Ao
longo dos últimos anos, aconteceram diversas histórias em Palme que nunca foram
totalmente esclarecidas tendo, por isso, passado para o domínio dos mistérios
nunca desvendados. Vejamos alguns exemplos. Ao certo, nunca se soube quem
decepou as videiras do antigo presidente da Junta numa propriedade sua, no
lugar do Talho. O sumiço do dinheiro do cortejo, que era para recuperar a
residência paroquial, foi também algo muito nebuloso. Misterioso foi também o
autor do pasquim lançado na altura, onde se falava do suposto destino do
dinheiro. A identidade do poeta que fez uns versos em vésperas das últimas
eleições autárquicas, a respeito dos baldios que eram da freguesia e que foram
apropriados por particulares, com o consentimento das várias Juntas, também
nunca foi conhecida. Desconhecido é também o agricultor notívago que, nos
últimos dias, tem andado pela calada da noite, no Outeiro, a tirar as batatas à
do Couto. Como podem ver, não faltam histórias por esclarecer na freguesia. A
estas pode acrescentar-se o recente desaparecimento da máquina multibanco, a
respeito do qual correm várias teorias, que catapultaram o tema para o domínio
do fantasioso e do mistério insondável. Ou pelo menos, assim o fazem crer
alguns.
Um
dos primeiros rumores a circular foi o de que a máquina tinha sido roubada. O roubo
teria sido, naturalmente, praticado por alguém muito calejado no ofício, pois
não há quaisquer sinais de rebentamento do caixote de betão, nem de
estroncamento da fechadura. A não ser que a máquina tivesse sido escaqueirada à
martelada e retirada às peças pelo postigo. Mas não terá sido esse o caso, porque há testemunhas oculares que viram a máquina a ser retirada à luz do dia
por técnicos, supostamente por conta de uma empresa. E, então, entra aqui a
segunda teoria ao melhor estilo de Hollywood, que supõe que quem recolheu a
máquina não foi nenhuma empresa, mas sim um grupo de larápios profissionais.
Tal tese é sustentada no argumento de que não existem afinadores de máquinas
multibanco e de nunca se ter visto em lado nenhum uma máquina que tivesse sido
retirada para reparação (alguém já viu?!). Os defensores desta hipótese
acreditam que foi tudo uma manobra de diversão dos meliantes que, dessa forma, puderam
levar a máquina para casa, para poderem sacar o dinheiro nas calmas. Uma
terceira teoria em que alguns (poucos) acreditam foi a de que o desaparecimento
da máquina se deveu a fenómenos de origem sobrenatural. Só alguém de uma
civilização mais avançada ou dotado de poderes especiais era capaz de retirar a
máquina, deixando intacto aquele caixote maciço de betão armado…
Face
a estas teorias mais ou menos mirabolantes, a Junta teve necessidade de acalmar
os ânimos da população, dando justificações sobre o sucedido. Foi então tornado
público que a máquina avariou, porque apesar de estar carregada, não dava o
pilim a ninguém. Estava, portanto, com claros sintomas de sovinice. Como não
foi possível resolver o problema no local, a máquina teve que ser removida para
reparação em local apropriado. Esta é a justificação oficial do desaparecimento do multibanco. O problema é que a reparação está a demorar tanto tempo que
as pessoas começam a desesperar pela falta do multibanco, como se o equipamento estivesse
instalado na freguesia há muitos anos. Não é o caso pois, como deverão estar
recordados, a máquina foi colocada no final do verão do ano passado. Porém, este
descontentamento só vem demonstrar a importância e a falta que este equipamento
está a fazer.
A
demorada reposição do equipamento tem levado a que muitos já não acreditem no
regresso da máquina multibanco. Por isso, já se vão ouvindo propostas de usos
alternativos para o caixote de cimento que ali está e que até mete dó, com
aquele postigo escancarado e escuro, virado para quem passa na estrada. Alguns
admitem que o casebre tem todas as condições para funcionar como cortelho para
galinhas ou coelhos, faltando apenas colocar uma rede na janela, para evitar
que os animais cativos saltem para a via pública. Outros acreditam que podia
funcionar como uma luxuosa casota para um pastor alemão, de coleira eriçada com picos, que assim ficava a montar guarda ao edifício da Junta. Há também quem
proponha que a construção seja reconvertida numa guarita, com presença
permanente de um guarda de honra, munido de espada, para rondar a entrada da sede da Junta, numa marcha cadenciada para trás e para a
frente. Numa perspetiva mais comercial, já ouvi pessoas
que estarão interessadas em alugar o caixote à Junta para ali instalar pequenos
negócios, como um quiosque de venda de jornais ou uma lojinha de gelados. Nestes dois últimos casos até acho as ideias interessantes e com
pernas para andar...
Apesar
de tudo quero acreditar que estes cenários são do domínio da ficção e que a casota
não estará devoluta durante muito mais tempo, retomando a função para a qual
foi construída. No entanto, custa a compreender a demora de tal reparação.
Quero também acreditar que o problema residirá na (in)capacidade do banco em
resolver o problema. Quando alguma máquina não tem conserto ou o arranjo fica
muito caro, substitui-se por outra. Será que o Crédito Agrícola está tão mal
que não consegue reparar ou substituir a máquina? Há algum contrato que permita
acionar uma cláusula de incumprimento por um serviço não prestado? E se o
impasse continuar, não será melhor pensar num plano B? Esperemos que estas
dúvidas infundadas que por aí correm se dissipem para que, de facto, a questão
da máquina multibanco não vá engrossar o já vasto domínio dos mistérios
inexplicáveis que tem acontecido na freguesia.
PS a 10-06-2015: Uma semana depois de ter escrito este post, eis que a máquina multibanco regressou! Como é bom de ver, a publicação deste texto foi fundamental para que a máquina regressasse tão depressa. Espera-se é que agora venha para ficar definitivamente....
PS a 10-06-2015: Uma semana depois de ter escrito este post, eis que a máquina multibanco regressou! Como é bom de ver, a publicação deste texto foi fundamental para que a máquina regressasse tão depressa. Espera-se é que agora venha para ficar definitivamente....
Pois agora só falta regressar o médico. Acho que também devias escrever sobre isso
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