Salvo raras excepções, a experiência tem demonstrado que as remodelações de órgãos governativos ocorrem normalmente quando se verifica, pelo menos, uma das seguintes situações: quando surgem conflitos/atritos entre os dirigentes em relação às políticas/estratégias a seguir; quando a prestação de um desses governantes fica aquém do esperado ou está sujeito a forte desgaste público; quando os dirigentes se vêem envolvidos em questões de natureza criminal/ética (situação onde a culpa, normalmente, morre solteira); ou ainda quando é necessário arranjar bodes expiatórios pelos erros cometidos, em autênticas acções de renovação e de limpeza, com claros objectivos de marketing político; e quando as mudanças estão subjacentes a ambições pessoais de ascensão na carreira.
Os exemplos para cada uma destas situações são abundantes, embora muitas vezes se procure passar a ideia de que a saída deste ou daquele governante se ficou a dever a questões de natureza pessoal ou profissional. No caso da primeira das situações referidas, um dos melhores exemplos foi a saída do ministro das finanças no primeiro governo Sócrates, quatro meses após ter tomado posse, ao que parece por discordar dos avultados investimentos nos projectos de obras públicas então delineados pelo Governo. Na segunda situação, basta referir os casos do ministro Correia de Campos que não concluiu o mandato devido à impopularidade das medidas e à erosão pública a que estava sujeito ou ainda à passagem efémera de Fernando Gomes pelo XIV Governo, onde saltitou sem sucesso entre dois ministérios, tendo sido exonerado ao fim de um ano da tomada de posse. Na terceira situação, infelizmente, há muito pano para mangas: nuns casos é o próprio visado que tem a humildade de se demitir para o apuramento dos factos (como sucedeu com António Vitorino, que viu provada a sua inocência); mas a maior parte, comporta-se como alguns gastrópodes, agarrando-se firmemente aos lugares, só saindo quando as provas comprometedoras são por demais evidentes (aqui inclui-se um sem número de autarcas que, para gáudio de muitos admiradores e por ineficácia da justiça, têm o atrevimento de se recandidatar mais tarde). Nesta categoria incluem-se ainda alguns kamikazes que, por afirmações ou comportamentos infelizes, são obrigados a demitir-se (basta pensar nas consequências que os chifrezinhos do Manuel Pinho tiveram). Nas remodelações com o objectivo de refrescar o Governo, assiste-se frequentemente a autênticas danças de cadeiras, onde os responsáveis acabam por assumir pastas completamente diferentes daquelas que desempenhavam, numa prova irrefutável de que estes políticos são pau para toda a obra (ainda que os resultados práticos da sua actuação não comprovem os seus pergaminhos). Nos Governos do Guterres e do Durão Barroso houve vários exemplos destas operações. E depois há ainda aqueles que saem por ambições pessoais, numa lógica de progressão na carreira. O Durão Barroso nem pensou duas vezes quando lhe acenaram de Bruxelas, tendo deixado o país num grande imbróglio a meio do mandato para o qual tinha sido eleito. Há também os casos dos autarcas que aproveitam a sua influência política para serem promovidos a secretários de estado ou a ministros (Narciso Miranda, Fernando Gomes, Isaltino Morais, etc.) ou a deputados europeus, como o anterior presidente da Câmara de Barcelos, que não se deu bem com os ares de Estrasburgo e regressou à base, qual filho pródigo! Portanto, há remodelações para todos os gostos e feitios, estando quase sempre subjacentes a fricções de interesses, ao mau desempenho prestado e/ou a ambições pessoais.
Ao nível das juntas de freguesia as remodelações são menos mediáticas, pois têm um impacto que se restringe à respectiva escala local. A lei estipula que, no caso de impedimento ou de renúncia de algum dos elementos da junta, o lugar vago seja preenchido pelos elementos seguintes da lista mais votada para a Assembleia de Freguesia. É por esta razão que a existência de eleições intercalares para as juntas de freguesia são raras. Já as remodelações são mais frequentes, tal como sucedeu recentemente em Palme, com as substituições dos lugares de Secretário e de Tesoureiro.
Como já foi dito num post anterior, o processo que envolveu as últimas eleições não foi pacífico, mesmo entre os indefectíveis do PSD, alguns dos quais votaram na lista adversária por não se reverem na do PSD, houve episódios obscuros que envolveram a distribuição de víveres de origem animal, altercações no adro da igreja, comentários indecorosos, ofensas nas redes sociais, etc. Agora, a meio do mandato, dois dos elementos da Junta bateram com a porta. Neste caso, fala-se também de motivos pessoais, mas as verdadeiras razões deverão envolver desentendimentos e atritos com o presidente que, por regra, levam sempre à saída dos elos mais fracos. O speaker da caravana da noite eleitoral é que tinha razão quando, efusivamente e com a voz toldada pelo champagne da vitória, profetizou alto e bom som: “Arlindo Vila Chã - não há nada que resista!...”. É que nem os próprios correlegionários mais próximos resistiram e saíram! A boa nova é que agora temos uma mulher na Junta e outra na presidência da Assembleia, o que para uma freguesia de características tão conservadoras, é digno de registo e sinal de que as coisas estão a evoluir. Para elas, votos de boa sorte, de bom trabalho…e de boa capacidade de resistência!
Como palmense a viver há mais de 30 anos na região oeste, onde exerço funções docentes, mais precisamnete nas Caldas da Rainha, não posso deixar de te felicitar pelos deliciosos nacos de prosa que tão boa disposição me causaram. Tens um enorme poder para efabular e uma expressão irrepreensível. Parabéns!
ResponderEliminarO tom jocoso com que escreves induz o leitor a não perder pitada da tua prosa. Continuarei atento aos teus artigos que deveriam ser objeto de publicação na imprensa local (Barcelos Popular, por exemplo). No entanto, também compreendo que jogues à defesa face às mentalidades ainda demasiado conservadores das gentes de Palme que eu tão bem conheço, apesar das pontuais idas â MINHA TERRA.
Um abraço.
Carlos Alberto de Sá e Silva