As autárquicas de 2013 ditaram uma mudança
de rumo em Palme. A dirigir os destinos da freguesia desde as eleições de 1979,
o PSD sofreu o segundo pior registo de sempre na freguesia. Foi uma derrota
merecida que apenas pecou por tardia, pois ao longo dos últimos mandatos pouco
ou nada foi feito pelo desenvolvimento da nossa terra. O mais inesperado, que
terá apanhado de surpresa os próprios membros da lista do PSD, foi o julgamento
lúcido que a população de Palme fez das candidaturas que se apresentaram. As
mentalidades, lenta mas inexoravelmente, estão a mudar. As pessoas começam a não
votar de cruz, já não há vitórias por antecipação e as eleições deixaram de ser
plebiscitos para se saber por quantos vai ganhar o partido do costume. E ainda
bem que é assim. Em qualquer atividade profissional, as pessoas que não mostram
trabalho, que são incompetentes ou calaceiras são colocadas no olho da rua. Por
que razão numa Junta de Freguesia não teria que ser assim?! Felizmente não
vivemos em nenhum regime monárquico, onde os soberanos se perpetuam no poder
até morrer, independentemente das suas qualidades e sanidade mental. O tempo do
partido único, por muito que custe a alguns saudosistas, foi sepultado com o
anterior regime e consta que já nem ossos tem. Mas em Palme viveu-se assim ao
longo destas últimas décadas. O símbolo do PSD foi idolatrado com uma devoção
quase religiosa, os seus dirigentes locais foram vistos como figuras paternais,
que defendiam a manutenção de uma certa cultura de raiz popular na freguesia.
Estas ideias cimentaram-se e Palme transformou-se num bastião laranja, onde
todos aqueles que defendessem ideias ou projetos diferentes eram logo
vilipendiados, marginalizados e rotulados de revolucionários, que mais não
queriam que atentar contra os bons costumes da terra. Ui, corriam logo com o
padre a toque de caixa, confiscavam a conta da fabriqueira, desbaratavam os
bens da freguesia, incentivavam práticas de vida dissolutas, etc., etc.* Deus
nos livre! Era só o que faltava! Com pensamentos semelhantes e, mais por fanatismo do que por
convicção, muitos dos simpatizantes do PSD local teimaram em não dar o braço a
torcer, preferindo que a freguesia continuasse imobilizada no tempo, a ter que
dar a oportunidade a outros para arrepiar caminho. Então como foi possível a
mudança ocorrida nas eleições da semana passada?
Por um conjunto de circunstâncias em que
houve demérito dos derrotados, mas também habilidade dos vencedores. O PSD
apresentou-se perante os cidadãos com uma mão cheia de nada, com um rol de
promessas por cumprir, sem obra e sem esperança, com um candidato beliscado por
ter abandonado o anterior mandato, à frente de uma equipa numerosa, mas
demasiado verde. A zanga das comadres ocorrida durante o anterior mandato abriu
brechas profundas entre as hostes laranjas, gerando divisões e deserções. A
suposta lista independente do MIB teve um papel decisivo no desfecho das
orientações de voto. Há muito que era conhecida a simpatia do presidente da
Junta pela candidatura de Manuel Marinho à Câmara. Porém, a criação de uma lista
do MIB para a Assembleia de Freguesia, com pessoas muito próximas do presidente
da Junta cessante, pretendeu ir mais além do que apoiar a candidatura de
Marinho. Visou, acima de tudo, cortar as pernas ao candidato do PSD e evitar a
sua eleição. O empenho colocado pela equipa do MIB nos últimos dias de campanha
demonstra bem que, embora estando a correr por fora, tinha um objetivo bem determinado.
E, em parte, conseguiu-o. No meio desta Guerra das Laranjas (com consequências
menos trágicas do que o conflito ocorrido com esse nome no século XIX), a lista
do PS aplicou-se a fundo na campanha e colheu os frutos da desordem e da total
estagnação em que a freguesia está mergulhada. Mantendo o núcleo duro da equipa
de 2009, a lista do PS foi capaz, num primeiro momento, de mobilizar um número
muito maior de apoiantes para as suas fileiras e, depois, de captar a simpatia
de muitos descontentes com a situação vivida em Palme. A sua tarefa foi
facilitada luta fratricida entre as duas fações laranjas, mas também pela
campanha persistente e contundente que a lista fez e pelas propostas que
apresentou, algumas das quais foram, inclusivamente, copiadas pelos
adversários. É um compromisso eleitoral que responde às necessidades mais
prementes da freguesia e que propõe realizar, em 4 anos, muito do que deveria
ter sido feito ao longo dos últimos 8 ou 12 anos. Resta saber se haverá verbas
e motivação para as levar por diante...
De resto, a campanha eleitoral decorreu de
forma normal, tirando alguns incidentes levados a cabo por alguns dementes, que
tiveram atitudes insolentes e línguas maldizentes. A campanha foi ruidosa e
melodiosa (e a música do MIB fastidiosa), fértil em prendas sem reprimendas (só
faltaram as merendas!), com muitas camisolas sem golas (alguns ficaram com
tantas que encheram várias caixolas), com muitas canetas, incluindo para os
manetas (?!), com bonés aos pontapés, com tantas réguas que se viam a léguas, com
lápis de cera com aroma a pera e com tanta papelada, que até punha a gente
desmiolada e a andar à estalada.
Passemos, por fim, aos
números das eleições. A lista do PS arrecadou 358 votos, tendo conseguido mais
78 votos que a lista do PSD. O MIB mereceu a confiança de 93 eleitores. Em
termos percentuais, o PS obteve 47,8% dos votos, o PSD 37,4% e o MIB 12,4%. Em
relação às eleições de 2009, o PS aumentou em 2,85 p.p. (pontos percentuais) a
sua votação, enquanto o PSD assistiu a uma forte redução da votação (-16 p.p.).
No histórico das autárquicas, o PS conseguiu o segundo melhor resultado de
sempre (nas primeiras eleições, em 1976, teve 50% dos votos), enquanto o PSD só
nessas eleições teve um resultado pior (34,4%). Em termos de composição da
Assembleia de Freguesia, o PS e o PSD elegeram três representantes cada um e o
MIB elegeu um elemento. Isto significa que o PS não tem maioria na Assembleia
de Freguesia, o que poderá levar à realização de acordos/alianças com as outras
forças.
* por mais disparatadas e despropositadas
que pareçam estas ideias, no dia 30 de Setembro já andavam a circular, nos meios
mais restritos da coscuvilhice, rumores de idêntico teor. Que pobreza de espírito…
Resultados da eleição para a Assembleia de Freguesia de Palme
Resultados da eleição em Palme para a Câmara Municipal de Barcelos
Resultados da eleição em Palme para a Assembleia Municipal de Barcelos
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