No passado dia 1 de outubro tivemos as eleições autárquicas.
Vamos então analisar os resultados, considerando primeiro a eleição para a Câmara
Municipal de Barcelos e depois para a Junta de Freguesia de Palme.
Relativamente à Câmara, os três principais candidatos
averbaram uma significativa derrota. Senão vejamos. O presidente Costa Gomes,
que foi reeleito para o seu último mandato, perdeu a maioria absoluta que
detinha no executivo camarário e agora para governar vai ter que celebrar
acordos com os partidos da oposição. Resta saber com quem? No cômputo geral e
em comparação com a eleição de 2013, Costa Gomes, o candidato oficial do PS,
teve menos 2626 votos. Foi uma perda volumosa, em parte justificada
pelo arrastar de problemas por resolver, como o das águas, mas sobretudo devido
à guerra interna aberta em maio de 2016, com a concelhia do PS e com o seu
líder, Domingos Pereira. Como prémio de consolação, Costa Gomes conseguiu
manter-se à frente da Câmara, mas sai bastante debilitado da eleição. O
candidato supostamente independente do BTF (Barcelos Terra de Futuro) foi outro
dos perdedores da noite eleitoral. A principal motivação da candidatura de
Domingos Pereira não era, certamente, conquistar a edilidade barcelense. Até
porque em mais de metade das freguesias do concelho, o antigo presidente da
concelhia do PS não conseguiu formar lista. O seu objetivo principal era, sem
dúvida, evitar que o candidato oficial do PS ganhasse, numa atitude revanchista
para com a decisão da Comissão Política Nacional do partido. Mas apesar das
bases do partido estarem com o candidato independente, a maioria dos eleitores
não se reviu no divisionismo criado por Domingos Pereira. Como prémio de
consolação, o candidato independente pode regozijar-se de ter contribuído para
retirar a maioria absoluta a Costa Gomes e de ter conquistado algumas Juntas
importantes, como a de Abade de Neiva. A questão que se coloca neste momento é
a de saber o que vai Domingos Pereira fazer com os milhares de votos e com os
dois vereadores que elegeu: esfumar-se como aconteceu com o MIB de Manuel
Marinho há quatro anos? Ou reforçar este movimento para assaltar o poder daqui
a quatro anos? Também é curioso seguir os próximos passos do PS Barcelos, que
ainda está povoado por pessoas próximas de Domingos Pereira: irão
reaproximar-se de Costa Gomes, ou continuar num clima de guerra aberta com o
presidente? Um dos grandes derrotados da noite foi Mário Constantino, o
candidato da coligação PSD/CDS. Perante uma fratura exposta no PS, que se
auto-dinamitou ao longo de ano e meio, o candidato do PSD/CDS cometeu a proeza
de não conseguir ganhar as eleições. Pior do que isso, ainda conseguiu baixar a votação face a 2013 num concelho que, diga-se, é
maioritariamente conservador. Basta para tal ver o desfecho das eleições europeias
de 2014, das legislativas de 2015 e das presidenciais de 2016. O PSD e o
candidato tinham tudo para ganhar, a baliza estava aberta e sem guarda-redes,
mas o remate saiu ao lado. O PSD Barcelos ainda não se recompôs da terrível
noite eleitoral de 2009 e, desde então, continua em cacos. Só um
partido totalmente desorientado e desgovernando é que se envolveria na
tragicomédia que foi a escolha do candidato à presidência da Câmara, que acabou
por ser uma terceira ou quarta opção. A concelhia do partido continua em cacos
e prevê-se que mais cabeças vão rolar na guilhotina laranja de Barcelos.
Relativamente aos resultados para a Junta de Palme, no
último post que publiquei precisamente no dia de reflexão, deixei em aberto a
possibilidade de haver uma grande surpresa, com um dos candidatos a esmagar a
concorrência. Apesar de não ser esse o cenário mais previsível, pois antevia-se
um “mano-a-mano” entre os candidatos do BTF e do PS, a presidente em exercício
alcançou uma vitória muito expressiva, tendo ficado mais de 22 pontos
percentuais à frente do cabeça de lista do BTF. Nunca nenhuma lista do PS teve
em Palme uma votação tão forte e também nunca o PS ganhou a votação em Palme
para a Câmara e para a Assembleia Municipal. E nunca uma lista da coligação do
PSD/CDS teve uma votação tão residual. Como se explica então este resultado? É
simples. Os 407 votos alcançados pela lista do PS deveram-se a uma
transferência massiva de votos do PSD para a lista da presidente da Junta. Por
um lado, porque a maior parte das pessoas não levou a sério a lista do PSD/CDS,
que só apareceu para dizer presente, para ir jogo, para evitar a primeira falta
de comparência do partido a uma eleição para a freguesia desde que há
autárquicas. Mas olhando para o resultado, fica a dúvida se a estratégia
escolhida foi a mais acertada…E porque votaram os eleitores laranjas na lista
do PS e não no BTF? Esta questão já não é tão simples de responder, tanto mais
que o cabeça de lista do movimento independente é uma figura popular e
bem-vista na terra. Em primeiro, é sabido que as pessoas não gostam de
divisionismos, de separações e, com razão ou não, ficou a perceção de que quem
forçou o divórcio e a fratura da lista de 2013 em duas foi o BTF. Em segundo
lugar, a candidata da lista do PS soube tirar partido do suposto abandono em
que foi deixada pelos seus pares nos últimos tempos. Para a opinião pública, a
candidata apareceu como alguém que não abandonou o leme, mostrando tenacidade e
resistência no posto, honrando o compromisso assumido até ao fim. E em terceiro
lugar, o livro publicado em vésperas das eleições sobre a obra feita ao longo
dos últimos quatro anos, com descrições muito detalhadas sobre como foi gasto o
dinheiro pela Junta anterior, deverá ter
convencido muitos indecisos. Com 241 votos, o BTF alcançou, apesar de tudo, um
bom resultado. O registo ficou muito acima do alcançado pelo MIB (93 votos) e
ficou próximo da votação do PSD/CDS (280 votos) de há quatro anos. Porventura,
os seus promotores esperariam mais, almejariam a vitória, pois a campanha
correra de feição e a caravana fora bem recebida. Mas ao contrário de outras
freguesias onde o BTF surpreendeu com a vitória, o eleitorado de Palme é
tradicionalmente avesso à mudança. As coisas só mudaram em 2013 porque o
presidente da altura atingiu o limite de mandatos e se tinha chegado a uma
situação limite: ou se resgatava a freguesia do marasmo em que estava
mergulhada ou se deixava repousá-la definitivamente no fundo do poço em que
estava. E também em 2013 aqueles que tinham abandonado e reapareceram foram
penalizados pelos eleitores. Portanto, a história não é nova…
A campanha e as eleições já lá vão, a nova Junta entretanto
já tomou posse, mas as feridas causadas pela contenda vão demorar tempo a
sarar, se é que alguma vez vão cicatrizar, não sendo de excluir novo duelo
eleitoral daqui por quatro anos. Entretanto, é tempo de trabalhar: os
vencedores no cumprimento do exigente e extenso compromisso eleitoral; os
vencidos fazendo uma oposição séria, construtiva e responsável. É assim a
democracia. E como disse W. Churchill, o homem ainda não foi capaz de inventar
um melhor sistema de governação que este.
Resultados das autárquicas 2017 para a Assembleia de Freguesia de Palme
Resultados das autárquicas 2017 para as Assembleias de Freguesia do concelho de Barcelos
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