A pré-campanha para as autárquicas de 2017 já está aí! Faltam três
meses para as eleições e as rotundas, praças e recantos das estradas nacionais foram
tomadas de assalto com cartazes e outdoors a anunciar, em letras garrafais, os
candidatos à Câmara Municipal de Barcelos.
Os primeiros cartazes a aparecer foram os do
candidato Domingos Pereira. Depois de uma longa e fratricida luta com Costa
Gomes e de o partido lhe ter retirado o tapete, o antigo vice-presidente
decidiu avançar como candidato independente. O curioso é que em 2009 e em 2013, Costa Gomes
avançou como candidato independente, embora com o apoio do PS e só mais
recentemente se filiou no partido. Domingos Pereira, que era presidente da
Comissão Política Concelhia e integrou a lista de deputados do PS à Assembleia
da República, foi agora preterido pelo partido e teve que avançar como independente.
Apesar de muito curiosas, estas gincanas políticas são pouco dignificantes. Mas
isso é outro assunto. Esclarecido o apoio do partido ao atual presidente,
Domingos Pereira pôs a máquina no terreno, foi o primeiro a anunciar a sua
candidatura à Câmara, a apresentar a lista de membros da lista e a espalhar os
cartazes gigantes pelo concelho. E a disponibilizar o Website da candidatura. Lá diz o povo, candeia que vai à frente alumia
duas vezes! Sobre um fundo azul-acinzentado, para talvez não se confundir com o
azul do CDS, Domingos Pereira aparece informalmente descontraído e sem
gravata (para agradar ao eleitorado de esquerda?), a esboçar (forçar?) um
sorriso para os eleitores. O slogan escolhido pelo candidato, “Barcelos, Terra de
Futuro”, remete para o progresso, para o desenvolvimento, para a concretização
futura dos sonhos dos Barcelenses, presumindo-se com Domingos Pereira ao leme do
município. De forma espiralada, estilizada e desmesurada, as iniciais do
candidato (dp) surgem à
esquerda do cartaz, pintadas a vermelho e branco (terá motivações futebolísticas?). Sob o fundo azulado, a espiral das iniciais é reproduzida
em formato XL como que a definir o caminho para a terra de futuro. Fazem lembrar os braços em espiral que rodeiam os buracos negros, que se suspeitam conduzir a novos, mas desconhecidos universos...
O segundo candidato a entrar em campo foi o da coligação PSD/CDS-PP. Depois
de há quatro anos esta mesma coligação ter adotado o epíteto “Somos Barcelos”, à qual estiveram para ser interpostos processos judiciais, por se assumir como única força representativa dos Barcelences, este ano a
coligação escolheu o slogan “Mais Barcelos”. É sem dúvida um título feliz e
mais sonante, que apela a que seja feito “Mais” pela terra e pelas suas gentes.
À semelhança do cartaz de Domingos Pereira, o candidato surge à direita do
cartaz, a olhar diretamente para os transeuntes. O candidato aparece vestido de
fato e gravata azul como convém a um candidato conservador, mas parece excessivamente
maquilhado de Photoshop. Não obstante e apesar de ser bi-licenciado (em
educação física e direito), a expressão e os óculos de massa dão ao candidato
um indesmentível ar de contabilista ou de solicitador, sem desprimor para a classe
nem para o próprio obviamente. Apesar de tentar esboçar um sorriso, o candidato
apresenta um ar algo fatigado, cansado, como o de quem está a fazer um frete. Propositadamente
ou não, o cor laranja do PSD foi completamente banida do cartaz. O mesmo já não
se pode dizer das cores centristas, pois a cor do lettering é azul, a condizer com o fato e com a gravata. Estará o
candidato refém do CDS ou a piscar o olho aos setores mais à direita do
eleitorado? O fundo do cartaz é totalmente branco como que a evocar pureza,
virgindade de alguém que ainda não esteve na presidência, embora o candidato já
tenha desempenhado as funções de vice-presidente no consolado de Fernando Reis.
No cartaz não há qualquer slogan e todo o destaque vai para “Constantino”, que
aparece em letras garrafais e preenchido a cheio. Aqui talvez haja a tentativa
de uma dupla utilização de “Mais Barcelos” como nome da coligação e slogan. Por
último, o coração do galo de Barcelos aparece por cima do nome da coligação,
mas não tem qualquer ligação com o cartaz, parece um apêndice ou algo que caiu
ali completamente de paraquedas...
O presidente ainda em funções, talvez por ser a figura mais conhecida,
foi o último a entrar em cena. O que tem alguns custos, pois alguns dos locais
com melhor visibilidade já estavam ocupados pelos outros dois candidatos. Em parte isso explica a polémica que surgiu por causa dos cartazes, pois Costa Gomes veio acusar a candidatura de Mário Constantino de ter indevidamente colocado os seus cartazes em estruturas metálicas da Câmara Municipal, ameaçando removê-los. Nos cartazes e no material de campanha da
recandidatura de Costa Gomes, uma das principais reviravoltas é o slogan. Há
quatro anos, o já então presidente optou pela versão “Defender Barcelos”, que
foi replicada e readaptada nas diversas freguesias. Nessa altura, a candidatura
continuava a apostar numa postura defensiva, pretendendo dizer que as políticas
do passado não defenderam os interesses de Barcelos, numa clara alusão ao malogrado
contrato das águas. Agora a candidatura arrepiou caminho e adotou o caloroso “Paixão
por Barcelos”. É um slogan que apela aos sentidos, que mostra que a equipa está
ligada de corpo e alma e de forma intensa a Barcelos. Porém e apesar de arrebatadoras, as paixões são por vezes passageiras, um pouco à semelhança
do que sucede numa erupção vulcânica que explode com toda a sua violência
durante alguns dias ou semanas para logo depois se remeter a um prolongado
adormecimento. Obviamente não sabemos que tipo de paixão está aqui em causa,
mas para Costa Gomes, caso vença, esta não será muito duradoura, pois é a sua terceira e última recandidatura. No cartaz, as cores dominantes são o branco, o
vermelho e o azul. Apesar de ser candidato pelo PS (e o punho cerrado está lá bem
visível), o cor-de-rosa está ausente do cartaz (será por ser uma tonalidade pouco viril para um candidato que se preze?). O candidato surge à esquerda do cartaz, a olhar de frente, de
postura séria, como compete a um presidente recandidato e experiente. O vermelho,
cor quente e intensa, utilizado no cartaz, no lettering e na gravata do candidato reforça a
mensagem de paixão que se procura passar. O coração que alimenta essa
paixão está inteligentemente integrado no slogan, correspondendo à pinta do "I" da paixão. Mas talvez seja demasiado pequeno para alimentar uma paixão assim
tão desmedida pelo concelho.
Um destes três candidatos será inevitavelmente o próximo presidente da
Câmara Municipal de Barcelos e os outros dois, por mais ou menos tempo, serão
vereadores sem pelouro. Resta saber quem será o vencedor? O atual presidente, que se viu
envolvido em algumas polémicas, que ainda não cumpriu algumas das suas
promessas mais marcantes, que foi quase totalmente abandonado pelo seu
anterior elenco executivo, tendo governado a câmara apenas com uma vereadora ao longo dos últimos dois anos? Domingos Pereira, que se envolveu numa luta fratricida com
Costa Gomes, ao qual retirou a confiança política, com o objetivo de ser ele o
candidato do PS, mas que se viu obrigado a surgir como independente por falta
de apoio da Comissão Política Nacional e que goza do apoio das bases do partido? Ou Mário Constantino, a terceira ou
quarta escolha do PSD, que surgiu de uma dura e tortuosa discussão concelhia e
distrital, que aparentemente está a correr por fora, mas poderá beneficiar da fratura de
Gomes e Pereira? As eleições do dia 1 o dirão, mas a pré-campanha e todo o seu folclore já
estão aí, para dar a conhecer os candidatos, as suas ideias... ou a falta delas.
Cartaz do candidato Domingos Pereira
Cartaz do candidato Mário Constantino
Cartaz do candidato Costa Gomes
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