, os
últimos cinco anos foram de intenso desgaste para as instituições europeias,
que se viram a braços com uma crise sem precedentes, com o fantasma do colapso
do Euro e a consequente desintegração a pairar sobre a União. Em boa medida, as
crises soberanas que assaltaram os países do sul da Europa e a Irlanda
resultaram de vários motivos: do modelo adotado para a moeda única, que
penalizou sobremaneira as economias mais débeis do sul, que competiam através
das suas moedas mais desvalorizadas; do longo período de baixos juros que a
adesão à moeda única permitiu, levando a um excessivo endividamento público e
privado, que favoreceu os países do centro; da incapacidade política e do
próprio modelo estatutário e burocrático europeu em atacar rapidamente a crise
mal ela deflagrou na Grécia; e da falta de solidariedade política e social
entre os países, onde continua a imperar a lei do mais forte (a Alemanha) e a
alta finança (os empréstimos foram negócios chorudos para os credores, que se
empanturraram de dinheiro à custa dos sacrifícios dos povos do sul). A União
fraturou-se entre o norte disciplinado e trabalhador e o sul esbanjador e
mandrião. Instalou-se um clima de desconfiança mútua, de cisão norte-sul, com
os países do norte a olhar com desdém para os do sul, recusando-se a
conceder-lhes mais ajudas. Os do sul culpabilizaram os do norte da falta de
solidariedade e por os obrigarem a regimes diuréticos violentos. Como não podia
deixar de ser, prevaleceu a opinião dos mais fortes e os países do sul foram
sujeitos a programas austeros de empobrecimento, de corte de vencimentos e
pensões, subidas colossais de impostos, cortes de feriados e férias,
flexibilização do trabalho, só para citar alguns exemplos da extensa lista de
medidas draconianas que foram aplicadas. O resultado saldou-se numa subida
vertiginosa do desemprego, catadupas de falências, emigrações em massa, miséria social e pobreza como já não se via há décadas.
Chegados a este ponto, como
poderão os europeus estar satisfeitos com as suas instituições e com o rumo
seguido? A resposta pode ler-se nos resultados das eleições. Mais de metade dos
eleitores europeus alhearam-se da votação. E, mais grave do que isso, em muitos
países, os partidos eurocéticos e extremistas subiram de forma alarmante. O
caso mais grave sucedeu em França, com a vitória da Frente Nacional, mas a
extrema-direita subiu substancialmente em países como a Áustria e a Dinamarca.
Na Grécia, onde o sofrimento social imposto pela Troika teve requintes de
malvadez, o partido mais votado (Syrisa) defende a saída do país da União. Para
já desconhece-se o trilho que a União irá percorrer nos próximos tempos, mas os
sinais são preocupantes e trazem-nos à memória um passado não muito distante, quando
os nacionalismos, a subida ao poder da extrema-direita em vários países e o
racismo conduziram a Europa a um cenário devastador de guerra. Não esqueçamos,
a União ergueu-se das cinzas da guerra com o objetivo de aproximar os povos e
os países e não de os dividir. Mas quem ainda se lembra disso?...
Em Portugal, onde as doses de
sofrimento foram ampliadas por um governo sadomasoquista, que sempre quis ser mais troikista que a Troika, a eleição
europeia mobilizou apenas uma minoria dos cidadãos. Com mais de 65%, a
abstenção foi a grande vencedora do dia 25 de maio. Dos que se dignaram a
votar, muitos votaram em branco ou nulo (os votos brancos foram superiores aos
obtidos pelo Bloco de Esquerda). Depois houve uma grande proliferação de votos
por pequenos partidos, alguns deles radicais, que defendem a saída do Euro. O
grande vencedor da noite foi o MPT, cuja sigla bem pode significar Marinho
Pinto. Foi graças ao mediatismo e ao dom da palavra (muitas vezes populista) do
antigo bastonário dos advogados que este partido de cariz ambiental/conservador
obteve 8% dos votos. Do lado dos perdedores, o Bloco somou mais uma pesada
derrota, continuando o definhamento que se iniciou com a saída de Louçã da
liderança e com o desaparecimento de Miguel Portas. Ao centro, nem a coligação
governamental teve a derrota que se anunciava (apesar de ter sido o pior
registo de sempre de ambos os partidos coligados), nem o PS obteve a vitória
que se esperava. Daqui resultou que Passos ficou mais seguro e o líder do PS
mais inseguro, como o demonstram os posicionamentos de vários notáveis do
partido, em particular de António Costa, que vê nova oportunidade para assaltar
a liderança do partido.
Em Palme, a abstenção foi também
esmagadora, tendo ficado em casa 66% dos eleitores. Dos que foram votar, 45% votaram na Aliança Portugal, 32% no PS, 16% em outros partidos e 7% foram
brancos ou nulos. Em Palme, tal como em Barcelos, a vitória eleitoral foi dos
partidos da coligação, o que não deixa de ser surpreendente face aos resultados
das últimas eleições autárquicas, em que o PS esmagou a coligação de direita.
Isto demonstra bem como os eleitores encaram de forma diferente os atos
eleitorais.
A comparação dos resultados das
europeias de 2009 com os de 2014 revelam, contudo, que em Barcelos e, apesar de
vencedora, a coligação perdeu mais de 14 pontos percentuais na votação,
enquanto outras forças, de entre as quais o PS (e sobretudo o MPT) aumentaram a
votação.
No caso de Palme, a comparação dos resultados é ainda mais curiosa. Apesar da coligação PSD/CDS ter vencido com 44,8% dos votos, o registo é 31,8 pontos percentuais inferior ao obtido em 2009. O principal beneficiário desta diminuição foi o PS que quase quintuplicou a votação de 2009. Pondo de parte que estes valores nada têm que ver com as políticas defendidas por Rangel e Assis (que até foram um pouco virulentas), a escolha dos eleitores de Palme estará mais relacionada com o descontentamento em relação às políticas seguidas pelo Governo ao longo dos últimos anos. Este crescimento do PS em Palme deverá também estar ligado à mudança da cor política da Junta ocorrida nas últimas autárquicas.
No caso de Palme, a comparação dos resultados é ainda mais curiosa. Apesar da coligação PSD/CDS ter vencido com 44,8% dos votos, o registo é 31,8 pontos percentuais inferior ao obtido em 2009. O principal beneficiário desta diminuição foi o PS que quase quintuplicou a votação de 2009. Pondo de parte que estes valores nada têm que ver com as políticas defendidas por Rangel e Assis (que até foram um pouco virulentas), a escolha dos eleitores de Palme estará mais relacionada com o descontentamento em relação às políticas seguidas pelo Governo ao longo dos últimos anos. Este crescimento do PS em Palme deverá também estar ligado à mudança da cor política da Junta ocorrida nas últimas autárquicas.
Sem comentários:
Enviar um comentário