Muito antes da febre das Raspadinhas, do vício do Placard e
da excentricidade do Euromilhões, o jogo por excelência era o Totobola, porque
conciliava a paixão do futebol com a possibilidade de
obter prémios monetários. Para orientar os jogadores havia inclusivamente um programa de
televisão a meio da semana, o Vamos Jogar no Totobola. Era um programa de curta
duração mas de elevado interesse que discorria sobre um assunto, fosse ele de
natureza cultural, histórica, económica, etc. No final do programa, era apresentada uma chave dos resultados prováveis para a jornada seguinte. Nos jogos
mais equilibrados, o programa aconselhava o recurso às
apostas múltiplas, ou seja, à utilização de duplas e triplas. Com a tripla
acerta-se sempre no resultado, já com a dupla o resultado mais improvável poderá sempre acontecer e deitar tudo a perder.
Vem esta historinha do Totobola a propósito do desfecho das
eleições autárquicas 2017. Em Palme, a corrida
à Junta está renhida, como o comprova a campanha eleitoral que foi ainda mais
acesa do que há quatro anos. Aparentemente, a eleição será disputada entre a
atual presidente da Junta que concorre pelo PS e a lista independente MIBTF. Da luta que opõe elementos que estavam juntos há quatro anos, desconhece-se o desfecho, pelo se recomenda a utilização de uma dupla. Ao
longo da campanha, o braço de ferro entre as duas listas foi duro, mas ninguém
vacilou. Se uma lista apresentava uma lona publicitária com 5 metros, a outra
encomendava uma de 7 metros; se num determinado local surgia um cartaz, logo à
beira aparecia o concorrente; se uma lista dava camisolas, lápis e canetas,
logo a outra acrescentava à lista de brindes lenços, blocos de notas e estojos
com lápis de cor; se uma lista fazia 80 decibéis de ruído, a outra colocava o
som do altifalante no máximo e atingia os 100 decibéis; e assim por diante.
Houve algumas escaramuças, com snipers de cada uma das listas a mandar umas bojardas,
sem que tenham causado muita mossa. Acusações de deslealdades e abandono na
Junta cessante, suspeitas de que foram oferecidos víveres em troca de votos (já
em 2009 se disse que o PSD distribuiu carne de novilho por algumas casas na
noite antes da eleição), de que as pessoas prometem fazer uma política de
proximidade quando estão a milhares de km ou de que foram feitas obras e
intervenções no final para caçar votos. Verdade seja dita, nas últimas semanas
houve um significativo corrupio de pequenas intervenções. Por exemplo foram
colocadas placas nos fontanários a informar da potabilidade das águas e houve
uma grande intervenção ao nível da sinalética, com a colocação de um
significativo número de sinais novos. São tantos que até custa a acreditar como
foram colocados em tão pouco tempo! Infelizmente esta estratégia de empurrar as
obras para cima das eleições já tem barbas e basta dar uma volta pelas terras
vizinhas para se verificar que há um fervilhar anormal de obras. Ao contrário
destas duas listas, a coligação “Mais Barcelos” esteve muito apática: foi a
última a entrar em cena, colocou três ou quatro cartazes pequenos, distribuiu
uns panfletos, organizou uma mini-caravana que deu meia dúzia de apitadelas e
de afoutos, e pouco mais. Só no último dia de campanha deu um ar da sua graça. Falta saber se foi por estratégia deliberada, para recolher
dividendos com o espalhafato divisionista dos outros, ou se foi por manifesta
incapacidade e inércia da equipa. Ou ainda se simplesmente não estiveram para se
chatear!
Olhemos agora para as propostas. A lista independente MIBTF aposta
tudo na política de maior proximidade às pessoas e apresentou (ineditamente)
imagens dos projetos que pretende realizar: a ampliação da escola velha, a construção do
edifício de serviços no campo de futebol, da rotunda na balança e dos caminhos
que serão prioritariamente beneficiados. A imagem dos projetos (reais ou não)
sugerem que estão amadurecidos e que já estão planeados e que não são meras
ideias ou promessas vãs. Será mesmo assim? A lista do PS apresenta uma extensa
lista de objetivos, que vão desde a pavimentação do caminho de Bustelo até à
colocação de um piso sintético no campo. Mas haverá dinheiro e será um mandato
de quatro anos suficiente para cumprir tanta promessa? De realçar também o livro distribuído pela candidata dando conta de todas as obras feitas e respetivas despesas. Pena este extenso documento não ter sido publicado faseadamente, pelo menos anualmente. No manifesto da
coligação Mais Barcelos falam-se de necessidades reais (criação de uma
Associação Florestal), prometem-se viagens de avião a quem nunca andou (serão
só de ida?) mas também se dão autênticos tiros nos pés. Como é possível a
cabeça de lista da coligação falar da necessidade de se ultrapassar a
inatividade dos últimos quatro anos, quando ela pertenceu a uma Junta que, essa
sim, contam-se pelos dedos de uma mão o que fez! É pena na política andarem pessoas
com memória tão curta e com tanta falta de verticalidade. São atitudes destas
que descredibilizam por completo a política e as pessoas.
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