Palme é uma terra onde ainda se podem encontrar belos
recantos naturais, paisagens quase imaculadas, onde se podem fruir uns bons
momentos de paz e sossego. Há poucos mas ainda há alguns destes locais. Pena é
(e por outro lado ainda bem) que a natureza esteja tão inexplorada e seja tão
pouco conhecida, mesmo por parte daqueles que sempre moraram na freguesia. E
ainda bem porque, como é sabido, a pressão e a procura podem pôr em risco o
equilíbrio destes locais, com o consequente risco de estes tesouros se perderem
para sempre. Mas já se vão fazendo algumas atividades. Umas mais amigas do
ambiente do que outras. Ainda no sábado passado tivemos uma prova de motocross
que, verdade seja dita, só deve trazer alguns benefícios para os cafés da
freguesia, que faturam bem em Martini e cerveja. Porque do resto estamos
conversados. Uma barulheira infernal que dura o dia todo, os caminhos, que já
estão maus, ainda ficam piores, repletos de sulcos e todos escarafunchados,
lama projetada para muros e paredes de casas, perturbação do meio ambiente.
Tudo a troco de queimar borracha e dar gás. Obviamente, a prática não é nada
sustentável, é agressiva para o ambiente e para as pessoas (que até correm o
risco de serem colhidas pelos motoqueiros alucinados) e é de gosto duvidável.
Mas aceita-se claro está. Nada que se compare a uma caminhada ou a um passeio
de bicicleta. Foi precisamente na sequência de um destes passeios que surgiu a inspiração
para o post deste mês.
No fundo da agra (devia-se dizer arga, mas pronto), no limite
entre Palme e Aldreu, podem ser encontrados alguns dos locais acima descritos.
Paisagens verdes, mancha florestal com pinheiros e carvalhos, ribeiros
bordejados por amieiros e salgueiros, corvos, garças e guarda-rios entre outras
aves, tudo tão idílico que até agradaria ao Rousseau. Mas eis senão quando, no
meio de uma mata relativamente aparada, surge inesperada e insolitamente um
montão de garrafas. Várias dezenas de garrafas foram ali despejadas, umas
estilhaçadas, muitas ainda intactas. Pela forma como estão empilhadas, adivinha-se
que foram para ali transportadas num reboque e basculadas diretamente na mata.
E, pasme-se, muitas das garrafas estão cheias e arrolhadas, tendo no interior
vinho tinto (verde? morangueiro?). Correm por aí várias teorias para explicar o
estranho caso das garrafas abandonadas no monte:
1ª) O vinho foi deitado fora porque está martelado e o
vitivinicultor não o conseguiu impingir aos seus fregueses. É uma mistela pior
que o Paizinho ou o Bago Cheio. Para não ter que estar a despejar garrafa a
garrafa, o vitivinicultor carregou tudo para o trator e largou as garrafas no
monte.
2ª) O vinho foi deitado fora por razões de saúde. Na casa do
vitivinicultor havia bebedeira, barulhos e porrada todos os dias. A mulher,
aproveitando a ida do marido ao médico por causa do fígado inchado, carregou as
garrafas para o reboque e despejou-as num local incógnito.
3ª) O vinho foi deitado fora por engano. O vitivinicultor
andava a arrumar a adega e, no meio do entulho, deitou fora as garrafas a pensar
que eram latas de salsichas vazias. Falta dizer que o vitivinicultor estava
embriagado e quando deu pela falta das garrafas achou que foi roubado.
4ª) O vinho foi deitado fora por vingança. O vitivinicultor
andava às turras com um vizinho por causa de um silvedo à volta da casa. O
vitivinicultor não limpou o terreno, o vizinho chamou a GNR, o vitivinicultor
levou uma pranchada e, por retaliação, fez da bouça do vizinho um aterro.
5ª) O vinho está num processo de envelhecimento ao ar livre.
O vitivinicultor, por falta de espaço na adega, decidiu deixar o vinho a
envelhecer na mata para adquiri um final de boca a pinheiro bravo, urzes e
gilbardeira (o famoso vinho com ”piquinho”).
6ª) As garrafas amontoadas são uma ratoeira. O
vitivinicultor é um psicopata foragido da Casa Amarela e está camuflado no meio
da bouça, à espera que surja a primeira presa apreciadora do néctar. Logo que
amarre numa garrafa, a presa será abatida sem dó nem piedade pelo
vitivinicultor.
É evidente que muitas destas teorias não colhem e algumas
delas são até mirabolantes!...Mas agora a sério, como é possível alguém ser
capaz de despejar no meio da floresta dezenas e dezenas de garrafas? O que têm
estas pessoas na cabeça? Para que servem os vidrões que estão espalhadas pelas
freguesias? E as pessoas não sabem que o vidro não se degrada e nunca mais
desaparece? E que o vidro representa um perigo? E que uma garrafa velha
reciclada dá origem a uma nova garrafa? E que estes mentecaptos estão sujeitos
a levarem uma coima? Não se consegue perceber.
Portanto fica aqui o desafio: há garrafas de vinho à borla
no fundo da agra, quem estiver interessado pode passar por lá para as recolher.
Se se confirmar a teoria 1 e o vinho for uma zurrapa, não faz mal, ao recolher
as garrafas está a limpar a floresta. Caso contrário, o problema poderá ser resolvido
de forma institucional. As Juntas ou as associações de Palme ou de Aldreu podem
promover uma iniciativa para ir ao local, recolher as garrafas e deitá-las no
vidrão. Seria uma obra de misericórdia natural e uma bofetada de luva branca a
quem ali as deitou. Um bom ano a todos!
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