Neste post proponho um quebra-cabeças para entreter os meus
ilustres leitores de Palme e arredores e que vem a propósito do tema quente do passado mês de Agosto: a queda do BES. A charada é a seguinte: na imagem em
baixo surgem três cavalheiros, que se destacaram pela forma virtuosa como conduziram
três bancos à falência. É um
currículo de que poucos se podem gabar, sobretudo porque as maroscas e os
desfalques foram feitos debaixo das barbas das entidades reguladoras, dos
órgãos supervisores e até, num dos casos, do olhar cirúrgico da Troika! Estes
cavalheiros, que apresentam o ar mais angelical do mundo (veja-se como Ricardo
Salgado citou abundantemente o papa Francisco numa recente entrevista a um
jornal), são verdadeiros mestres na arte da dissimulação, tendo engendrado
esquemas por onde desapareceram montantes que escapam à compreensão do cidadão
comum. E as teias foram de tal forma bem urdidas que não é fácil à justiça
perceber como foi possível desbaratar tão avultadas somas, nem qual é
o seu paradeiro. O resultado saldou-se em grandes perdas para os investidores
e num pesado fardo para os contribuintes, que
não tiveram culpa nenhuma da forma danosa e criminosa como estes bancos (BPP,
BPN e BES) foram geridos. O desafio que lanço é o de tentarem descobrir qual das
seguintes 10 opções relacionadas com os cavalheiros em causa está correta (no final do post apresenta-se a solução do problema).
Opção 1: São três devotos de S. Dimas
Há provas concludentes de que todos eles são devotos de S.
Dimas: João Rendeiro guardava um calendário do santinho na carteira; Oliveira e
Costa tinha uma litografia do santo sobre a sua mesa de trabalho; Ricardo
Salgado, o mais fervoroso devoto dos três, mandou até erigir uma capela em
honra de S. Dimas na sua residência, na Quinta da Armada onde, diariamente e
prostrado de joelhos, pedia a proteção do santo para as suas negociatas. Ora
como os três bancos faliram, das duas uma: ou as preces dos ex-banqueiros não
foram suficientes ou o santo não foi em conversas fiadas…
Opção 2: São os três novos heróis do conto “Ali Babá e os 40
ladrões”
Na reedição deste famoso conto, o enredo da história
passa-se em Portugal. Ali Babá descobre um tesouro nos pisos subterrâneos do
BES, na Avenida da Liberdade, que supõe resultar dos desfalques e dos
branqueamentos de capitais perpetrados pelos três ex-banqueiros com a ajuda de mais
37 compinchas amigos do alheio. De entre eles contam-se personagens como Dias
Loureiro, Duarte Lima, Arlindo de Carvalho, Vítor Raposo, Luís Caprichoso, José
Mascarenhas, entre outros. Ao contrário do conto original, onde Ali Babá
resolveu roubar os ladrões, nesta nova versão decidiu denunciar os meliantes à
justiça. Os ex-banqueiros acabaram por montar uma cilada a Ali Babá, que é
liquidado com três tiros num descampado (o homem do gatilho foi Duarte Lima),
enquanto a justiça perde-se num emaranhado de pistas sobre a origem do tesouro.
Um best seller à venda em qualquer livraria do país.
Opção 3: São os três novos atores do filme “Tudo bons
rapazes 2”
Martin Scorsese dá continuidade à saga iniciada na década de
1990, com um novo elenco e com o filme a ser rodado em Lisboa. Ricardo Salgado reencarna
a personagem de Robert de Niro, Oliveira e Costa faz de Ray Liotta e João
Rendeiro de Joe Pesci. Neste novo filme não há assaltos a camiões nem roubos em aviões, mas a ascensão dos gangsters à custa de
trapaças, negócios obscuros, falsificações de documentos, fugas aos impostos,
branqueamentos de capitais, investimentos com informações privilegiadas,
subornos, jogos de influência, deslealdades e traições, tendo como pano de
fundo requintados palacetes, carros superdesportivos, iates e prostitutas de
luxo. Um retrato do submundo da alta finança portuguesa deste início de século,
sem paralelo desde o famoso Alves dos Reis. Filme muito apregoado pela crítica,
encontra-se já nomeado para os Óscares nas categorias de melhor ator (Ricardo
Salgado), melhor argumento e melhores efeitos especiais.
Opção 4: São três futuros consultores da Goldman Sachs
Com a interdição decretada pelo Banco de Portugal de
exercerem cargos de administração bancária durante os próximos 10 anos, os três
ex-banqueiros concorreram e foram admitidos para consultores na Goldman Sachs
pelo seu mérito curricular. É com quadros com estas qualificações que o banco
de investimento continua a ser o mais lucrativo e o mais influente do mundo. Seguirão, desta forma, as pegadas de outros conterrâneos portugueses que por lá trabalham ou já fizeram carreira, como Luís Arnaut, Moreira Rato, Carlos Moedas, entre outros destacados políticos e homens de negócios.
Opção 5: São os fundadores do grupo “Trio Ó-desvia”
Opção 5: São os fundadores do grupo “Trio Ó-desvia”
É uma faceta que poucos conhecem, mas os três ex-banqueiros
têm queda para a música e fundaram o primeiro grupo de fado em Portugal. O
vocalista do grupo é Oliveira e Costa, que invariavelmente se apresenta ao
público de capa negra traçada, óculos fumados e mão no peito para dar mais
sentimento à letra que sai na sua voz quente e húmida. Acompanham-no Ricardo
Salgado à guitarra portuguesa e João Rendeiro à viola. Temas como “Ó lorpas da
minha terra”, “Povo que lavas na Suíça” e “Milhões em Cabo Verde e Singapura”
permitiram ao grupo alcançar rapidamente o estrelato da fama.
Opção 6: Foram membros da Junta de Freguesia de Gatunões
No início das suas carreiras profissionais, os três
ex-banqueiros fizeram parte do executivo da Junta de Gatunões. Já na altura a
formação da Junta foi complicada, pois os três queriam ser os tesoureiros,
tendo sido por sorteio que se achou o presidente (Ricardo Salgado) e o
secretário (João Rendeiro). Ficou célebre a promessa de construir uma piscina
olímpica na freguesia. O projeto foi financiado em 2 milhões de Euros, mas o
dinheiro ficou retido (nunca se soube o motivo) num banco do Panamá, pelo que
apenas se fizeram umas terraplanagens no local. Ao fim de 4 anos e com dívidas de
35 milhões de Euros, a freguesia de Gatunões foi extinta, tendo os seus ativos
tóxicos sido assumidos pelo Estado e os ativos bons passado para a vizinha
freguesia de Finórios (onde residem muitos angolanos).
Opção 7: São os três titulares de vistos de residência nas
ilhas Caimão
Recentemente descobriu-se que os três ex-banqueiros têm
vistos de residência permanente nas ilhas Caimão. Ao contrário de Portugal,
onde apenas são necessários 500 mil Euros para um estrangeiro obter um visto,
nas ilhas Caimão o título pressupõe um investimento 30 vezes superior (15
milhões de Euros). Há várias teorias para explicar como foi possível aos três
banqueiros amealhar tão gorda maquia. Diz-se que o património de João Rendeiro
foi herdado de uma tia solteirona; que o Oliveira e Costa fazia muitas horas
extras no BPN, que eram remuneradas a dobrar; e que Ricardo Salgado comprou o
visto com o presente de 14 milhões de Euros (uma bagatela) que lhe foi
oferecido pelo construtor José Guilherme.
Opção 8: São três cepos a matemática
O mau desempenho dos três ex-banqueiros a matemática já vem
dos tempos da escola primária, altura em que foram colegas de carteira. A
Prof.ª Manuela bem se esforçava:
- Ricardinho, quantos são 7x8?
- São 63 senhora professora.
- Burro! São 56, emendava a professora, depois de lhe mandar
duas canadas à tola. – Assim nunca vais ser como o teu pai…
- Zezinho, qual é a raiz quadrada de 4?
- Eu não conheço essa planta senhora professora!
- És mesmo um calhau, é 2! Já para o castigo, dizia-lhe a
professora depois de colocar umas orelhas de burro em Oliveira e Costa .
Apesar dos chumbos a matemática, os três lá foram passando
com muita água benta e com a graxa das famílias. Por isso, não é de estranhar
que tenham feito uma gestão ruinosa das instituições por onde passaram.
Opção 9: Fazem parte da Associação Internacional de Ilusionistas
O gosto pela magia é comum aos três ex-banqueiros que, já em
crianças, admiravam o Mandrake. Mais tarde frequentaram conceituados cursos de
magia, ministrados por David Copperfield e Lance Burton, foram colegas do Luís
de Matos e especializaram-se em truques de sumiço. Depois colocaram em prática as
noções adquiridas com a suspeita de o fazerem em proveito próprio. Assim,
enquanto o Luís de Matos tira moedas de orelhas de pessoas atónitas ou se
dedica à meritória tarefa de transformar pedacinhos de uma nota de 5€ em 10€,
os três ex-banqueiros dedicaram-se à inquietante prática de fazer desaparecer
centenas de milhões de Euros. Assim mesmo, às claras e à frente de todos, sem
que ninguém perceba como e para onde foi o guito. Simplesmente esfuma-se,
evapora-se, volatiliza-se, perde-se para todo o sempre. O Estado
(contribuintes) é que pagam a fatura de repor o desviado. No BPP, a fatura foi
de 800 milhões de Euros; no BPN já vai em 2,2 mil milhões; no BES é uma
incógnita, mas há quem assegure que poderá ser muito mais. Só no BES Angola sumiram
5,7 mil milhões de Euros (não foram 5 milhões, foram 5,7 mil milhões, um camião
de dinheiro que sumiu num estalar de dedos). São ou não são grandes
ilusionistas?!
Opção 10: São os três inocentes do que são suspeitos/acusados
Tudo o que se diz por aí a respeito destes três cavalheiros
é uma ignomínia, eles foram alvo de uma cabala por serem poderosos, foram
saneados pelos poderes políticos, são os bodes expiatórios das falhas do
sistema financeiro e da má supervisão. Estão todos na penúria, são pessoas
honestas que têm vivido do seu soldo, tomaram as suas decisões com a convicção
de que eram as mais adequadas, foram cumpridores das leis, se as coisas deram
para o torto foi por causa da desgraça em que o país se encontra, se as pessoas
pagassem os créditos contraídos, nada disto teria sucedido. Têm a imagem
estraçalhada, a vida familiar destruída (veja-se os Espírito Santo que andam às
turras uns com os outros), a sanidade mental comprometida, o futuro hipotecado
num mar turbulento, onde vão gastar rios de dinheiro com advogados, processos e
recursos. Se ainda ao menos a justiça funcionasse? Mas a justiça é lenta e tem
os olhos vendados, como poderá ver que são os três inocentes?
Nota final:
Recentemente soube-se que estas três individualidades
financiaram a campanha eleitoral de 2006 do atual Presidente da República com grossos donativos financeiros, pelo que se conclui que este seria o
presidente que mais convinha aos três ex-banqueiros. É sem dúvida mais uma notícia
incómoda para o senhor presidente, pois três dos maiores financiadores da sua
campanha andam a braços com a justiça e/ou já foram condenados por desfalques
volumosos e por diversas habilidades financeiras...
Em jeito de conclusão lembra-me citar aqui Fernando Pessoa a respeito de um dos protagonistas (Ricardo Salgado) desta trágica história para o país:
Em jeito de conclusão lembra-me citar aqui Fernando Pessoa a respeito de um dos protagonistas (Ricardo Salgado) desta trágica história para o país:
Ó mar Salgado, quanto
do teu sal
são
lágrimas de Portugal!
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